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Jornalistas palestinos são indicados ao Prêmio Nobel da Paz; entre eles Bisan Owda, que também concorre ao Emmy 

Quatro jornalistas palestinos são indicados ao Prêmio Nobel da Paz; entre eles Bisan Owda, também nomeada ao Emmy 

Quatro jornalistas palestinos foram indicados ao Prêmio Nobel da Paz de 2024 como reconhecimento por sua coragem e reportagens destemidas desde o início dos ataques de Israel à Faixa de Gaza em outubro de 2023 (o vencedor será conhecido em 11 de outubro).

São eles: Motaz Azaiza (Motaz Hilal Azaiza), Wael Al-Dahdouh (Wael Hamdan Ibrahim Al-Dahdouh), veterano chefe da sucursal da Al Jazzera em Gaza; Bisan Owda, documentarista e ativista, também indicada ao Emmy; e Hind Khoudary (Hind Osama Al-Khoudary), repórter de TV que trabalha na Al Jazeera desde que Israel começou a bombardear Gaza.

Cada um tem papel crucial na disseminação das histórias de Gaza ao mundo, amplificando as vozes das vítimas do genocídio e combatendo as mentiras que contam sobre a atuação e intenções de Israel. Na maioria das vezes em que relatam a realidade nua a crua, arriscam suas vidas.

As jornalistas Bisan e Khoudary permanecem em Gaza, enquanto Motaz Azaiza e Wael Al-Dahdouh deixaram o país mais ou menos ao mesmo tempo, em janeiro. O primeiro por motivos pessoais: ele e sua família foram diretamente ameaçados. O segundo para tratar de ferimentos graves nas mãos. 

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Culpa, dor e desesperança

Antes do ataque do Hamas a Israel e a retaliação desproporcional deste país sobre Gaza, as postagens de Motaz Azaiza, 25 anos, em suas redes sociais, apresentavam a vida cotidiana e a beleza de seu país. Mas foi no período de 2014 a 2021 que seu nome ganhou destaque e reconhecimento mundial ao documentar o massacre e a luta dos palestinos para sobreviver à Israel.

Quatro jornalistas palestinos são indicados ao Prêmio Nobel da Paz; entre eles Bisan Owda, também nomeada ao Emmy 
Motaz Azaiza saiu de Gaza em janeiro, pressionado por ameaças,
mas continua disseminando a verdade sobre Gaza em suas redes,
palestras e mobilizações das quais participa pelo mundo

Foto: reprodução do Instagram

Arriscando sua vida, ele se manteve comprometido em revelar a verdade através das lentes de suas câmeras, e o impacto das imagens que registrou durante 108 dias do genocídio foi ainda maior.

Escrevi sobre Motaz aqui, no Conexão Planeta, quando ele saiu de Gaza. Sua missão desde então tem sido contar, ao vivo – em palestras, mobilizações etc – sobre sua experiência e a barbárie cometida por Israel diariamente. 

Sua popularidade, para além do território palestino é notória e, por isso, antes de 2023 terminar, foi escolhido pela revista masculina GQ do Oriente Médio como o Homem do Ano, título que lidera uma lista anual de personalidades. 

Uma homenagem a ele e “a todos cujo destemor permanece incomparável, como Plestia Alaqad, Hind Khoudary, Wael Al-Dahdouh, Issam Abdallah, Shireen Abu Akleh, além de inúmeros nomes que conhecemos ou não”, escreveu o jornalista Ahmad Swaid, que ainda destacou em página da revista: 

“[Motaz] Tornou-se uma figura global, um veículo de resistência e a personificação da esperança para o povo de Gaza e para o resto de nós, em todo o mundo”. 

Há momentos em que ele questiona se deveria realmente ter saído de Gaza, num misto de culpa, dor, desesperança.

Mergulhado na dor

Em janeiro deste ano, Wael Al-Dahdouh, 54 anos, saiu de Gaza e foi para Doha, no Catar, onde está a sede da Al Jazeera – TV para a qual trabalha desde 2004; era chefe da sucursal em Gaza – para tratar de ferimentos graves nas mãos, resultado de um ataque de drone do exército contra ele e o amigo Samer Abudaqa, cinegrafista. 

Quatro jornalistas palestinos são indicados ao Prêmio Nobel da Paz; entre eles Bisan Owda, também nomeada ao Emmy 
Wael Al-Dahdouh, ex-chefe da sucursal da Al Jazeera em Gaza
Foto: reprodução do Instagram

Os dois foram atacados por drones do exército israelense, enquanto gravavam reportagem em Gaza. Samer ficou gravemente ferido, mas os soldados impediram que ele fosse socorrido e sangrou até a morte. 

Quando o ataque aconteceu, Wael já havia perdido quase toda a família – a esposa, dois filhos pequenos e um neto em 25/10/2023, além do filho repórter (também na Al Jazeera), este ano – assassinados por bombardeios e drone da força israelense.

