
Assim como os ursos polares, os coalas são animais que exercem um fascínio especial sobre o homem. Só são encontrados na Austrália e por esta razão, a grande maioria da humanidade nunca viu um pessoalmente. Mas suas feições doces, lembrando um bichinho de pelúcia, cativam a todos. E esse é um dos motivos que a tragédia que acontece atualmente em seu país comove o mundo inteiro.
A sobrevivência da espécie está seriamente em risco. Não bastassem esses marsupiais serem ameaçados pela perda de habitat, atropelamentos, o ataque de animais domésticos, como cães e gatos, e doenças transmitidas pelo ser humano, centenas de coalas estão morrendo por causa das mudanças climáticas, mais especificamente pelas ondas de calor avassaladoras que têm afetado a Austrália e provocado incêndios florestais nunca antes vistos.
No começo de novembro, eu já havia escrito sobre o problema. Na época, estimativas apontavam que pelo menos 350 coalas não sobreviveram ao fogo na Reserva Natural do Lago Innes, em New South Wales (leia mais aqui).
Todavia, novos números dão conta que o número de coalas que perderam a vida por causa dos incêndios já passa de 1 mil. Apenas em New South Wales, desde julho, 2 milhões de florestas foram destruídos pelo fogo.
O vídeo de uma australiana, que resgatou um coala em meio a um incêndio, emocionou milhões de pessoas. O animal, que foi levado o Koala Hospital Port Macquarie, acabou morrendo dias depois.

Imagens que emocionaram o mundo: apesar de resgatado,
o coala acabou não resistindo aos ferimentos
Outra instituição especializada no tratamento de coalas (e outras espécies), o Australia Zoo Wildlife Hospital, registrou um aumento de 60% na internação dos pequenos marsupiais. Os coalas chegam aos hospitais desidratados, com patas, focinhos e grandes partes do corpo queimados.
Coalas: risco de serem extintos
Os coalas já enfrentam uma situação extremamente difícil na Austrália. Conforme noticiamos aqui, em maio, eles foram declarados “extintos funcionalmente” porque são tão poucos, que não têm mais papel no ecossistema.
Os biólogos dizem também que o declínio da população compromete a segurança e a variação genética da espécie, já que o acasalamento, muitas vezes, ocorre entre “parentes” muito próximos.
Acredita-se que os coalas (Phascolarctos cinereus) evoluíram no continente australiano durante o período em que a Austrália começou a se deslocar lentamente para o norte, separando-se gradualmente da massa terrestre antártica, há cerca de 45 milhões de anos.
Restos fósseis de animais semelhantes a eles foram encontrados datando de 25 milhões de anos atrás. À medida que o clima mudou e a Austrália se tornou mais seca, a vegetação evoluiu para o que conhecemos hoje como eucalipto, tornando-se a fonte de alimento desses marsupiais.
Antes dos primeiros europeus chegarem ao continente, por volta de 1788, milhões e milhões de coalas viviam nele. Todavia, ao longo dos últimos 230 anos, o impacto das atividades humanas, assim como a perda das florestas, reduziu a população de coalas a números alarmantes.
E não foi só isso. Durante muitas décadas, ao redor de 1900, a pele do coala era exportada para a Europa. Milhões desses pequenos e inofensivos animais foram mortos para atender a demanda, ou melhor, a vaidade do homem.
Em 1924, a espécie já estava extinta no sul da Austrália. Apenas no final da década de 30, devido à revolta popular, foi declarado pelo governo o status de “animal sob proteção”.

Hoje, estimativas da Australian Koala Foundation revelam que a população de coalas, livres na natureza, deve ser de 80 mil indivíduos. Mas não há certeza sobre este número. Especialistas apontam que ele poder ser ainda menor. Por volta dos 40 mil.
Mudanças climáticas x incêndios florestais
Como já expliquei em outro texto, assim como na Califórnia, incêndios florestais sempre foram comuns na Austrália. As duas regiões estão localizadas em áreas de deserto do planeta, e durante o verão, com as temperaturas altas, os focos de fogo se propagam facilmente.
Todavia, em ambos os países, especialistas do clima alertam que, por causa das alterações no clima da Terra, cada vez mais, esses incêndios começam mais cedo, se estendem por períodos mais longos e se tornam mais devastadores.
Nas últimas semanas, o fogo foi tão intenso em New South Wales e ao sul de Queensland, que voos foram cancelados nos aeroportos australianos porque a fumaça colocava em risco a visibilidade das aeronaves. Seis pessoas morreram e quase 680 casas foram destruídas. Em Sidney, uma grossa camada de fuligem cobriu a cidade, fazendo com que as autoridades emitissem alertas sobre a má qualidade do ar e seus efeitos prejudiciais sobre a saúde, principalmente de pessoas mais idosas e crianças.
*Com informações do jornal The Guardian
Fotos: Koala Conservation Australia (abertura), reprodução internet (resgate coala no incêndio) e domínio público/pixabay