Muito antes do navegador Cristóvão Colombo chegar à América, os indígenas Navajo já ocupavam grandes áreas de territórios na costa oeste dos Estados Unidos. Hoje a população dos Navajos passa dos 170 mil habitantes, que vivem em uma reserva localizada em partes dos estados de Utah, Arizona e Novo México. Eles possuem seu próprio governo e têm também representação federal.
Mas infelizmente, estão entre os mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus. Cerca de 15 mil navajos foram contaminados pelos vírus e mais de 600 já morreram. No auge da primeira onda da COVID-19, no primeiro semestre, havia mais casos da doença per capita na nação indígena do que em qualquer outro lugar dos Estados Unidos, inclusive, a cidade de Nova York, considerada o epicentro da crise em abril e maio. A taxa de infecção entre os indígenas chegou a 2.304 casos por 100 mil habitantes.
Para conter a proliferação ainda maior do vírus e ajudar a população local, a organização Médicos Sem Fronteiras, que geralmente trabalha em missões internacionais, deslocou profissionais para a região, que conta com uma infraestrutura deficiente, comparada com outros estados americanos. Aproximadamente 1/3 dos Navajo não tem acesso à água tratada e há poucos postos de saúde.
No começo do ano, quando o número de pacientes em estado grave ficou fora de controle, muitos indígenas precisaram ser levados de helicóptero para hospitais de outras regiões. Muitos deles sofrem com doenças pré-existentes, como diabetes e hipertensão.
Agora, quando uma segunda onda se espalha novamente pelo país – são mais 11 milhões de americanos contaminados e 247 mil perderam a vida para o coronavírus -, a Nação Navajo acaba de anunciar um novo lockdown em seu território.
Pelas próximas três semanas, serviços não essenciais ficarão fechados, as aulas das escolas serão online e todas as estradas se manterão bloqueadas para visitantes e turistas. O comércio que permanecerá aberto só poderá funcionar entre 7h da manhã e 3h da tarde.
“Infelizmente, parece que esta pandemia vai piorar antes de melhorar. As projeções de nossos especialistas em saúde indicam que a Nação Navajo, assim como o país, está em uma trajetória ascendente em termos de novos casos de COVID- 19″, afirmou Jonathan Nez, presidente da Nação Navajo, em um comunicado. “Por favor, responsabilizem-se por vocês e seus entes queridos e orem por nossa nação”.
Segundo Nez, 34 comunidades estão com uma “propagação sem controle do vírus” e os hospitais locais não terão capacidade para atender todos os doentes. “Nosso sistema de saúde não aguentará um aumento de longo prazo nos casos de COVID-19. O lugar mais seguro para se estar agora é em casa”, alertou.
Uma das principais preocupações é que, assim como em outras comunidades, os mais velhos são os mais vulneráveis ao coronavírus e cabe a eles passar para as gerações mais novas a cultura e as línguas dos Navajo, para que possam ser preservadas e mantidas.
No Brasil, a pandemia também atingiu duramente as populações indígenas. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), 161 povos foram afetados, quase 40 mil pessoas testaram positivo para o coronavírus e 877 morreram (veja estatística em tempo real aqui).
*Com informações da CBS News, The Hill e The Guardian
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Foto: Chip Thomas