Wael é uma figura heroica neste cenário de barbárie. Nunca parou de trabalhar, mesmo mergulhado na dor. 

Perseguida por sionistas

Bisan Owda, 25 anos, é jornalista, ativista e cineasta e ganhou amplo reconhecimento por sua presença firme e potente nas redes sociais, ao relatar o genocídio, muitas vezes ao vivo, em momentos de grande perigo, ao som de bombas e explosões. 

Quatro jornalistas palestinos são indicados ao Prêmio Nobel da Paz; entre eles Bisan Owda, também nomeada ao Emmy 
Além do Nobel da Paz, a destemia Bisan Owda foi indicada
também para o Emmy Award com seu documentário de oito minutos
Foto: reprodução do Instagram

Suas atualizações sobre a vida dos civis palestinos em Gaza têm ajudado a aumentar a conscientização sobre a crise humanitária que só cresce.

Este mês, ela foi indicada ao Emmy Award – o maior e mais prestigioso prêmio atribuído a programas e profissionais de televisão -, na categoria de Melhor Reportagem de Hard News por documentário de oito minutos – It’s Bisan From Gaza and I’m Still Alive -, filmado e narrado pela jornalista e produzida pela AJ+, editora digital da Al Jazeera. 

“Bom dia a todos. Aqui é Bisan, de Gaza!”, diz ela no vídeo publicado em 3 de novembro, portanto, menos de um mês após o início da ofensiva militar israelense. “Estou sorrindo porque ainda estou viva”, diz ela.

Nele, ela mostra como era sua vida no final de outubro – quando morava em uma tenda do lado de fora do hospital Al-Shifa na Cidade de Gaza – e a de moradores de Gaza que ela entrevistou, incluindo um garoto de 11 anos que disse que seus pais foram assassinados na sua frente e que a mãe estava grávida de sete meses.

No entanto, nem todos ficaram satisfeitos com a indicação de Bisan. 

Creative Community for Peace, organização sem fins lucrativos da indústria do entretenimento, que se opõe ao antissemitismo e aos boicotes culturais a Israel (“sionistas de Hollywood”, como têm sido chamados), publicou carta aberta em 26/8, solicitando à National Academy of Television Arts and Sciences – NATAS (Academia Nacional de Artes e Ciências da Televisão) que rescindisse sua indicação ao Emmy para Bisan. 

Os 150 profissionais que compõem a organização também pediram para que a organização do Emmy anulasse sua indicação. 

Tanto o Emmy quanto a Al Jazeera responderam defendendo a indicação da jornalista palestina. Adam Sharp, CEO da NATAS, declarou que o prêmio reconhece a excelência jornalística (no final deste post, leia a carta que ele escreveu).

Em junho, Bisan já havia conquistado o Prêmio Peabody pela mesma série. Ela aceitou o reconhecimento “de um campo de refugiados na Faixa de Gaza ocupada, e foi uma das pessoas mais jovens a receber um prêmio na cerimônia deste ano”, contou a Al Jazeera. O júri do Peabody declarou: “Bisan foi indicada por mostrar bravura e persistência em meio a um perigo iminente e por carregar um pesado fardo jornalístico enquanto o mundo inteiro observa”. 

Em seu currículo, consta a produção do programa Hakawati, que revela a história e a cultura palestinas. E, também, a criação de conteúdo educacional para o canal Easy Languages ​​do YouTube. 

Bisan também colaborou com organizações como a ONU Mulheres, a União Europeia e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Em defesa dos direitos humanos

A jornalista Hind Khoudary, 29 anos, viveu na Turquia por quatro anos, durante a pandemia de covid-19, retornando à Gaza em agosto de 2023.

Suas reportagens geralmente se concentram em questões políticas, humanitárias e sociais, com atenção especial à crise humanitária em Gaza e ao impacto das operações militares nas comunidades palestinas.

Quatro jornalistas palestinos são indicados ao Prêmio Nobel da Paz; entre eles Bisan Owda, também nomeada ao Emmy 
Hind Khoudary é uma defensora aguerrida dos direitos humanos
Foto: reprodução do Instagram

Khoudary já colaborou com publicações como The New Arab, Middle East EyeAnadolu Agency e +972 Magazine. E, desde outubro de 2023, trabalha para a Al Jazeera.

Sua presença online em plataformas como Twitter e Instagram atraiu atenção e alguns de seus posts têm sido citados pelo The New York TimesNPR e Utusan Malaysia.

Sua forte ligação com a defesa dos direitos humanos a levou a trabalhar com a Anistia Internacional em 2019. Ela documentou os protestos da Grande Marcha do Retornoem 2018 – idealizada para chamar a atenção do mundo para “a luta de centenas de milhares de palestinos que têm sido expulsos de seus lares que ficavam onde hoje está Israel”, defendiam os participantes -, e relatou preocupações com direitos humanos. 

