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Uma aula sobre a Amazônia: como torná-la prazerosa para educadores e alunos


Domingo passado, dei uma palestra no Festival Path, em São Paulo. É o maior festival de criatividade e inovação da América Latina. Fui convidada a falar sobre educação na Amazônia. Sugeri novas maneiras de ensinar e aprender sobre a maior floresta da Terra. Afinal, isso deve ser tão prazeroso quanto fazer uma viagem a algum reino encantado, o melhor que nossa imaginação conseguir conceber.

Decidi pesquisar e desenvolver novas maneiras de aprender e ensinar sobre a floresta em 2014, quando lancei o movimento Reconexão Amazôniaque também dá nome a este blog. Dou aulas, faço palestras e levo pessoas e grupos para vivências e práticas de autoconhecimento na floresta – para que todos se descubram na floresta, por intermédio dela. Resumindo: a missão do Reconexão Amazônia é inspirar as pessoas a se reconectarem consigo mesmas por meio de jornadas transformadoras sobre maior floresta do planeta com base em informação, experimentação, autoconhecimento e educação.

Primeiro, entendo que precisamos identificar porque e como crescemos pensando que a Amazônia não vale a pena, que é desinteressante, que lá só tem mato, que não tem nada para fazer, é muito quente, tem mosquitos demais etc. Pois acredite: em Ilhabela, São Paulo, tem mais borrachudo do que em muito lugar da Amazônia! É preciso, então, que mais e mais pessoas saibam que o que geralmente pensamos sobre a Amazônia é fruto da visão de quem não nasceu lá, nem nunca viveu naquela região.

A história da desconexão começou com os europeus no século 16. A visão exagerada dos exploradores e viajantes propagava que a Amazônia ou era um inferno ou era exótica. Infelizmente, prevaleceu a visão do inferno. Ela foi parar nos nossos livros de História e Geografia, no cinema e na literatura, invadiu nossas vidas. Foi reforçada pelo governo militar com propagandas em todos os meios de mídia que diziam que deveríamos ocupar a Amazônia para não entregá-la, espalhando mentiras como “uma terra sem gente para uma gente sem terra”, dando benefícios a desmatadores, prática que continua até hoje.

Isso tudo fez com que nos distanciássemos da floresta, de sua beleza e imensidão, de sua energia curativa e acolhedora, do grande coração da nossa Mãe Terra. Ela passou a ser uma “coisa” a ser descoberta e desbravada. Vemos aí o desmatamento que só aumenta e não enxergo outra maneira de salvá-la senão devolvendo a nós próprios o direito de conhecê-la de verdade, não sob o olhar estrangeiro ou manipulador de governos, mas sob o nosso. O nosso próprio olhar.

No ano passado, devido à pesquisa que realizei para a minha dissertação de mestrado em Ciência Holística na Schumacher College, Inglaterra, dei três aulas-teste para diferentes alunos para aplicar uma nova metodologia de ensino que desenvolvi no ensino sobre a floresta. Se quisermos manter a floresta viva, precisamos nos reconectar com ela, valorizá-la, reconhecer o seu valor intrínseco e não apenas a sua importância para o equilíbrio do clima do planeta ou para a produção de água.

A primeira aula foi dada para crianças de nove anos na Inglaterra. A segunda, a jovens e adultos do Rio de Janeiro. A terceira, a jovens de diversas partes do mundo bem no seio da floresta, no estado do Amazonas.

Com as crianças, eu brinquei. Trouxe o lúdico. Compartilhei minhas experiências de vida. Contei que podemos, sim, conversar com a floresta amazônica através do nosso próprio coração. Mostrei fotos minhas nadando em rios e vieram as perguntas sobre o ataque de piranhas. Expliquei que não é bem assim. Em outra foto, eu segurava uma cobra, muitas vezes animal de estimação de ribeirinhos. Em outras, eu estava em uma trilha no meio da floresta e lá se foi o mito de um ataque a qualquer momento vindo de uma onça pintada!

Para ensinar o que é a Bomba Biótica da Amazônia – para quem não sabe, é um fenômeno que dá origem aos Rios Voadores, que faz chover chuva amazônica em várias regiões do país -, todos juntos cocriamos uma pecinha de teatro, onde cada grupo interpretava os diferentes “passos” do nascimento destes rios. Sem trazer milhões de nomes científicos às suas cabecinhas, expliquei o que muitas vezes é difícil até para adultos. As crianças compreenderam perfeitamente bem, através de brincadeiras, como os Rios Voadores se formam.

