Cresce a indignação contra a inércia e morosidade das autoridades brasileiras ao lidar com o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, desde domingo, no Vale do Javari, na Amazônia. Principalmente aqui, no Brasil, e em Londres, onde mora a família de Dom. Mas, hoje, duas manifestações importantes deram outro tom à repercussão do caso.
Vigília por Dom e Bruno
A embaixada brasileira em Londres amanheceu cercada por uma corrente de pessoas que cobravam respostas do governo Bolsonaro e questionavam a lentidão das buscas, exigindo mais recursos como helicópteros e um contingente maior de policiais e agentes.
Elas portavam rosas vermelhas e cartazes com a ilustração impactante produzida com fotos dos desaparecidos pelo brasileiro Cristiano Siqueira – mais conhecido como Cris Vector na internet –, que se espalhou pelas redes sociais e se tornou símbolo de luta pelo resgate dos dois ativistas.
O protesto foi organizado pelo Greenpeace e contou com a participação de Sian Phillips, irmã de Dom, que declarou ao G1: “Eles” (do governo) “podem fazer mais, podem intensificar as buscas, colocar mais recursos para isso, e se houve alguma atividade criminosa, as pessoas buscarão justiça”.
Após a vigília, Sian e outros parentes de Phillips entraram na embaixada para conversar com as autoridades presentes. Segundo reportagem do G1, o Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido declarou que está em contato com o governo brasileiro.
Recepção “calorosa” em Los Angeles
Bolsonaro chegou hoje a Los Angeles para participar da Cúpula das Américas, que reúne (alguns) líderes de países da América do Sul, Central e Norte.
Ativistas organizaram uma recepção ‘calorosa’, que transita pelas ruas e expõe o caso de Bruno e Dom, como aconteceu durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em setembro de 2021 (como contamos aqui).
Caminhões portam telões de LED nas laterais circulam pela cidade exibindo mensagens relacionadas ao desaparecimento dos ativistas e terminam o roteiro se posicionando na entrada do local onde é realizado o encontro.
Um dos veículos exibe a mesma ilustração de Cris Vector, com a pergunta que não quer nem vai calar, em inglês:“Where are Dom e Bruno?”. Acima da imagem, uma frase contundente: “Threatened: now missing” (Ameaçados: agora, desaparecidos).
O outro, resume bem o caso: “A British journalist and a Brazilian indigenous expert are missing in a region of the Amazon known for illegal mining” (Um jornalista britânico e um especialista indígena brasileiro estão desaparecidos em uma região da Amazônia conhecida por mineração ilegal).
Faltou dizer que se trata de uma região onde também atuam madeireiros e traficantes de drogas, mas ocuparia muito espaço na tela…
Apenas mais um episódio
Bolsonaro aceitou participar da Cúpula das Américas dois dias depois da conversa com o enviado especial do governo americano, responsável pelo encontro, Christopher Dodd, e o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Douglas Koneff, no Palácio do Planalto.
Se Biden não questionar Bolsonaro a respeito do desaparecimento de Bruno e Dom, espero que a imprensa Internacional não o deixe em paz.
Seria um fiasco tratá-los com desrespeito como faz com os jornalistas brasileiros, mas esta é sempre uma possibilidade. Afinal, não há nada que possa manchar ainda mais a imagem do presidente brasileiro, que chamou o trabalho de Dom e Bruno na Amazônia de “aventura não recomendável”, desqualificando e culpando os dois pela tragédia.
Sua postura desumana – que inclui a inércia nas buscas – diante de um caso tão grave como este é apenas mais um episódio na trajetória de seu perverso governo.
A seguir, assista ao vídeo do Greenpeace sobre a vigília realizada em frente à embaixada brasileira em Londres, no Reino Unido:
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Fotos: Greenpeace (Londres) e reproduções do Facebook (Los Angeles)