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Caos, 2018: Eduardo Srur provoca reflexões sobre mobilidade urbana com nova instalação

Quatro mil carrinhos de plástico de brinquedo amontoados, formando dois enormes blocos, de 6,4 x 3,3 metros, foram instalados nesta quarta-feira, 21 de agosto, na área externa do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, o MAC USP (Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301), vizinho do Parque Ibirapuera.

Trata-se da obra Caos, 2018 – Uma Reflexão sobre Mobilidade Urbana, do artista plástico Eduardo Srur, que é conhecido por suas criações engajadas, que questionam temas da modernidade. O título é óbvio e perfeito: deriva da nossa (de todos os paulistanos) tentativa frustrada de organizar, modernizar e mobilizar a cidade e, por fim, viver na confusão.
Ele já provocou os paulistanos sobre a forma como convivem com o rio Pinheiros, totalmente poluído, instalando caiaques em sua extensão e, em outra ocasião, trampolins com modelos que pareciam pessoas de verdade querendo se jogar nele. Isso causou muita confusão e inúmeras ligações para a policia. Hilário!
O artista chamou a atenção também para o consumo excessivo de plástico, espalhando garrafas PET pelas marginais do rio Tietê, poluído como o Rio Pinheiros. E também já questionou o trânsito, disputando corrida com um corredor de stock car. Srur dirigia uma charrete na ciclovia, enquanto Ingo Hoffman pilotava um carro esporte na marginal. Adivinha quem ganhou?
Em 2016, ele espalhou carrinhos de supermercado gigante destruídos e enferrujados e os “enterrou” no concreto para falar, mais uma vez, sobre o modelo atual de consumo e de desperdício de alimentos. Em agosto de 2017, fez a primeira pescaria do século XXI, também no Rio Pinheiros, com inúmeras espécies de peixes feitos de lata. de madeira, borracha de pneu, garrafas plásticas e outros materiais. “Sou o primeiro paulistano a pescar nesse rio no século XXI”, brincou ele em entrevista para um jornal da cidade.
Sua última intervenção aconteceu em dezembro do ano passado, quando, a convite da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), criou pés gigantes cheios de formigas para alertar sobre a PAF, polineuropatia amiloidótica familiar, doença genética rara e irreversível.
Polêmico, agora ele quer que o público pense na forma como lida com a mobilidade em sua cidade. Não é de hoje que São Paulo é caótica. O trânsito, a quantidade de carros ocupados por uma única pessoa, ônibus, taxis… E, de uns tempos pra cá, ela está quase parando. A administração de Fernando Haddad buscou soluções e favorecer o transporte público e sustentável. Impulsionou o uso das bicicletas, ajudando a transformar alguns paulistanos em pessoas mais saudáveis e motoristas em pessoas mais gentis, mesmo na marra. Ainda havia muito a fazer, mas veio a administração de Doria – o prefeito do bordão Acelera São Paulo! -, que tornou a cidade mais cruel, devolvendo-lhe práticas que representam retrocessos como apagar ciclovias e aumentar a velocidade.
Então, está de novo na hora de questionar a mobilidade de São Paulo e refletir sobre possíveis soluções. As paredes da obra de Srur criam uma passagem estreita para que o público caminhe por ela e lembre do aprisionamento que o trânsito causa todos os dias. A sensação é sufocante, mas a obra também o lado criança de quem passa por ali, uma certa percepção lúdica como se fosse um última chance de contemplar o museu – que é muito lindo e mantém uma área externa que propicia a observação da paisagem em 365 graus -, antes de encarar a rua.

A instalação fica até 10 de dezembro no MAC – USP, com entrada gratuita das 10 às 23 horas. Depois, será integralmente doada e compartilhada com o público. Para o artista, “Arte boa é arte para todos”. Faz todo sentido.

Foto: Divulgação/Instagram 

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