Não bastasse a tristeza da morte do jovem cacique Merong Kamakã Mongoió, do povo Pataxó Hã-hã-hãe, no final de semana – ao que tudo indica, assassinado -, a mineradora Vale foi capaz de solicitar (e obteve) autorização judicial para impedir seu enterro em Brumadinho, em área de retomada reivindicada como de ocupação tradicional pela comunidade indígena Kamakã, em 2021, que é alvo de ação de reintegração de posse pela empresa.
A pedido da Vale, a juíza Geneviève Grossi Ors, da 8ª Vara Federal Cível de Belo Horizonte, autorizou o uso da força pelas polícias Militar e Federal para barrar o sepultamento. Sua justificativa: “Que seja impedida a realização do sepultamento do Sr. Merong Kamakã nas terras objeto desta ação, ante a notória controvérsia acerca da titularidade das terras objeto desta ação”.
Mesmo assim, o enterro foi realizado durante madrugada de hoje (6).
Ao tomar conhecimento do caso, Célia Xakriabá, deputada federal por Minas Gerais, acionou a Polícia Federal para proteger a comunidade indígena durante o ritual de despedida de seu líder e acionou o Ministério Público Federal (MPF) para contestar a decisão judicial, pedindo que o direito de realizar o enterro fosse reconhecido, de acordo com as tradições do povo indígena.
“Negar o sepultamento ataca não só direitos humanos fundamentais, mas também os direitos indígenas garantidos pela Constituição Brasileira e por pactos internacionais. É absurdo tentarem reprimir o luto da família de Merong!”, declarou em suas redes sociais.
Hoje, pela manhã, Duda Salabert, também deputada federal mineira, se pronunciou a respeito durante sessão solene no Plenário da Câmara dos Deputados para homenagear as vidas perdidas com o rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão, em Brumadinho, de autoria da Vale.
“Isso mostra que, para a Vale, a vida não só não vale nada, como a morte também não vale nada. Já banalizou a morte! Isso é vergonhoso! Se não bastasse ter matado 272 pessoas, se não bastasse ter cometido o maior crime ambiental e trabalhista da história deste país, a Vale também tenta matar o luto”.
Nascido em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o cacique Merong, de 36 anos, liderava a comunidade Kamakã, uma das seis etnias do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe. E atuava não só em defesa do território que sua comunidade ocupava como em outras ações dos territórios dos povos Kaingang, Xokleng e Guarani.
Ele foi encontrado morto ontem (4), com sinais de estrangulamento.
Fonte: Célia Xakriabá, Duda Salabert, Brasil de Fato, G1
Foto: Célia Xakriabá/divulgação