Com o enredo “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu – Quem sou eu… Quem sou eu?, a Acadêmicos do Grande Rio, escola de samba do município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, conquistou o título de campeã do carnaval do Rio de Janeiro deste ano. Na avenida Marquês da Sapucaí, o que se viu foi um desfile belíssimo, com muitas cores, em que a agremiação queria descontruir a imagem negativa e acabar com os preconceitos religiosos em relação à divindade Exu, considerado um dos maiores orixás dentro do candomblé. Tido como uma espécie de mensageiro, ele faria a ponte entre o mundo espiritual e o humano e é símbolo de justiça, lealdade e também, traquinagens.
Dentre os muitos destaques do belíssimo show que a Grande Rio apresentou no sambódromo está o seu último carro alegórico, que foi produzido inteiramente com materiais recicláveis – adereços, esculturas e fantasias reutilizadas de carnavais passados da escola e ainda, lixo recolhido pelos catadores da associação do antigo aterro de Gramacho, em Duque de Caxias.
A ideia dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad foi mostrar o poder de transformação, algo relacionado com Exu também. O carro lembrou grandes artistas e transgressores, que no passado foram chamados de loucos, como Bispo do Rosário e Stela do Patrocínio, que faziam obras com material reciclado. Além deles, a Grande Rio homenageou Estamira, catadora que vivia em Gramacho.
“Não queríamos uma leitura romantizada e estereotipada do lixo, nem a estetização da miséria. Partimos, então, do olhar de Estamira, questionando o que é esse lixo. Entre suas provocações, ela dizia que é o material de uma sociedade deturpada, que exclui o que não considera apto. Utilizamos também a ideia de sustentabilidade. Dessa forma, trabalhamos com o produto de carnavais passados, mas também, em parceria com o Tião Santos, líder da associação de Gramacho, com pacotes e cápsulas de café, latinhas de alumínio, tampinhas, muita fiação, lixo eletrônico”, contou Bora, em entrevista ao jornal Extra.
Assim como o resto das fantasias desse ano e as demais alegorias do desfile da Grande Rio, o tema Exu privilegiou os tons terrosos e mais quentes, e sobretudo, o vermelho.
Do lixo ao luxo: a transformação de resíduos em alegorias
(Foto: reprodução Facebook Acadêmicos do Grande Rio/Vitor Melo)
Haddad e Bora contaram com a ajuda de alguns estudantes da Escola de Belas Artes da Universidade do Rio de Janeiro para confeccionar os adereços do carro alegórico. Entre eles estava a aluna do curso de Indumentária, Joana D’Arc Próperi, que ao longo dos últimos meses compartilhou toda sua empolgação em participar do projeto.
“Vocês sabiam que no carnaval nada se perde! Que fantasias de outros anos podem ser alteradas, descosturadas, desfiguradas e transformar em outras fantasias?! Mundo Mágico!”, escreveu em seu perfil nas redes sociais.
Joana em meio ao trabalho no barracão da Grande Rio
(Foto: reprodução Facebook)
Este foi o primeiro e muito merecido título de campeã da Grande Rio no Grupo Especial. Foram quase 30 anos para que a comunidade de Duque de Caxias pudesse celebrar essa vitória tão aguardada, após quatro vice-campeonatos.
Parabéns para a escola e parabéns por ressaltar a importância da reciclagem e de vivermos em um mundo mais sustentável!
O ator Demerson D’Alvaro, que representou Exu na Comissão de Frente da Grande Rio
(Foto: Facebook RioTur)
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Foto de abertura: reprodução Facebook RioTur