Trouxe para a sala de aula meus sentimentos também: por que devemos cuidar da Amazônia? O quanto ela é bonita? O que mais gosto nela? O que ainda não conheço e tenho vontade de conhecer? Esta aula foi maravilhosa e a resposta das crianças veio com alguns depoimentos como “não tenho mais medo dela”, “estou aliviado”. No final da aula, eu pedi que fizessem um desenho para presentear a Amazônia, por ela, não por mim ou para mim. Pudemos observar, pelos desenhos cheios de corações, montanhas, nuvens, animais, que elas não apenas aprenderam sobre a Bomba Biótica como também se aproximaram emocionalmente da Amazônia.

Olha só o que me disse Alison Letten, professora dessas crianças na escola St. John´s (Totnes, Inglaterra), que assistiu minha aula: “Frequentemente, educadores falam sobre a Amazônia em termos de ameaças à floresta. O futuro parece muito difícil e as crianças se sentem desesperançosas e preocupadas. O foco da aula da Karina foi sobre quão maravilhosa é a floresta. Ela comunicou a importância da Amazônia, mas também o quanto precisamos amar nosso planeta. Isso chamou a atenção e capturou o interesse da turma. Seu entusiasmo e carisma são contagiosos. Karina tirou o medo de nós e nos presenteou com o desejo de experienciar a Amazônia por nós mesmos”.

Para os adultos ofereci informações genéricas sobre a floresta, mas também vivências para estimular o contato com a Amazônia através da natureza ao redor. Praticamos Fenomenologia Goethiana, que inspira a observação intensa e detalhada da natureza. Por nos exigir concentração e foco, nossa mente se acalma e acabamos tendo excelentes insights para a vida. Uma meditação guiada e pronto! Nos imaginamos na Amazônia e pudemos senti-la. Fiz o mesmo com alunos que ensinei dentro da floresta, no Amazonas. Compartilho com você mais um depoimento, desta vez da Sacha, minha aluna no Rio de Janeiro:

“Com seu trabalho, Karina nos faz sair da caixinha quando o assunto é Amazônia, levantando discussões a respeito de sua magnitude não apenas em dimensão geográfica, variedades de espécies e outros aspectos quantitativos, como de costume, mas principalmente em torno de suas qualidades não mensuráveis, como sendo um ser vivo pulsante e provido de consciência. Saio com o sentimento de que é um dever revermos nossos movimentos a fim de inspirar outras pessoas a terem, também, esse contato e desenvolverem empatia pelo nosso maior patrimônio ecológico”.

Por fim, na Amazônia, o que mais me inspira é poder levar as pessoas para dentro da mata. Demoro 1 hora e meia para fazer uma trilha que normalmente levaria 40 minutos. Respiramos fundo e sentimos a umidade do ar, identificamos os diferentes cantos de pássaros, vendamos nossos olhos e, assim, caminhamos pela floresta. Aprendemos sobre ela usando todos os nossos sentidos. Faço isso nas viagens que realizo para a floresta quando o foco é autoconhecimento e também educação.

Mais um depoimento, desta vez da aluna Beatriz Zschabe, que acompanhou minha aula-teste diretamente na floresta: “Aprendi que os elementos da natureza podem me ensinar coisas valiosas, como liderança e empatia”​- Beatriz Zschaber, minha aluna no Amazonas

A Bia disse isso porque, em determinado momento, facilitei uma vivência na qual os alunos puderam identificar suas próprias virtudes através da floresta.

Considero um sucesso as três aulas que dei. Sabe por que? Já passou da hora de só falarmos da Amazônia em termos de riquezas da biodiversidade ou da importância no combate às mudanças climáticas. Como brasileiros e cidadãos do mundo, devemos nos conectar com sua potência, sua beleza, a sabedoria e simplicidade de seu povo, o olhar por novos ângulos.

Então, vamos usar fotos, vídeos e depoimentos de quem já morou ou mora lá para compartilhar com outras pessoas, em palestras ou aulas. Vamos meditar aos sons da floresta – achamos isso facinho no Youtube. Vamos lembrar, ao olharmos para um vazinho de planta que está ao nosso lado, que no Norte nasce uma floresta que ocupa quase 60% da área total do nosso país. Precisamos nos reconectar com ela – por ela? Não… a Amazônia não precisa disso, mas por nós mesmos e por todas as razões possíveis.

Desta maneira, tenho certeza, prepararemos nossas crianças e jovens para terem mais amor e simpatia por esta floresta. Não os privaremos como fomos privados – um dia, roubaram nosso direito de conexão com a Amazônia. Hoje, podemos fazer diferente.

Quem quiser saber mais, falar mais sobre isso, receber treinamento a partir da metodologia que desenvolvi ou me chamar para dar aulas sobre a Amazônia, é só me escrever por e-mail ou pelo Facebook.

Vou adorar aprofundar e compartilhar mais do que sei com você.

Aulas mais potentes, informativas e emocionantes sobre a Amazônia causarão uma bela revolução! Uma-bela-revolução!

Foto: Karina Miotto

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