
Muriel Bowser, a prefeita negra de Washington D.C., capital dos Estados Unidos, onde quase 50% da população é negra, anunciou na terça-feira (05/03) que um dos principais símbolos da luta pelos direitos dessa comunidade será apagado. O mural Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) foi pintado ao longo de duas quadras, no chão da rua 16, em 2020, mesmo ano em que protestos se alastraram pelo país após o assassinato de George Floyd, em Minneapolis, e Breonna Taylor, em Louisville.
O mural, com suas letras maiúsculas, de 15 metros e em amarelo vibrante, está em uma rua que fica a poucos metros da Casa Branca, ocupada atualmente por Donald Trump. O presidente já declarou que quer incorporar a administração de Washington D.C. ao governo federal. E há poucos dias, Andrew Clyde, um parlamentar do partido republicado, do estado da Geórgia, também apresentou uma legislação que obrigaria a cidade a retirar o mural ou corria o risco de perder o financiamento para transporte, exemplificando bem a estratégia que parece dominar a política vigente nesses dias, a ameaça.
Muriel, que pertence ao partido democrata, admitiu que estava cedendo à pressão de Trump e seus aliados. “Temos que escolher nossas brigas. O [mural] foi muito importante para nós e para a história, e especialmente em nossa capacidade de manter nossa cidade segura durante esse tempo. Ele desempenhou um papel muito importante, mas agora nosso foco é garantir que nossos moradores e nossa economia sobrevivam”, afirmou a prefeita em entrevista para a imprensa.
Quando fala em sobrevivência da economia, Muriel se refere aos milhares de funcionários públicos federais demitidos nas últimas semanas pelo Departamento Governamental de Eficiência (DOGE), liderado pelo empresário e bilionário Elon Musk, apontado pelo presidente para fazer uma “limpa geral” na administração, que ele considera “corrupta e burocrática.” Muitas dessas pessoas vivem em Washington D.C. Segundo estimativas oficiais, a cidade perderá cerca de US$ 1 bilhão em receitas nos próximos três anos.
Desde que foi criado, o mural tinha se tornado uma atração turística na capital norte-americana. Ele surgiu após uma manifestação pacífica, realizada no local, em 2020, ter sido combatida com violência e brutalidade por policiais. Na época, Trump, em seu primeiro mandato, ameaçou colocar a guarda federal nas ruas para acabar com os protestos. Muriel, que também era prefeita então, enfrentou o presidente e proibiu a intervenção.
Quatro dias após o confronto, o letreiro gigante foi pintado e o local renomeado como Black Lives Matter Plaza.

Foto: John Brighenti/Creative Commons/Flickr
“Vocês não podem apagar a nossa história”
Em uma série de posts na plataforma X, a organização Black Lives Matter protestou contra a retirada do mural.
“Primeiro, eles atacaram a teoria crítica da raça. Depois, eles proibiram livros. Depois programas de diversidade e incIusão, agora eles estão apagando a Black Lives Matter Plaza. Grande erro. Vocês não podem apagar a verdade. Os republicanos odeiam ter que passar por ela. Odeiam que isso os lembrem do nosso poder.”
E continou. “Eles amam o “governo enxuto” até que seja hora de controlar D.C. Eles estão silenciando mais de 700 mil vozes negras e pardas. Se eles podem fazer isso, eles vão levar tudo. Próxima parada: Tudo que representa a negritude na sua cidade. Eles podem apagar nossos murais, mas não podem apagar nossa história. A Black Lives Matter Plaza é um lembrete permanente do que eles têm medo e não vamos recuar. Vidas Negras Importam ontem, hoje, amanhã, sempre. Vocês não podem nos apagar. Vocês já tentaram… e falharam.”

Foto: Ted Eytan/Creative Commons/Flickr
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Foto de abertura: cortesia Destination DC