A campanha ‘Vacina, sim!”, lançada pela Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP* um dia depois da aprovação das vacinas CoronaVac e Covishield, anunciada pela Anvisa contra Covid-19 no Brasil, reúne cerca de 50 pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, formadores de opinião e divulgadores científicos.
Assim, em uma série de vídeos curtos, divulgados nas redes sociais, a infectologista Estér Sabino, a Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, o biocientista Marcos Buckeridge, a geneticista Mayana Zatz, o médico Jorge Kalil, a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, o físico Paulo Artaxo (especialista em clima), o biólogo Carlos Joly (presidente da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos), o sociólogo Sérgio Adorno e a bioquímica Bernadette Dora Gombossy de Melo Franco, entre outros, incentivam a população a (voltar a) confiar na Ciência, destacando a importância da imunização em massa para o combate da doença.
Único antídoto
Em nota, em 19/1, o Conselho Superior da Fapesp explicou que “Pouco mais de 14 meses depois do início da pandemia, a ciência produziu o único antídoto que pode erradicar o Sars-CoV-2: a vacina!”.
E acrescentou, ainda sem saber da polêmica que o governo federal criaria em torno das vacinas, e que têm dificultado um plano de imunização para o país:
“Felizmente, desde 17 de janeiro, os brasileiros já podem ter acesso a duas vacinas, e espera-se que esse leque possa se ampliar futuramente. No entanto, para que produzam seus efeitos de proteção individual e coletivo, as vacinas precisam ser aplicadas rapidamente a grande parcela da população”.
Para a professora do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP, Estér Sabino, declarou, em seu depoimento para a campanha:
“Estou muito feliz que a Ciência – a brasileira também -, em menos de um ano, desenvolveu uma vacina, mostrou que ela é segura e que funciona. Então, não vejo a hora de tomar a vacina, de levar meus pais para tomarem a vacina, o quanto antes que eles são velhinhos. Todos precisam tomar essa vacina: quanto mais gente se imunizar, mais rápido poderemos controlar esta pandemia“.
Vale destacar que, junto com outra pesquisadora da USP, Jaqueline de Jesus, Sabino decifrou o genoma do novo coronavírus em apenas 24 horas, dois dias após o registro do primeiro caso da doença no país. Em março de 2020, a Turma da Mônica homenageou as duas cientistas, como contamos aqui.
Em entrevista para o site Nexo, Sabino acrescentou que “falar da vacinação é extremamente importante, é quase como uma defesa da Ciência. Uma forma de defesa de tudo que a Ciência fez e melhorou a vida das pessoas“.
Cidadania, empatia e amor próprio
O médico hematologista Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp e professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, lembrou que “a imunização permitiu controlar uma grande quantidade de doenças infecciosas que, no passado, matavam ou produziam danos permanentes. A vacinação de todos é a única maneira de vencermos essa pandemia”.
“Estou ansioso para me vacinar, até porque sei que vacina impede a morte para mim e para os outros”, declarou o físico Luiz Davidovich, professor da UFRJ e presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
O biólogo molecular Odir Dellagostin, professor da UFPel, que há 20 anos trabalha no desenvolvimento de imunizantes, foi taxativo: “Sabendo como funcionam, confio nas vacinas e vou me vacinar”.
E a bioquímica Bernadette Dora Gombossy de Melo Franco, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, foi além: “O ato de vacinar-se é uma manifestação de cidadania, uma prova de respeito ao próximo e de um imenso amor por si próprio”.
73% dos brasileiros vai se vacinar
Em pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, em dezembro de 2020, antes da aprovação das vacinas portanto, cerca de 72% dos brasileiros declarou que planejava se vacinar contra a Covid-19. E cerca de 22% afirmou que não pretendia tomar o imunizante.
O neurocientista Luiz Eugênio Mello, diretor cientifico da Fapesp e professor da Unifesp, comentou o resultado:
“Uma parte substancial desses 22% pode ser convencida de que vale se imunizar contra o coronavírus e temos de trabalhar para isso. Quanto mais pessoas se vacinarem, maior será a proteção proporcionada pelos imunizantes à população”.
Vale lembrar que, nos últimos 50 anos, o Brasil construiu um programa de imunização gratuito e robusto, capaz de alcançar todos os brasileiros, e que é modelo no mundo.
Por isso, não podemos deixar que o governo Bolsonaro destrua esta reputação como vem fazendo em diversas áreas, por meio de seus antiministros, como os da Saúde (dois médicos foram afastados e ele nomeou um general sem formação na área), do Meio Ambiente (Ricardo Salles só pensa em ‘passar a boiada’) e da Agricultura (Tereza Cristina é uma ruralista dedicada a promover o agronegócio e a liberação de agrotóxicos), só para citar alguns.
Vacina pra todos?
Agora, só falta a vacina para todos, de fato! O governo federal segue provocando polêmica e sem resolver muito. Em ranking mundial, o Brasil aparece como o pior país na gestão da pandemia.
E não param de circular notícias que revelam movimentos contra a imunização: em Manaus e Rio Grande do Norte, lotes de vacinas somem; em diversas localidades na Amazônia, pastores evangélicos propagam mentiras sobre a vacina entre povos indígenas e estes se mostram resistentes à imunização (movimento mundial antivacina tem grande força entre os grupos religiosos radicais), além de pessoas que bradaram contra a liberação das vacinas, apoiando Bolsonaro, mas furaram a fila de vacinação, descaradamente. O MP apura 200 denúncias.
Portanto, assim que você tiver acesso, faça a sua parte: vacine-se! E dissemine conhecimento sobre a importância da imunização nos grupos dos quais faz parte: familiar, de amizade, do trabalho, do condomínio, do bairro.
A vacina é a única “arma” eficaz contra o novo coronavírus. A única que pode salvar vidas e evitar sequelas graves nos contaminados.
Por isso, também é importante que nós, como cidadãos, cobremos a imunização de brasileiros vulneráveis como os idosos, os povos indígenas e as pessoas em situação de rua; estas têm sido ignoradas pelos governos de norte a sul do país.
Além disso, precisamos lutar pelos indígenas que vivem fora das aldeias, como contei aqui no site. Eles não foram incluídos entre os grupos prioritários pelas Secretarias de Saúde Indígena (Sesai), assim como acontece com as estatísticas da pandemia entre esses povos. Mas a imunidade fraca, inerente a todos os indígenas, que os expõe severa e fatalmente à pandemia, é hereditária não geográfica!
Conheça, também, a campanha Todos pelas Vacinas (imagem abaixo), que reúne cientistas, artistas e organizações no combate às fake news, em prol da vacinação.
Foto (destaque): reprodução dos vídeos em montagem da Fapesp para divulgação