No começo da pandemia do novo coronavírus, quando ainda se conhecia pouquíssimo sobre a COVID-19, acreditava-se que a doença afetava sobretudo os idosos. Nove meses depois, com 26 milhões de contaminados no mundo inteiro e quase 870 mil mortes, especialistas de saúde sabem que, apesar de terem sintomas menos graves, jovens e crianças também ficam doentes e transmitem o vírus.
Nos últimos meses, muitos estudos têm sido feitos para esclarecer como o coronavírus se comporta dentro dessa população de faixa etária mais jovem. Análises feitas por pesquisadores da Queen’s University, de Belfast, na Irlanda do Norte, revelam que sintomas gastrointestinais, como diarreia e vômito, foram mais comuns do que tosse e perdas de olfato e paladar entre crianças infectadas pelo coronavírus.
Desde maio, o estudo avaliou os sintomas de mais de 1 mil crianças da Irlanda do Norte, Escócia, Inglaterra e Wales, que testaram positivo para a COVID-19. O objetivo da pesquisa era estimar o número de crianças que tiveram a doença, quais eram os principais efeitos da doença e se elas têm anticorpos que podem ser capazes de combater a infecção.
De acordo com os resultados preliminares obtidos pelos pesquisadores, após a primeira onda da pandemia, 7% das crianças testaram positivo para anticorpos. Metade delas, que apresentou sinal da infecção com COVID-19, não relatou sintomas. Os outros 50% afirmaram terem tido problemas gastrointestinais.
“Descobrimos que metade das crianças participantes neste estudo são assintomáticas com infecção por SARS-CoV-2 e aquelas com sintomas normalmente não apresentam tosse ou alterações no cheiro/paladar , sendo a perturbação gastrointestinal um sintoma muito mais comum”, afirma Tom Waterfield, pesquisador do Wellcome-Wolfson Institute for Experimental Medicine da Queen’s University Belfast e principal autor do estudo.
Para Waterfield, saber que crianças apresentam diferentes sintomas ao serem contaminadas pelo coronavírus ajudará na avaliação de médicos ao tratá-las e na definição de novos critérios para testes de diagnóstico.
Ter um conhecimento maior sobre como os mais jovens reagem ao coronavírus também é muito importante neste momento, em que muitos países do mundo estão reabrindo as escolas e trazendo os alunos de volta para as salas de aula. Com os dados da pesquisa britânica, pais e educadores poderão ficar mais atentos a sinais que apontem que seus filhos ou alunos podem estar com a doença.
“Estudos de pesquisa são vitais neste momento. Agora sabemos mais sobre a COVID-19 em termos de exposição de crianças ao vírus SARS-CoV-2. Essas descobertas podem ser analisadas mais à medida que continuamos a monitorar a transmissão comunitária em crianças para ajudar a combater a disseminação da doença”, destaca Ian Young, cientista chefe e diretor do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Pública de Saúde do Reino Unido.
Há poucos dias, divulgamos outro estudo internacional que demonstrou que crianças infectadas pelo coronavírus apresentam carga viral mais alta que adultos. O que chamou a atenção dos cientistas foi constatar que nos dois primeiros dias de sintomas de crianças contaminadas com o SARS-CoV-2, a carga viral delas era mais alta do que a de adultos hospitalizados em estado grave (leia mais aqui).
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