Não há dúvida que ele faz lembrar um crocodilo ou um jacaré. Com cerca de 1,40 metro de comprimento e focinho e corpo alongados, essa espécie de réptil pré-histórico andava sobre as quatro patas. Mas os paleontólogos brasileiros afirmam que o fóssil do animal descoberto em um sítio no município de Agudo, na região central do Rio Grande do Sul, em junho deste ano, faz parte de uma linhagem de répteis extinta durante o início da Era Mesozoica, ou seja, não deixaram descendentes.
Todavia, ele é, com toda certeza, uma nova espécie, que acaba de ser descrita pela ciência, através da publicação de um artigo científico. Batizado de Stenoscelida aurantiacus, seu nome faz referência à sua perna delgada (o primeiro termo em grego) e a coloração alaranjada dos leitos de rios onde ele foi encontrado – aurantiacus significa “laranja”, em latim.
Segundo os pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), responsáveis pela análise do fóssil, essa espécie de réptil teria vivido há 230 milhões de anos, mesma época em que os dinossauros ainda existiam na Terra. A constatação foi feita através das rochas em seu entorno, que datam desse período.
A descrição da nova espécie foi feita a partir de uma perna completa, assim como estruturas que a ligavam ao pé. Apesar de não ter restados dentes no fóssil, os especialistas acreditam que ele era carnívoro. Além disso, devia habitar áreas próximos de corpos d’águas, assim como os jacarés dos dias de hoje.
O fóssil do Stenoscelida aurantiacus está em exposição no Centro de Apoio à
Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia
(Foto: divulgação/Rodrigo Temp Müller)
A região conhecida como Geoparque Quarta Colônia, que inclui nove municípios gaúchos, entre eles, Agudo, tem se destacado nas últimas décadas por abrigar uma quantidade enorme de fósseis de origem animal e vegetal.
Os fósseis encontrados nesta parte do Rio Grande do Sul são do Período Triássico (entre 251 e 199 milhões de anos atrás), quando vários grupos de organismos terrestres surgiram, por isso sua grande importância científica.
Entretanto, até agora, poucos remanescentes de répteis tinham sido escavados.
Em setembro, outro achado originário dessa mesma área ganhou as manchetes mundiais. Um fóssil de 225 milhões de anos, o Brasilodon, foi apontado como sendo o mamífero mais antigo do planeta (leia mais aqui).
A ilustração acima mostra a perna (em branco), a parte do corpo do fóssil que foi descoberta
(Imagem esqueleto Maurício S. Garcia e reconstrução Matheus Fernandes)
*Com informações adicionais dos sites GZH e Phys.org
Leia também:
Fóssil de 225 milhões de anos, descoberto no Brasil, pode ser do mais antigo mamífero do planeta
Nova espécie de dinossauro descoberta no Brasil é a primeira de um ceratossauro, sem dentes, da América do Sul
Paleontólogos descobrem que maior tubarão que já existiu no planeta conseguia comer uma presa do tamanho de uma orca
Ilustração de abertura: Matheus Fernandes / Divulgação