Ontem, 6/1, a Marcha pela Justica Climática (Global Day of Action for Climate Justice), organizada pela Coalizão COP26) estava prevista em 200 cidades pelo mundo, mas as atenções se voltaram para Glasgow, cidade escocesa onde acontece a COP26 ou a 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.
Choveu o dia inteiro, a temperatura ficou por volta de 8 graus e ventou muito forte, mas nada espantou os manifestantes. E, assim, durante três horas, eles caminharam por cerca de 4 km rumo ao parque Glasgow Green, a oeste da cidade, para exigir ações urgentes contra a injustiça climática. Afinal, a crise climática enfatiza os problemas sociais e impacta, de forma contundente, os mais pobres!
Com gritos, cartazes, bandeiras e nos discursos de ativistas no parque – entre eles a brasileira Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) -, os participantes criticaram os líderes mundiais e negociadores da COP26 pela pouca ambição e pelas metas insuficientes para garantir que o aquecimento global estacione em, no máximo, 2ºC acima do registrado no período que antecedeu a revolução industrial, como determinou o Acordo de Paris, em 2015.
Para as organizações climáticas e socioambientais, as delegações da COP são compostas apenas por líderes responsáveis pela crise climática. Greta tem falado sobre isso. Os ativistas defendem e exigem uma mudança “do sistema”, o que implica em parar de incentivar o consumo exacerbado. E os indígenas perguntam desde que chegaram à Glasgow: ‘se os indigenas protegem 80% da biodiversidade do planeta porque não participam das negociações da COP26?’.
Como aconteceu na Marcha do Clima, organizada pelo movimento Fridays for Future no dia anterior – sobre a qual noticiamos aqui e que foi uma espécie de “esquenta’ para o encontro de ontem -, a diversidade de idade, raça, gênero, estilo e origem era visível, e os mais vulneráveis às alterações climáticas – povos indígenas, mulheres, negros e cidadãos periféricos, habitantes de nações insulares, representantes de comunidades extrativistas e ribeirinhas – se destacaram.
Estiveram presentes, com suas bandeiras: o movimento negro, organizações indígenas – principalmente da Amazônia -, partidos políticos de esquerda, sindicatos, feministas, religiosos, pacifistas, cientistas, educadores, médicos, como também movimentos pela independência de Glasgow da Escócia e políticos de partidos verdes da Europa.
Não teve performance artística como a dos ‘criminosos climáticos’, na Marcha do Clima (veja aqui), mas o coro-protesto ‘Fora Bolsonaro’ também ecoou no Global Day of Action for Climate Justice, em vários momentos: durante o trajeto até o parque, no palco e na plateia.
Segundo os organizadores, a manifestação atraiu mais de 200 mil pessoas, mas a imprensa internacional divulgou “cerca de 100 mil’. Não foi feita nenhuma avaliação independente e a polícia britânica não divulga esse tipo de estimativa, portanto, não teremos um número preciso. Não importa! Não é necessária essa informação quando se vê as ruas lotadas e pulsando como aconteceu em Glasgow.
Hoje, a Coalizão COP26 deu início a uma conferência paralela – a Cúpula do Povo – para debater soluções para combater a crise climática. Como diz Greta Thunberg, “deve ser óbvio que não podemos resolver uma crise com os mesmos métodos que nos colocaram nela!”, ou seja, a solução dificilmente virá de quem tem provocado as alterações do clima. A solução está na sociedade, que, obviamente, inclui os povos originários.
Célia Xakriabá, liderança da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), durante a caminhada, declarou: “Não é possível pensar em soluções para o planeta, não é possível pensar em barrar as mudanças climáticas, sem pensar na demarcação dos territórios indigenas. Isso deve ser tomado como responsabilidade civilizatória, planetária e humanitária. Pensar, hoje, a demarcação dos territórios indigenas é pensar, sim, numa cura eficaz para o planeta“.
Foto (destaque): APIB