Há poucos dias o climatologista brasileiro Carlos Nobre – um dos maiores pesquisadores e defensores da Amazônia – se tornou membro do coletivo Guardiões Planetários (como contamos aqui), lançado em 2023, comprometido com a ciência e a sabedoria dos povos indígenas do Brasil, debate a emergência do clima em todo o mundo e tem como foco restaurar a estabilidade da Terra.
No evento, realizado no Brasil, além de apresentar os novos guardiões, a organização homenageou um grupo de “cientistas indígenas extraordinários” – Braulina Baniwa, Francisco Apurinã, Sineia Bezerra do Vale e Cristiane Gomes Julião, que receberam o prêmio ‘Cientista Indígena do Brasil’ das mãos de Carlos Nobre.
“A Floresta Amazônica é o coração biológico do planeta, com pelo menos 13% da biodiversidade mundial. Aproximadamente 28 milhões de pessoas vivem na Amazônia brasileira, incluindo muitos povos indígenas, afrodescendentes e comunidades ribeirinhas que preservam a floresta tropical há centenas de anos. Investir neles e garantir que possam proteger a floresta amazônica é um dos melhores investimentos que podemos fazer para preservar nosso sistema compartilhado de suporte à vida”, declarou Carlos Nobre na ocasião.
Braulina Baniwa
Antropóloga, pesquisadora e ativista indígena, é defensora dos direitos indígenas e das mulheres, em especial das questões de gênero, sexualidade indígena e violência contra mulheres.
Mestranda em Antropologia Social na Universidade de Brasília é membro da Articulação Brasileira de Indígenas Antropólogas (Abia) e da Articulação Nacional Das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).
Organizou o livro Vivências diversas: uma coletânea de indígenas mulheres (volume 6), que reúne memórias, vivências e artigos autobiográficos de indígenas mulheres, intelectuais, de oito povos indígenas: Baniwa, Baré, Piratapuia, Tuyuca, Sateré-Mawé, Pankararu, Pataxó, Kaingang.
Cristiane Gomes Julião
Indígena do povo Pankararu, é graduada em Geografia, mestre e doutoranda em Antropologia Social com foco em direitos humanos (em especial das mulheres), povos indígenas e meio ambiente
Integra a Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), a Articulação dos Povos Indígenas (APIB) e o Coletivo Voz das Mulheres Indígenas.
Ao lado de Glicéria Tupinambá, dirigiu o documentário ‘Voz das Mulheres Indígenas’, de 2015. Este mês, participou de evento do G20 – Patrimonio Cultural e Ações Climáticas -, organizado pelo IPHAN.
Francisco Apurinã
Antropólogo e escritor, é mestre em Desenvolvimento Sustentável e doutor em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB), formado em Administração e se dedica ao estudo e à difusão da cultura, dos conhecimentos tradicionais e das questões socioambientais relacionadas aos povos indígenas e pesquisa mudanças ecológicas na perspectiva indígena pela Universidade de Helsinki, na Finlândia.
Nascido na Terra Indígena Camicuã, na comunidade de mesmo nome, localizada no município de Boca do Acre, no Amazonas, Ywmuniry, como também é conhecido, é líder indígena do povo Apurinã e atua na defesa dos direitos indígenas através da antropologia, desenvolvendo linhas de pesquisa prioritárias a etnologia e etnografia indígena, ciências naturais e ambientais.
Além da atuação na academia, há mais de 20 anos presta serviços para os governos estadual e federal, assim como ONGs para o desenvolvimento de políticas públicas e indigenistas.
Autor de publicações científicas (dois livros resultantes de sua dissertação de mestrado e artigos em periódicos acadêmicos), busca fomentar a valorização da cultura indígena e dos conhecimentos tradicionais.
Sineia Bezerra do Vale
Liderança indígena do povo Wapichana, é autoridade climática no Brasil, atuando há mais de 30 anos na defesa de territórios, do meio ambiente e para que os indígenas sejam ouvidos nas decisões sobre mudanças climáticas.
É autora e coordenadora do primeiro estudo ambiental sobre as transformações do clima ao longo dos anos na vida dos povos da região da Serra da Lua, no seu estado. A publicação –Amazad Pana’ Adinham: percepção das comunidades indígenas sobre as mudanças climáticas – é considerada referência mundial quando se trata de emergência climática e povos tradicionais.
Gestora ambiental da Terra Indígena Serra da Lua, do povo Wapichana, também é coordenadora do Comitê Indígena das Mudanças Climáticas (CIMC), grupo apoiado pelo IPAM que integra a Câmara Técnica de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
“Este é um momento muito importante para os povos indígenas. Neste momento em que a gente se coloca junto com a ciência que chamamos de ciência universal, a ciência indígena tem uma importância tanto quanto a que os cientistas traduzem para nós, principalmente na questão do clima”, declarou após receber o prêmio.
“Os indígenas já colocaram em seus planos de enfrentamento às mudanças climáticas que as águas já aqueceram, que os peixes já sumiram e que não estamos mais vivendo o período de adaptação, mas o de crise climática”, acrescentou.
“Precisamos de resposta rápidas. Não podemos mais deixar que os países não cumpram seus acordos porque à medida que o globo terrestre vai aquecendo, os povos indígenas sofrem nas suas terras com grandes catástrofes ambientais”, finalizou.
Em abril de 2021, contamos sobre a participação de Sineia na Cúpula do Clima, na qual declarou que “Os povos indígenas são doutores em meio ambiente. Por isso estamos aqui trazendo sua voz, falando de estratégias de conservação das florestas, dos biomas, falando da floresta em pé“.
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Foto: Patrícia Zuppi/Rede RCA/divulgação
Com informações da Rede RCA, dos Guardiões Planetários, do G1