Minha missão ali, ao longo dos dias, foi a de facilitar vivências de ecologia profunda para provocar a reconexão com a floresta e entre eles. A viagem toda aconteceu dentro de um barco que navegou pelo rio Tapajós. Passamos pela Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns e pela Floresta Nacional do Tapajós.
Em nossas visitas, os jovens visitaram as comunidades, falaram com os ribeirinhos, nadaram no rio Tapajós e em igarapés no meio da floresta, comeram comidas típicas, dormiram em redes, compraram artesanatos locais, andaram nas praias à noite.
Eu vi esses jovens interagindo com a Amazônia real e me perguntava sobre os outros jovens deste nosso Brasil que nunca terão a mesma oportunidade de conhecê-la pessoalmente. Me perguntava como faremos para diminuir a distância emocional dos jovens brasileiros com a floresta, já que a maioria nunca pisará naquelas terras.
Continuo com muito mais perguntas do que respostas. E sei que não sou a única.
Os irmãos Sacannavino – Eugenio e Caetano -, fundadores do Projeto Saúde e Alegria, que há mais de 30 anos cuida da saúde de comunidades tradicionais e indígenas da região, também têm os mesmos questionamentos e sonho que eu: amazonizar o mundo!
As vivências de ecologia profunda certamente são um caminho, mesmo para quem não está na floresta. Eu apliquei as que aprendi com Joanna Macy, que há 40 anos faz e ensina o que ela chama de The Work That Reconnects (O Trabalho que Reconecta).
O que ofereci a eles:
– Viagem no tempo desde a formação do nosso planeta até os dias de hoje, para que sintam em si toda riqueza de vida da Terra;
– Vivência de reconhecimento de nossas virtudes em nossas jornadas pra tornar esse mundo melhor!
– Mandala da Verdade, um processo e tanto de cura das nossas dores mais profundas e de fortalecimento da alma pra seguirmos adiante com nossos propósitos de vida;
– Exercícios de escuta ativa: o aprender a falar e também a escutar. Muito potente para nossa caminhada juntos.
Também dei uma palestra sobre a importância da reconexão afetiva com a Amazônia e apontei caminhos para que as pessoas passem a ver a floresta e seu povo com mais gratidão, carinho e respeito.
Ao final dos dias, a reconexão com a Amazônia, com eles mesmos, entre eles, foi inevitável! Fico feliz em poder, de alguma maneira, ter ajudado nesse processo.
Depoimento de Igor Vieira, um dos jovens, sobre a Amazônia. Ele escreveu isso em seu perfil no Facebook:
“Vivenciar a Amazônia é um negócio que ainda tô processando e talvez não vou processar nunca. Pisar naquela terra, sentir aquelas águas, respirar aquele ar e ver a lua iluminar todo o mato de tão alta e forte.
Algumas coisas a considerar:
– Se você mergulhar no rio de forma bem silenciosa e ouvir embaixo d’água se escuta o barulho todinho da floresta: os grilos, os macacos, as árvores;
– Se você decide dormir perto da mata, pode ser que se assuste na madrugada com o som de um macaco chamado guariba. (a primeira experiência pode lhe derrubar da rede, eu juro);
– Falar de Amazônia é falar do seu povo, da consciência e do ensinamento que eles têm pra nos oferecer. Espero que saibamos ouvir mais essas pessoas incríveis;
– Vivenciar a Amazônia é ver o rio virar mar e pensar sempre se tem ou não uma arraia escondida perto dos seus pés;
– Vivenciar a Amazônia é chorar sem saber o motivo, mas ter a certeza de que esse é o choro certo e
– A Amazônia é indescritível, única e majestosa.
Todo dia, agora, meu pedido vai direto aos encantados da floresta, pra que eles segurem a onda de um lado, enquanto a gente tenta aqui, do outro, em passinhos de tartaruga proteger nosso tesouro.
A Amazônia somos nós!”
Muito obrigado a todos que se deixaram levar com a gente nesse encontro nacional. Juntos nós podemos tudo e mais um pouco. Seguiremos.
Palavras de um coração tocado pela floresta. Como tocar os outros, que nunca pisarão lá? Essa é a missão do Reconexão Amazônia e a isso tenho me dedicado profundamente. Aceito respostas.
Escreva para mim – reconexaoamazonia@gmail.com – caso queira aprofundar esses questionamentos comigo ou, até mesmo, solicitar vivências de ecologia profunda em sua comunidade.
Vamos juntos! A Amazônia e o povo da floresta agradecem.
Afinal, de uma coisa tenho absoluta certeza e já tenho a resposta: a reconexão emocional e afetiva com a floresta é a pedra fundamental para salvá-la.