Quando os líderes e representantes de 193 países chegarem à sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, para participar da Semana de Alto Nível da 77ª. Assembleia Geral – realizada de 20 a 26 de setembro -, serão recepcionados por um mural belíssimo, de 336 m2 (24 m de comprimento por 14 m de altura), pintado pelo artista brasileiro Eduardo Kobra na fachada do edifício, na esquina da E 42nd Street com a 1St Avenue (veja o local neste link).
A obra, que ainda não tem nome, retrata um pai feliz entregando a Terra linda e saudável para a filha, também feliz, e nos convida à reflexão sobre o futuro. Ela foi provada pelo Comitê de Artes da instituição por estar “alinhada com os ideais das Nações Unidas”, como paz, tolerância, diversidade, preservação, crise climática, refugiados e direitos humanos, que norteiam a trajetória do artista.
O convite para produzir este mural foi feito quando a Missão do Brasil na ONU propôs ao artista marcar a celebração do Bicentenário da Independência do Brasil com uma exposição no hall do edifício (como contei aqui). De 25 de agosto a 9 de setembro, foram exibidas 11 obras selecionadas pelo artista, que ficaram restritas aos funcionários da organização, ao contrário do novo mural.
Em entrevista ao site da ONU, o artista revelou que, mostrar sua arte na ONU, era um sonho: “Eu sonhei com isso, mas não imaginei que pudesse, um dia, realmente acontecer”.
No Instagram, ele contou mais com um vídeo inspirador gravado em frente à ONU, quando recebeu autorização para pintar o mural:
“Há mais ou menos 4 ou 5 anos, eu caminhava por aqui, quando vi aquela parede, uma parede incrível na fachada do prédio da ONU, aqui em Nova York, E disse, pra mim mesmo, que gostaria muito de pintar essa parede, mas pensei que isso só poderia acontecer se fosse um milagre, um convite de Deus. E hoje eu recebi a notícia de que toda a documentação foi aprovada pela ONU e daqui uns dias iniciamos o trabalho. Então, eu tô aqui pra dizer pra vocês que vale acreditar, ter fé, ter preseverança e fazer o que é certo que as coisas acontecem”. E como! Olha só como ficou lindo!
O futuro é agora!
Inaugurado hoje, 16/9, pela manhã, o novo mural de Kobra coincide com a primeira Assembleia Geral totalmente presencial desde o início da pandemia da covid-19, que vai discutir questões como a reconstrução pós-covid, a Guerra na Ucrânia, desenvolvimento sustentável e direitos humanos.
“Após receber o convite, pesquisei o tema do encontro – Um Momento Divisor De Águas: Soluções Transformadoras Para Desafios Interligados – e vi que convergia para os assuntos que cada vez mais fazem parte do meu trabalho, especialmente a sustentabilidade. Por isso, pensei em um mural onde um pai entrega a Terra à filha. Desta forma, busco contribuir para a reflexão sobre qual é o planeta que queremos entregar às próximas gerações”, explica o artista.
“O futuro é agora! O futuro já começou e a responsabilidade é de todos nós. Foi por isso que, no mural que está situado em um local que recebe tantos líderes importantes, coloquei um brasileiro comum, que entrega o planeta à sua filha. É responsabilidade de todos cuidar da nossa casa, que é o planeta Terra. E lá no epicentro, coloquei a América Latina, para reforçar a mensagem do cuidado que devemos ter em preservar a nossa querida floresta amazônica”, completa (assista à essa declaração no final deste post).
Quando começou a pintar, Kobra não acreditava que poderia ter acesso ao mundo “oficial das artes”, devido à sua origem simples, como artista de rua. E foi muito além.
Com seu novo mural, ele coloca seu nome ao lado de outros dois artistas brasileiros que marcam a história da sede da ONU: o arquiteto Oscar Niemeyer que, junto com o arquiteto franco-suíço Le Corbusier, projetou o edifício de 39 andares; e o pintor Cândido Portinari, cujos painéis Guerra e Paz foram presentes do governo brasileiro em sua inauguração, em 1952.
A seguir, veja mais imagens sobre o processo de pintura da fachada da ONU e, sem seguida, a explicação de Kobra sobre o tema do novo mural à ONU News. Vale lembrar que, em novembro de 2021, também em outro mural em Nova York homenageou as mulheres, reforçando a necessidade de termos um planeta mais “feminino”.
Fotos: Ben Lau/divulgação