O tatu-canastra (Priodontes maximus) vive a maior parte do tempo dentro das enormes tocas que cava, ou melhor, túneis, já que podem chegar a 5 metros de comprimento, 1,5 a 2 metros de profundidade e 35 centímetros de largura. Já se tinha conhecimento de que diversos outros animais faziam uso desses abrigos, quando desocupados por seus donos. Todavia, nunca antes havia sido feito o registro de uma onça-pintada (Panthera onca) se refugiando em um deles.
A descoberta de que esses felinos também utilizam as tocas de tatu-canastra foi feita pelas equipes do Onçafari e do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), que a relataram em um artigo científico na revista Notas sobre Mamíferos Sudamericanos.
Armadilhas fotográficas documentaram o flagrante do macho de onça-pintada entrando em uma toca, no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, que fica na divisa de Minas Gerais e Bahia, no bioma Cerrado. Há dois anos, o Onçafari começou um projeto de monitoramento de grandes felinos na região, em parceria com a Pousada Trijunção. Para o biólogo Edu Fragoso, principal autor do estudo, a busca pela toca como refúgio térmico ressalta a importância desses abrigos em um clima cada vez mais quente.
“À medida que os cenários de aquecimento global se intensificam, as tocas de tatu-canastra podem se tornar ainda mais essenciais para diversas espécies, já que oferecem abrigo e criam um microclima mais ameno, especialmente durante os períodos mais críticos de calor extremo,” diz Edu.
Segundo as imagens obtidas em 13 de julho de 2023, pelas câmeras instaladas na entrada da toca, a onça-pintada teria permanecido por 419 minutos dentro dela, ou seja, quase sete horas, para fugir, provavelmente, das altas temperaturas, que naquele dia, em específico, variaram entre 28oC e 33oC.
“Pesquisas do Projeto Tatu-Canastra revelam que esses ambientes mantêm uma temperatura constante de cerca de 24 graus, independentemente das variações externas. Suas tocas desocupadas servem de abrigo para mais de 100 espécies de vertebrados, reforçando o papel ecológico crucial da espécie”, reforça Arnaud Desbiez, presidente e fundador do ICAS.
Muitos animais também são atraídos para essas tocas em busca de comida. O tatu se alimenta de formigas e cupins, mas ao construir os túneis quebra raízes e remexe o solo. Roedores, carnívoros, répteis e até aves, já foram vistas nesses esconderijos debaixo da terra. Mas essa foi a primeira vez que o maior felino das Américas é flagrado ali.
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Foto de abertura: divulgação Onçafari/ICAS