Protesto em Londres denuncia genocídio e o impacto da Covid-19 entre os povos indígenas do Brasil

Para marcar o Dia Internacional dos Povos Indígenas, ativistas da ONG Extinction Rebellion (XR) tingiram as águas das icônicas das fontes e a escadaria de Trafalgar Square, em frente à National Gallery, em Londres, em solidariedade aos indígenas brasileiros, que estão sendo devastados pela Covid-19.

Eles usaram tinta vermelha para simular sangue na escadaria – alguns se deitaram como se estivessem mortos – e numa das fontes. Outra recebeu tinta luminescente amarela. Numa das faixas expostas, estava escrito ‘Emergência Indígena‘, em outra ‘Genocídio = Ecocídio‘.

Cinco ativistas da XR foram presos. Também participaram da manifestação ativistas da APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, da HS2 Rebellion e da XR Internationalist Solidarity Network.

Ampliar a conscientização e apoiar o movimento indígena brasileiro

O objetivo do protesto em Londres foi conscientizar os ingleses e o mundo sobre a quantidade de indígenas que está sendo devastada no Brasil devido à doença e, também, chamar a atenção para a linda mobilização que ocorreu ontem à tarde nas redes sociais da APIB e de apoiadores da organização como o youtuber Felipe Neto e a Mídia Ninja chamada Maracá – Emergência Indígena (entenda a iniciativa, também com as falas de Sonia Guajajara, coordenadora da Apib, e de Célia Xakriabá).

O encontro contou com a participação de personalidades indígenas e não-indígenas, do Brasil e de diversos países, que divulgaram o genocídio em curso, promovido pelo governo Bolsonaro, e a arrecadação de fundos para fortalecer o plano de enfrentamento à Covid-19, lançado no início de julho e que recebeu o nome de Emergência Indígena.

A meta da vaquinha online é de 1 milhão de reais, destinados à compra de materiais de proteção e higiene, alimentos, remédios e à “construção” de pequenos “hospitais de campanha” locais para atender as comunidades, evitando que os indígenas saiam de suas aldeias para ir aos hospitais nos centros urbanos, onde se infectam. Até agora, foi arrecadado 57% do total.

Indígenas Kokama em esforço de proteção contra o coronavírus, na Aldeia Boará de Cima – Foto: divulgação

Os dados do Comitê Nacional de Memória e Vida Indígena atualizados ontem, 9/8, às 12h10, e divulgados pela APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil no site Emergência Indígena (do plano de enfrentamento à doença) indica que 148 povos já foram afetados, resultando em 652 mortos e 23.453 infectados.

O primeiro caso de coronavírus aconteceu entre os indígenas Kokama. Hoje, depois de mais de 50 mortos e devido ao péssimo tratamento nos hospitais, esse povo decidiu cuidar de seus doentes sozinho, por meio de rituais com ayahuasca, e tem reduzido a taxa de mortalidade.

O Brasil é o segundo país com mais mortes por covid-19 no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. De acordo com a última atualização do Consórcio de Veículos de Imprensa, pouco depois das 21h, o país registrou 101.136 óbitos e 3.035.582 contaminados.

O motivo para que estejamos vivendo nesse cenário tenebroso é a conduta do governo Bolsonaro que tem afetado, de forma cruel, os povos indígenas, os quilombolas e as pessoas mais pobres, que vivem em favelas e nas periferias da cidade. Um verdadeiro genocídio!

Não foi à toa que a APIB acionou o STF – Supremo Tribunal Federal contra o governo por meio de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 709) “para obrigar o governo a não nos deixar morrer”, como explicou Eloy Terena, assessor jurídico da organização (contamos sobre essa iniciativa no texto sobre o lançamento do plano de enfrentamento, que aconteceu dias depois).

A ação da APIB foi acatada pelo ministro Luiz Roberto Barroso e, na semana passada, por unanimidade, os demais ministros reconheceram a obrigação do governo proteger os indígenas da Covid-19.

Grande vitória, que entra para a história da luta indígena! Mas eles ainda aguardam uma decisão efetiva a respeito do pedido de desintrusão das terras indígenas invadidas por garimpeiros. Além da devastação que promovem – um grave problema desde os anos 70! -, os invasores têm levado o coronavírus para dentro das aldeias.

Fotos: Extinction Rebellion

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.