O Cacique Raoni Metuktire foi até a cidade de Sinop, no norte do estado do Mato Grosso, no sábado, 26/9, para fazer exames (acompanhamento devido à Covid-19) e se manifestou a respeito do discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, em 22/9.
“Isso eu não aceito!”, declarou Raoni. “Ele diz no jornal que tá botando fogo no mato, na floresta. Isso é pura mentira. Por que? Quem está botando fogo são os próprios fazendeiros. Alguns fazendeiros estão prejudicando o mato. Garimpeiro tá prejudicando o mato, a natureza. Madeireiro tá prejudicando a natureza. Eles é que estão botando fogo na floresta”.
Raoni está certo, como sabemos. Só pra citar um exemplo grandioso, Charles Pozzebon, por exemplo, chefia um verdadeiro “Estado paralelo na zona rural” na Amazônia há anos (contamos essa história aqui). No Pantanal, a Polícia Federal chegou a cinco fazendeiros suspeitos. No ano passado, na cidade de Novo Progresso, um grupo de fazendeiros orquestrou o Dia do Fogo.
Durante sua fala na ONU, o presidente distorceu fatos do começo ao fim. Elogiou a política ambiental de seu governo. Teve a coragem de dizer que o país é o que mais preserva no mundo e, por isso, tem sofrido ataques de forma injusta, é “vítima de desinformação”. E, ainda, que a Amazônia é uma floresta úmida e, por isso, o fogo não pega fácil (autocombustão é difícil, mesmo), e que as queimadas que lá acontecem são causadas por índios e caboclos, “que queimam seus roçados”.
Raoni ainda disse que, em governos anteriores, recebeu apoio dos presidentes para suas reivindicações sobre preservação, mas que tudo mudou com este governo.
“Somos os primeiros habitantes nessa terra e depois veio o homem branco que já vem destruindo a vida e a natureza. Isso me preocupa. Quero dizer, aqui pra vocês, que ex-presidentes que já sentaram no cargo como Tancredo Neves, Sarney, Color, Lula… Todos que passaram por ali nunca houve desentendimento comigo. Nunca tiveram problema. Estes presidentes acolheram minhas demandas de preservar a natureza”.
Se queixou, com razão. Basta lembrar o que o presidente fez, em julho do ano passado, em Osaka, no Japão, durante reunião do G20. Como havia prometido para Raoni, em maio – durante visita deste ao Palácio do Eliseu com sua comitiva – Macron comentou com Bolsonaro sobre sua preocupação com a Amazônia e propôs:
“Você aceita se reunir comigo e com o Raoni?”. E este respondeu rapidamente, sem pensar: “Não!”. E já emendou, dizendo que Raoni “não representa o Brasil e sequer representa a comunidade indígena de onde veio” (saiba mais, aqui, no site).
Foto: Renato Soares
Fonte: Instituto Raoni, G1