Alguma coisa está fora da ordem nos concursos de Miss. E não é de hoje. Quando li que a primeira etapa realizada em Tarragona, na Espanha – e em outros 39 países para escolher as candidatas para a disputa mundial – elegeu a modelo transgênero Angela Ponce, de 23 anos, vibrei. Pensei que fosse inédito. Não é.
Logo em seguida, descobri que, neste país, o concurso liberou a participação de transgêneros em 2012 e, também, que Ponce não é a primeira em sua condição a disputar o Miss Universo. No mesmo ano em que os espanhóis aceitaram a diversidade no concurso, a canadense Jenna Talackova – também transgênero – ficou entre as 12 mulheres mais bonitas da competição no mundo. Poxa, estamos evoluindo!
Assim, Ponce recebeu a coroa de Miss Espanha de Sofia Del Prado (foto ao lado), vencedora do concurso em 2017 e deverá disputar a etapa mundial – ainda sem local e data definidos – com outras 40 misses eleitas, entre elas Mayra Dias, a amazonense eleita Miss Brasil em maio. Páreo duro. Veja a moça no Instagram.
Muito bacana, sem dúvida. Como já disse, um avanço. Mas jogo, aqui, uma reflexão a respeito do objetivo deste tipo de concurso que, além de alimentar o mercado da beleza nos países em que é realizado, contribui para perpetuar a objetificação da mulher. Em algumas de suas fotos, no Instagram, Angela parece uma Barbie de tão perfeita: cintura finíssima, seios e quadris fartos, esguia, cabelo impecável e liso, pele de veludo e lábios exageradamente carnudos.
É esse o modelo de beleza que ainda queremos promover nestes tempos tão artificiais?
Esse ideal inalcançável de beleza tem levado meninas, adolescentes e mulheres à depressão e a atitudes drásticas. Quando dispõem de recursos, se entregam a intervenções cirúrgicas muito cedo, ou seriadas. Ou desenvolvem distúrbios alimentares, como bulimia e anorexia, entre elas. Sem falar que ajudam a promover o assédio moral (bulliyng) que pode acabar de forma fatal. E, aqui, pouco importa se o ideal vem de uma mulher nascida como tal ou por uma transgênero. Enfim… vale pensar. O que, obviamente, não invalida a importância desta ousadia dos espanhóis, protagonizada há seis anos pelos canadenses. Exemplos a seguir, sem dúvida.
Fotos: Instagram do Miss Universo 2018, Angela Ponce e Mayra Dias