Um urso polar não se aproximaria de humanos como esta fêmea de cerca de dois anos fez, no povoado de Dikson, no Ártico russo, a menos que estivesse desesperado. E estava.
Dikson tem 676 habitantes e é um dos assentamentos mais setentrionais do mundo ((localizados ao Norte), batizado em homenagem ao explorador sueco Barão Oscar Dickson (veja a localização exata no final deste post).
Há quase duas semanas, ela vagava pelos arredores de um posto avançado e se aproximou de uma das cabanas. Então, foi possível perceber que havia uma lata de alumínio pendurada em sua boca.
Até parecia que ela estava trazendo a lata para alguém (como fazem os cachorros), mas quando um dos moradores a segurou, percebeu que, na verdade, a lata estava presa em sua língua, ferindo-a gravemente.
Imagina o desespero do animal com essa peça de metal pesando em sua boca, sem poder se movimentar sem dor, nem comer ou beber!
“A ursa estava tão exausta, que vinha até nós e mostrava a língua, mas era impossível ajudar sem traumatizá-la”, contou um dos moradores ao site The Mirror.
Depois de algumas tentativas, eles desistiram e comunicaram o Zoológico de Moscou. Uma equipe de veterinários e especialistas foi enviada pela instituição, que chegou à vila remota após uma viagem atormentada pelo mau tempo (3.400 km de distância!).
Ao localizar a ursa polar, um dos veterinários atirou um dardo com tranquilizante para que ela dormisse e ele pudesse remover a lata de leite condensado (!!), além de tratar dos cortes causados em sua língua.
A equipe só deixou o local depois de acompanhar sua recuperação da anestesia e de alguns dias de monitoramento: queriam ter certeza de que ela estava bem.
De acordo com pronunciamento de Svetlana Akulova, diretora geral do Zoológico de Moscou, a equipe deixou “50 kg de peixe para a ursa para ajudar em sua recuperação”.
“Nós esperamos que tudo fique bem. Próximos à ursa, foram deixados alguns peixes e água porque ela esteve sem comida e água por muito tempo”, contou Mikhail Alshinetsky.
A ursa estava magra e um pouco desidratada, mas o especialista garantiu que ela deve se recuperar totalmente dos ferimentos.
Ursos polares famintos
Em julho, uma equipe de cientistas canadenses e norte-americanos divulgou, na revista científica Oryx, o relatório Anthropogenic food: an emerging threat to polar bears (Alimentos antropogênicos: uma ameaça emergente para os ursos polares, em tradução livre) com os resultados de um estudo que alerta que os ursos polares se alimentam de restos de comida nos depósitos de lixo do Ártico, cada vez com maior frequência.
Eles estão famintos devido aos impactos causados pelas mudanças climáticas em seu habitat natural (indico, mais adiante links de reportagens a esse respeito) e estão cada vez mais vulneráveis e dependentes dos aterros que ficam próximos a comunidades do norte como da Rússia, do Alasca e Canadá.
A seguir, assista ao vídeo produzido pelo site Daily Mail, que mostra o contato da ursa polar com os moradores do povoado, seu resgate pela equipe do zoo, a retirada da lata, os curativos e sua devolução, sã e salva, a seu habitat natural. Os cientistas ainda permaneceram no local por uns dias para monitorá-la.
Com informações da BBC Brasil, do NY Post, Daily Mail e G1
Fotos: reproduções do vídeo
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