
A deputada democrata Deborah (Deb) Halland foi uma das primeiras nativas americanas eleitas para a Câmara, nos Estados Unidos, nas eleições de 2018, como contamos aqui. E, como uma das congressistas mais ativas, tornou-se uma “pedra no sapato” de Bolsonaro, liderando propostas legislativas contra seu governo em aliança com Trump.
Agora, a representante do Novo México no Congresso e membro do Pueblo de Laguna foi escolhida por Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, para assumir a Secretaria do Interior a partir de janeiro de 2021. Se a indicação for confirmada pelo Senado, Halland será a primeira pessoa indígena a ocupar um cargo ministerial na história do país.
Na Câmara, ela integra o Comitê de Recursos Naturais. O departamento do Interior administra terras públicas federais e reservas naturais como os parques nacionais de Yellowstone e Yosemite, e ainda abriga o Bureau of Indian Affairs (Bureau de Assuntos Indígenas, em tradução livre), que gerencia e administra 55 milhões de acres de propriedades mantidas em custódia pelos Estados Unidos para as tribos indígenas americanas.
Essa pasta não poderia estar em melhores mãos. Haaland terá autoridade sobre um departamento que emprega mais de 70 mil pessoas e supervisiona mais de 20% da superfície do país.
Em novembro, depois do resultado das eleições para a presidência, a deputada declarou para a National Public Radio que sua escolha para essa pasta – que já era comentada – “significaria muito para as pessoas que estão aqui desde tempos imemoriais, para que soubessem que estão realmente sendo representadas. Acho que isso mudaria a maneira como as pessoas veem nosso governo federal”.
Diversidade no gabinete
Nas entrevistas que deu durante a campanha presidencial, Joe Biden prometeu diversificar seu gabinete e que nomearia “pessoas que se parecem com o país que servem, incluindo os nativos americanos“. E acrescentou: “Isso será verdade em todo o meu governo, mas também reconheço a importância especial de nomear os nativos americanos para desempenhar papéis críticos na defesa da relação governo-governo”.
Aqui, no Conexão Planeta, Biden tem sido notícia constante, não só devido às declarações e ações de combate às mudanças climáticas, como também às escolhas anunciadas para seu gabinete e aos especialistas que quer reunir numa força-tarefa para controlar a pandemia do novo coronavírus no país.
Na primeira notícia, contamos que, entre os nomes dessa equipe médica está o de uma brasileira, Luciana Borio, considerada uma das maiores especialistas na COVID-19. Depois, veio a declaração de que apenas mulheres ocuparão cargos de comunicação do alto escalão do governo.
Esta semana, além de Halland, o futuro presidente americano declarou os nomes de Michael Regan como chefe da EPA – Environmental Protection Agency (a Agência Ambiental Americana) e do general aposentado Lloyd Austin para secretário de Defesa.
Se confirmado, Reagan será o primeiro homem negro a dirigir o órgão e o segundo representante da raça negra, já que foi antecedido por Lisa Jackson, que ocupou o mesmo cargo durante o primeiro mandato de Barack Obama.
Austin é o primeiro afro-americano a integrar uma equipe de governo no país e o primeiro a dirigir essa pasta. Mas ele já protagonizou outro pioneirismo racial: foi o primeiro negro americano a liderar o Comando Central, que supervisiona os militares dos EUA no Oriente Médio e em partes da África, Ásia Central e Sul da Ásia.
Deb Halland contra Bolsonaro
Em julho deste ano, a deputada indígena e futura secretária do Interior (dedos cruzados!) liderou um grupo de parlamentares democratas (progressistas), que se mobilizou para impedir a implementação de dois acordos entre Brasil e Estados Unidos.
Eles visavam desarticular o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, que contemplava a ação dos EUA na Base de Alcântara, no Maranhão (onde vivem milhares de quilombolas) e acordos que resultavam do reconhecimento do Brasil “como aliado preferencial extra-Otan dos Estados Unidos”. Mas essa não foi a primeira vez que Halland se meteu em temas caros aos dois países.
Em 2019, ela veio ao Brasil para conversar com parlamentares da oposição ao governo brasileiro sobre questões ambientais, como mudanças climáticas e a Amazônia, direitos humanos e milícias.
No mesmo ano, apresentou “emenda ao Orçamento de defesa americano para obrigar o governo Trump a fazer um relatório sobre os direitos humanos no Brasil”. Depois de algumas revisões, a emenda foi aprovada, e o texto, sancionado por Trump.
Por e-mail, Halland declarou ao jornal O Globo sobre a vitória: “Os Estados Unidos não devem se alinhar a um líder que, repetidamente, coloca seu povo em risco, destrói o meio ambiente e viola os direitos humanos”.
Foto: Divulgação/Campanha 2018