Hoje, comemora-se os 30 anos da ECO-92, conferência de meio ambiente e desenvolvimento, da ONU, realizada no Rio de Janeiro. Mas o Google não destacou esta efeméride em sua primeira página: escolheu uma das principais lideranças indígenas do sul do país – Rosane Matos Kaingang – para homenagear.
O motivo: a trajetória incansável e brilhante desta ativista pelos direitos indígenas, começou justamente durante este encontro marcante para o Brasil e o mundo.
“Linda homenagem do Google à Rosane Kaingang, uma mulher indígena que tanto lutou pelos direitos indígenas e antes de se encantar já lutava contra o marco temporal!”, escreveu Sonia Guajajara, coordenadora executiva da APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e pré-candidata a deputada federal.
Rosane foi a primeira mulher indígena a assumir, de 2005 a 2007, a coordenação de Desenvolvimento Comunitário da FUNAI – Fundação Nacional do Índio, viabilizando apoio a projetos de mulheres indígenas.
Também foi uma das responsáveis pela criação do Conselho Nacional de Mulheres Indígenas do Brasil (Conami), contribuindo para sua organização política e reivindicação de direitos.
Em 2009, participou da fundação da APIB e da ARPINSUL – Articulação dos Povos Indígenas do Sul.
Presença constante em debates sobre os direitos dos povos indígenas – representando, em especial, a voz das mulheres -, Rosane participou de diversos seminários, conferências e audiências. E, também, de mobilizações que reuniam delegações indígenas de todas as regiões do país em Brasília, entre as quais se destacam a Mobilização Nacional Indígena (MNI) e o Acampamento Terra Livre (ATL).
“O que nos une é a luta pela terra”
Em entrevista para a revista Insurgência, em 2015, Rosane declarou:
“Cada povo tem sua forma de olhar, sua cosmovisão, sua forma de ver e viver, sua forma do uso da terra, sua forma de pintura, a cultura tradicional. Então, nós somos diferentes, somos povos diferentes uns dos outros. Mas o que nos une é a luta pela terra, pelo território. Isso nos une fortemente, a luta pela preservação dos direitos”.
Ao ler essa frase tão impactante, lembrei que, nesta semana, Bolsonaro vetou integralmente o projeto de lei de autoria da deputada federal Joenia Wapichana, que propõe a alteração do Dia do Índio para Dia dos Povos Indígenas e foi aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado, por unanimidade. Ela reforça a importância desse PL para os povos indígenas e para a demarcação de terras.
Rosane foi batizada como Kokoj – que significa beija-flor – em homenagem à sua bisavó, durante uma cerimônia realizada por seu avô. Faleceu em 2016, aos 54 anos, vítima de câncer.
Foi casada com uma das mais importantes lideranças indígenas do país nos anos 80 e 90, Álvaro Tukano, que, infeliz e inexplicavelmente, apoia o governo Bolsonaro.
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Imagem: reprodução do doodle do Google