Jornalistas são alvo em zonas de conflito

A indicação dos jornalistas palestinos ao Nobel da Paz é imprescindível neste momento para chamar a atenção para o que ocorre com a maioria dos profissionais de mídia em zonas de conflito

Sua segurança está cada vez mais comprometida. No caso de Gaza, o capacete e o colete utilizados por eles para proteção, tornaram-se alvo dos soldados israelenses

Desde outubro de 2023, a Unesco relatou as mortes de 26 jornalistas em Gaza para ilustrar os riscos extremos que enfrentam ao tentar informar o mundo sobre a situação no local. No entanto, esses números estão subestimados. 

Até março, segundo a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), eram mais de 100 os jornalistas assassinados no território palestino. De acordo com o Monitor do Orienteaté julho eram 160

Em fevereiro deste ano, relatório publicado pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), indicava que Gaza foi o lugar mais mortal para jornalistas em 2023. Mais de três quartos dos 99 jornalistas e funcionários da imprensa que perderam a vida em 2023 morreram sob os bombardeios israelenses em Gaza

E, em junho, cinco jornalistas foram assassinados em 24 horas.

O Nobel da Paz 2024

Segundo o Comitê Nobel Norueguês 285 candidatos foram indicados para o Prêmio Nobel da Paz de 2024, entre eles: 196 indivíduos e 89 organizações.

Como acontece todo ano, as indicações refletem a realidade do mundo e, em 2024, a gama diversificada de defensores da paz inclui pessoas envolvidas em conflitos como em Gaza e Ucrânia.

Em 11 de outubro, o vencedor do Prêmio Nobel da Paz será anunciado e, em 10 de dezembro, receberá a honraria, “dando continuidade á tradição de reconhecer aqueles que lutam pela paz e pelos direitos humanos em circunstâncias desafiadoras”, declara o comitê.

Torço pelos jornalistas palestinos! Qualquer um que ganhe o prêmio representará os demais colegas que ainda resistem em meio aos ataques violentos de Israel e, também, os que foram perseguidos e mortos por seus soldados.

Carta do CEO da Emmy sobre indicação de Bisan Owda

Agora, leia a carta de Adam Sharp, CEO da Academia Nacional de Artes e Ciências Televisivas (NATAS), em resposta ao pedido de anulacao da indicação de Bisan Owda ao Emmy Awaard:

“Obrigado por sua carta de 19 de agosto de 2024, sobre a nomeação de “It’s Bisan From Gaza and I’m Still Alive” para o prêmio Emmy de Notícias e Documentários de 2024. 

O Emmy de Notícias e Documentários reconhece a excelência no jornalismo televisivo há quase meio século. Os programas e reportagens homenageados levaram os espectadores às linhas de frente de todos os conflitos mundiais, sondaram divisões políticas e culturais e buscaram iluminar até as circunstâncias mais sombrias.

Alguns desses trabalhos foram controversos, dando uma plataforma a vozes que certos espectadores podem achar questionáveis ou até mesmo abomináveis. Mas todos estiveram a serviço da missão jornalística de capturar todas as facetas da história. 

Em todos os casos, as inscrições para o Emmy de Notícias e Documentários são julgadas por jornalistas experientes de várias organizações de notícias, atuando de forma independente e voluntária. 

A NATAS não intervém ou anula o julgamento desses jornalistas, exceto quando as regras de competição foram violadas, nem a NATAS determina a elegibilidade ou inelegibilidade de reportagens jornalísticas com base nas visões políticas representadas. 

“It’s Bisan From Gaza and I’m Still Alive” foi revisado por dois painéis sucessivos de juízes independentes, incluindo liderança editorial sênior de cada rede de notícias de transmissão significativa dos EUA. Foi selecionado para indicação entre mais de 50 inscrições em uma das categorias mais competitivas do ano. 

A peça também foi reconhecida por conquistas jornalísticas pelos prêmios Peabody e Edward R. Murrow, cada um administrado por processos e organizações totalmente separados e independentes da NATAS e do News & Documentary Emmys. 

A NATAS está ciente de relatórios, citados em sua carta e inicialmente revelados por um consultor de comunicações na região, que parecem mostrar um Bisan Owda então adolescente falando em vários eventos associados à Frente Popular para Liberação da Palestina (PFLP) entre seis e nove anos atrás. 

A NATAS não conseguiu corroborar esses relatórios, nem conseguiu, até o momento, trazer à tona qualquer evidência de envolvimento mais contemporâneo ou ativo de Owda com a organização PFLP. Mais criticamente, o conteúdo submetido para consideração do prêmio era consistente com as regras da competição e as políticas da NATAS. 

Consequentemente, a NATAS não encontrou fundamentos, até o momento, para anular o julgamento editorial dos jornalistas independentes que revisaram o material. Obrigado. Agradeço sua cortesia em compartilhar nossa resposta com seus co-signatários. 

Atenciosamente, Adam Sharp, Presidente e CEO da NATAS”
__________

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Fotos: reproduções do Instagram

Com informações dos perfis dos indicados, da Fepal Brasil, do site do Emmy e do Prêmio Nobel

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