No último sábado, 3 de setembro, a atriz e ativista climática Jane Fonda surpreendeu fãs e seguidores, nas redes sociais, com uma notícia preocupante: foi diagnosticada com linfoma não-Hodgkin (LNH), um tipo de câncer no sistema linfático que se espalha pelo organismo de maneira desordenada, comprometendo a imunidade.
Mas o teor da mensagem está longe de ser triste, muito ao contrário. Jane logo salienta que se trata de “um câncer muito tratável: 80% das pessoas sobrevivem” e que, por isso, se sente “com muita sorte”.
E ainda destaca que essa sorte se deve também ao fato de que, ao contrário da maioria dos americanos, ela tem seguro saúde e acesso aos melhores especialistas e tratamentos.
“Percebo – e é doloroso -, que sou privilegiada nisso. Quase todas as famílias na América tiveram que lidar com câncer, de alguma forma, e muitas não têm acesso aos cuidados de saúde de qualidade que estou tendo. E isso não está certo!”. E vai além.
Engajada, ainda diz que, tão importante quanto falar da cura do câncer, é debater e lutar contra as causas desse tipo de doença “para que possamos eliminá-las”.
“As pessoas precisam saber que os combustíveis fósseis causam câncer! O mesmo acontece com os pesticidas, muitos dos quais são baseados em combustíveis”, indicando que, certamente, esse é o seu caso (leia sobre o glifosato, um dos pesticidas mais cancerígenos do mundo, mais adiante)
Ativista incansável
Jane Fonda está se tratando com quimioterapia há seis meses e garante que está lidando muito bem com os tratamentos. Além disso, afirma que a doença não interfere em seu “ativismo climático” e que o câncer, na verdade, tem sido “um professor”.
“Uma coisa que ele já me mostrou é a importância da comunidade. De crescer e aprofundar a comunidade para que não estejamos sozinhos. O câncer, junto com minha idade” – em dezembro ela completa 85 anos! – “definitivamente ensina a importância de se adaptar a novas realidades”.
Quem acompanha a trajetória da atriz, nos últimos tempos, sabe de sua luta incansável para que o governo e a sociedade americanos se engajem e se comprometam com ações que ajudem a evitar o avanço do aquecimento global.
Em outubro de 2019, ela foi presa ao protestar pelo clima em frente ao congresso dos Estados Unidos, em Washington. Ela acabara de se unir ao movimento Fire Drill Friday, inspirada pelo movimento #FridaysForFuture, criado por Greta Thunberg, e mudou-se temporariamente para a capital dos Estados Unidos.
Sua intenção era participar de atos durante quatro meses, contra a inação do governo Trump. O engajamento rendeu mais três detenções até novembro, quando afirmou: “Somos a última geração que pode fazer a diferença entre a vida e a morte do planeta”.
Em dezembro do mesmo ano declarou apoiar a desobediência civil pelo clima e convidou os brasileiros a aderir. Um mês depois, lá estava ela em novo ato contra a crise climática, quando foi levada pela polícia americana, mais uma vez. Só que, nesta, estava muito bem acompanhada pelos atores Joaquim Phoenix e Martin Sheen.
Em seu relato no Instagram, reforçou seu compromisso com a causa climática:
“Estamos vivendo o momento mais consequente da história humana porque o que fazemos ou não fazemos, agora, determinará que tipo de futuro haverá e não permitirei que o câncer me impeça de fazer tudo o que puder, usando todas as ferramentas de que dispuser, e isso inclui continuar a construir a comunidade Fire Drill Fridays e encontrar novas maneiras de usar nossa força coletiva para fazer mudanças”.
Por fim, a ativista lembrou que as “eleições intermediárias estão se aproximando”, destacando a responsabilidade de escolher bons representantes, e garantiu que seus seguidores podem contar com ela para “aumentarmos nosso exército de campeões climáticos“.
Glifosato: vilão mundial, não no Brasil
Em 2018, a Universidade de Washington, nos Estados Unidos, concluiur estudo (Exposure to Glyphosate-Based Herbicides and Risk for Non-Hodgkin Lymphoma: A Meta-Analysis and Supporting Evidence) realizado desde 2001 para investigar a ligação do LNH com o glifosato, ingrediente ativo do herbicida mais utilizado no mundo, o Roundup, da Monsanto/Bayer. Há anos, a empresa responde nos tribunais americanos a uma série de processos de pacientes com câncer.
No estudo, foram analisadas mais de 54 mil pessoas que trabalham no campo e tinham contato com o veneno e a conclusão foi de que a exposição ao glifosato “pode aumentar o risco de linfoma não-Hodgkin em até 41%”.
Em 2019, a Alemanha proibiu o uso de glifosato. No mesmo ano, no Brasil, o veneno deixou de ser considerado “extremamente tóxico” pela Anvisa.
Em agosto último, novo estudo conduzido por pesquisadores de duas universidades dos Estados Unidos – Florida Atlantic University e Nova Southeastern University – associou a presença do herbicida Roundup com convulsão em animais.
Os resultados publicados num artigo científico na Scientific Reports revelaram que o glifosato e o Roundup aumentaram o comportamento de convulsão em lombrigas que vivem no solo, evidência de que eles afetam os receptores GABA-A, pontos de comunicação essenciais para a locomoção e regulação do sono e do humor em humanos.
Foto: reprodução do Instagram