Apenas quatro anos após uma nova espécie de macaco do Mato Grosso ter sido descrita por cientistas ela já foi incluída na nova lista dos 25 primatas mais ameaçados do planeta. O Plecturocebus grovesi faz parte do grupo conhecido popularmente como zogue-zogue ou titi (sub família Callicebinae), que só existe na América do Sul.
A atualização desse triste ranking de primatas à beira da extinção foi divulgada durante o 19o Congresso da Sociedade Brasileira de Primatologia, realizado no final de agosto em Sinop, no Mato Grosso.
O Plecturocebus grovesi, chamado popularmente de zogue-zogue de Alta Floresta, vive ao norte do estado, na divisa com o Pará, na região conhecida como o Arco do Desmatamento, onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta e também onde encontram-se os maiores índices de devastação da Amazônia. Como é uma animal arborícola, que depende das árvores para sua sobrevivência, desde sua descrição em 2018 já sabia-se que ele estava criticamente ameaçado.
Com a cauda preta, algo incomum entre os zogue-zogues, o macaquinho de Alta Floresta possui as costas em tons avermelhados e da pelagem da face esbranquiçada. Habitat uma área muito delimitada entre os rios Juruena e Teles-Pires, em Mato Grosso.
Além do zogue-zogue de Alta Floresta, as outras quatro espécies de primatas brasileiros que aparecem na edição 2022-2023 da lista internacional são o Cebus kaapori, que de tão raro nem tem um nome popular, o bugio-ruivo – guariba, barbado ou gritador – (Alouatta guariba), também observado na Argentina, e o sagui-da-serra-claro (Callithrix flaviceps), que aparece no ranking pela primeira vez.
“Esperamos que a inclusão do zogue-zogue de Alta Floresta na lista dos 25 primatas mais ameaçados do mundo seja um alerta para os legisladores de Mato Grosso que agora têm a oportunidade de proteger essa espécie endêmica”, diz Leandro Jerusalinsky, chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros. “Esse macaco é o candidato perfeito para se tornar a espécie emblemática do Mato Grosso e não há dúvida de que, ao conservar essa espécie, outros animais selvagens, incluindo primatas ameaçados, serão beneficiados”.
O sagui-da-serra-claro
(Foto: Lucas Amaral)
O Brasil é o país com o maior número de primatas conhecidos. São cerca de 140 táxons (espécies e subespécies), distribuídas em 5 famílias e 19 gêneros. 83 táxons são endêmicos das florestas brasileiras, ou seja, só existem nelas e em nenhum outro lugar do mundo.
Aproximadamente 40% das espécies de primatas brasileiros estão sob algum grau de risco de extinção. Além do desmatamento resultante da expansão agropecuária, expansão urbana, atividades de exploração madeireira, doenças e o cruzamento entre espécies diferentes são apontados por especialistas como as principais ameaças à sobrevivências desses animais.
O raríssimo Cebus kaapori
(Foto: Fabiano Melo)
Fazem parte ainda do relatório “Primates in Peril 2022-2023” seis espécies da África, quatro de Madagascar, oito da Ásia e sete dos Neotrópicos. Oito delas estão na lista pela primeira vez, enquanto as 17 restantes foram listadas em versões anteriores do levantamento.
De acordo com a Re:wild, uma das organizações responsáveis pela elaboração da lista, o Brasil é um dos quatro países – incluindo também Madagascar, Indonésia e República Democrática do Congo – que são essenciais para a conservação de primatas de uma perspectiva global. Essas quatro nações abrigam 67% das 510 espécies globais de primatas.
“Só porque um primata acaba na lista de ‘Primatas em Perigo’ não significa que a situação seja desesperadora. Na verdade, nosso objetivo com o relatório é destacar aquelas espécies, como o macaco titi do Mato Grosso, onde há oportunidades de conservação. Esperamos que este relatório ajude a estimular os recursos necessários, pesquisas e vontade política para reverter o declínio dessas espécies, aqueles com quem compartilham sua casa, os ecossistemas em que vivem e a saúde do planeta em geral”, ressalta Russ Mittermeier, chefe de conservação da Re:wild.
O bugio-ruivo
(Foto: Gerson Buss)
*Com informações da Sociedade Brasileira de Primatologia, Re:wild e Revista Pesquisa Fapesp
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Foto de abertura: Leandro Jerusalinsky via Re:Wild