Desde 20 de março o gaúcho Vilmar Sidnei Demamam Berna – que há algumas décadas morava em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro -, lutava contra a covid-19 que avançou para uma pneumonia grave e o venceu em 2 de abril. Ele estava com 64 anos.
Aguerrido ativista em defesa do meio ambiente, foi pioneiro no jornalismo ambiental e ajudou a fundar organizações da sociedade civil dedicadas à essa causa como a Univerde, em 1980, em São Gonçalo, a Defensores da Terra, em 1984, no Rio de Janeiro, e a Rede Brasileira de Informação Ambiental (REBIA), em Niterói.
Logo que os amigos souberam de seu falecimento, o homenagearam em suas redes sociais. O jornalista Dal Marcondes*, diretor da Agência Envolverde, nosso parceiro, foi um deles. Em seguida, escreveu o texto especial, que publicamos a seguir, para falar do amigo, contar sobre luta em defesa do meio ambiente e do reconhecimento da ONU – o Prêmio Global 500 -, recebido em 1999.
Adeus a um Cidadão Brasileiro
O escritor e jornalista Vilmar Berna partiu. Deixou esposa, filhos e netos e, também, uma enorme legião de amigos e admiradores. Gente que jamais esquecerá do grande pensador bonachão que agiu e inspirou com decisiva contribuição para um mundo mais civilizado!
Uma das tarefas mais difíceis é falar sobre um amigo que parte. Mais ainda quando ele não é apenas um amigo, mas sim um homem que construiu uma vida muito além de qualquer limite que a própria vida lhe impôs.
Há muito o que se possa dizer dessa pessoa, pai, marido, avô dentro da dimensão humana. Um caráter inquieto e incapaz de desviar o olhar de uma iniquidade.
Vilmar Sidnei Demamam Berna, ou simplesmente Vilmar Berna, nunca guardou para si sua acurada visão da humanidade e do mundo. Tornou-se jornalista para contar histórias e defender o maior bem da vida, o Planeta Terra.
Foi reconhecido pela ONU como um lutador, recebendo o Prêmio Global 500 das mãos do imperador Akihito, do Japão, por ser um incansável defensor da vida, em todas as suas formas e dimensões.
Nisso esteve ao lado de gigantes como seringueiro Chico Mendes e o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.
Conta-se que os diplomatas brasileiros estavam preocupados, porque Vilmar não deveria e não poderia dirigir a palavra ao Imperador. O protocolo japonês colocou todas as regras de uma cerimônia solene e pediu que Vilmar apenas se dirigisse ao palco, recebesse a honraria e retornasse a seu lugar. Não deu certo.
Vilmar dirigiu-se ao palco, olhou fixamente para o imperador e fez um arrazoado sobre a política japonesa de caça às baleias. Tentaram interromper, mas o próprio imperador pediu que continuasse e chamou seu interprete.
Ao final da fala prometeu a Vilmar que iria se inteirar dos dados e conversar com seu primeiro ministro.
Transformou a militância ambiental em uma missão. Inspirou gerações de jovens jornalistas que hoje brilham em todas as mídias.
Usou seu talento com as palavras e seu conhecimento para falar com todos os públicos, desde gestores públicos, empresários, que sempre o respeitaram, até as crianças, às quais dedicou seu melhor com a publicação de dezenas de livros em uma linguagem que respeita a inteligência de seus leitores, de qualquer idade.
Vilmar criou uma das primeiras mídias a dedicar-se exclusivamente à pauta ambiental no Brasil, o Jornal do Meio Ambiente. Com a internet, criou a Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia), com milhares de participantes em todo o país.
Vilmar Berna por Vilmar Berna
Ninguém melhor para falar sobre a vida do ser humano, jornalista, militante, escritor e pensador Vilmar Berna do que ele mesmo. Confira em seu blog pessoal. Boa leitura!
Foto (destaque): arquivo pessoal
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*Dal Marcondes é jornalista, diretor presidente do Instituto Envolverde e fundador e diretor da Agência Envolverde, editor do Projeto TerraAmérica, realizado com o apoio do Banco Mundial. Passou por diversas redações da grande imprensa paulista, como Agência Estado, Gazeta Mercantil, Revistas Isto É e Exame como repórter e editor de Economia e Finanças. Desde 1998 dedica-se à cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, educação, desenvolvimento e sustentabilidade empresarial. Recebeu por duas vezes o Prêmio Ethos de Jornalismo, recebeu o Prêmio Ponto de Mídia Livre, do Ministério da Cultura, e é reconhecido como um “Jornalista Amigo da Infância” pela agência ANDI.
Parece que o Planeta Terra, esse barco à deriva em mar revolto, a fim de preservar as pessoas boas, íntegras e ecologicamente corretas, as está transferindo para o Céu, de onde, quem sabe, poderão enxergar melhor nosso naufrágio e tentar salvar nossa Casa, ou o que restou dela, se já não for muito tarde.