Em São Sebastião, no litoral norte paulista, a ave Sterna hirundinacea, também chamada de trinta-réis-de-bico-vermelho, pode ser avistada no Terminal Aquaviário Almirante Barroso (Tebar), operado pela Petrobras. Por algum motivo, o bicho gostou da construção (que recebe boa parte da produção brasileira de petróleo), e achou que era um bom lugar para formar seus ninhos. A taxa de sucesso reprodutivo dos trinta-réis que habitam o Tebar, contudo, é de apenas 5,1% – ou seja, apenas 1 a cada 20 filhotes sobrevive e consegue alcançar voo. A conclusão é de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e publicado nesta sexta (20) no periódico “Ocean and Coastal Research”.
Entre abril e setembro de 2021, Léo Fonseca, estudante de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade de Ambientes Costeiros, monitorou 159 ninhos e 318 indivíduos de trinta-réis-de-bico-vermelho que circulam pelo Tebar. No total, 78 ovos foram postos, mas 63 foram perdidos, seja por causa de predadores (60,3%), por serem inviáveis para se desenvolver (34,9%) ou natimortos (4,8%).
Entre os 15 saudáveis, 11 filhotes não sobreviveram também por conta de predadores ou por quedas no mar (54,5%), colisões com veículos (36,4%) ou causas naturais (9,1%). A maioria das mortes aconteceu nos primeiros nove dias após a eclosão dos ovos. Apenas quatro indivíduos conseguiram chegar à idade de aprender a voar.
Em comparação com outros estudos feitos em ambientes naturais, a taxa de sucesso reprodutivo da S. hirundinacea encontrada pelo grupo da Unesp é considerada muito baixa. Outros monitoramentos em habitats naturais registraram taxas acima de 35%. O registro mais baixo encontrado até então, que já era um ponto fora da curva, era de 2010, num trabalho em que os pesquisadores acompanharam o desenvolvimento de 21 ovos, com taxa de sucesso reprodutivo, de 6%, em uma ilha em Santa Catarina.
“A principal causa da perda de ovos no terminal é a perturbação humana”, aponta Edison Barbieri, especialista em aves marinhas e autor sênior do estudo. “Não sabemos porque essa espécie se adaptou a este ambiente, pode ser por causa da coloração ou pela temperatura do concreto; elas fazem ninhos onde acham que é seguro”, explica. A atividade humana na costa, no entanto, prejudica o desenvolvimento seguro dos filhotes: mais de um terço deles foi morto pelo fato de os ninhos estarem próximos à circulação de veículos.
“Essas aves são sentinelas ambientais, ou seja, podem indicar como está a saúde daquele ambiente, porque são predadores de topo”, afirma Barbieri. Segundo o pesquisador, o trabalho é pioneiro em medir o sucesso reprodutivo da Sterna hirundinacea em um ambiente artificial e, por isso, seu grupo espera poder continuar pesquisas para entender os efeitos de viver em ambientes similares na espécie.
*Texto publicado originalmente no site da Agência Bori em 20/12/24
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Foto de abertura: Léo Cordeiro/acervo pesquisadores