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Quando o mundo amanhece mais triste

por do sol em nice

Ainda está escuro lá fora. Este é o meu último dia de férias junto com minha família. Estamos partindo das Ilhas Canárias, na Espanha, voltando para Londres, onde moramos atualmente. Comento com meu marido como é linda a visão das pequenas casas iluminadas na ilha. Decido então ligar o celular – ah, esse vício maldito -, e me deparo com a tragédia ocorrida em Nice.

A notícia me dá um nó no estômago. De repente, sinto que este não é um bom dia para estar em um aeroporto. Olho para meus dois filhos e penso que, para muitas famílias envolvidas no atentado da França, o dia nunca vai amanhecer. A escuridão continuará para sempre.

O caminhão que atropelou a multidão em Nice, em meio às comemorações do Dia da Bastilha, celebração nacional naquele país, matou mais de 80 pessoas (84 é o número oficial até o momento, mais dezenas em estado gravíssimo). Entre as vítimas, estão muitas crianças. Se para muitos de nós, morte já é algo difícil de se aceitar, quando envolve um menor, ela é simplesmente devastadora.

Não se sabem ainda os motivos pelos quais o homem responsável por tão incompreensível ato decidiu acabar com a vida de tantos inocentes. Mas indícios apontam para a razão de sempre: ignorância, desrespeito e intolerância.

Foram mais de 80 vidas tiradas ontem à noite em Nice. Mais de 130 em Paris em novembro do ano passado. São centenas todos os dias na Síria. Outras sem número diariamente no Afeganistão, Paquistão, Iraque, Nigéria.

O mundo vive um momento sombrio. Me questiono, muitas vezes, se não estamos andando para trás. Nos comportando como os bárbaros dos tempos medievais. Vejo um comentário de uma amiga no Facebook, indignada com o episódio em Nice: “Ah, humanidade… Nem vale a pena argumentar. Falhamos!”, desabafa. Uma parte de mim, infelizmente, concorda com ela. É simplesmente muito triste.

Quem empunha a arma ou dirige o volante, que passa por cima da humanidade, são a intolerância religiosa, o desrespeito à diversidade, a ignorância em aceitar as escolhas do próximo. Culpados também são aqueles que disseminam o ódio pelas redes sociais, inflamam o discurso preconceituoso e apóiam o radicalismo. São aqueles que reforçam a crença de que todo muçulmano é terrorista, todo padre é pedófilo, todo francês é xenófobo, toda mulher deve ser submissa.

O que eles não sabem, entretanto, é que toda generalização é burra! Quando, de uma vez por todas, iremos aprender que cada ser humano é único? E que, por isso mesmo, ele merece e tem direito a ser respeitado?

Ao meio-dia, quando desembarcamos no aeroporto de Málaga, pelo alto-falante foi pedido um minuto de silêncio pelas vítimas de Nice. Fiquei com o coração apertado novamente. Meus filhos estavam ali na minha frente. Ao alcance dos meus braços. Felizes, saudáveis … vivos.

Imaginei como será insuportável o silêncio dos pais e mães que jamais voltarão a ouvir os seus fihos conversando, brincando, correndo. Para eles, a escuridão não irá embora.

A guerra da violência é uma batalha sem vitoriosos. Só há perdedores. Todos perdemos: eu, você, as vítimas, os criminosos, a humanidade. O mundo se cala diante do absurdo.

Foto: domínio público/pixabay

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