Ontem, 24 de abril, foi um dia especial para os a. Além da abertura do 19º Acampamento Terra Livre, a maior mobilização indígena do país, em Brasília, Alessandra Korap, liderança do povo Munduruku, do Pará, recebeu, em São Francisco, nos EUA, o The Goldman Environmental Prize (Prêmio Ambiental Goldman), um dos mais importantes relacionados ao meio ambiente no mundo (como contamos aqui).
E, como era de se esperar, Alessandra fez um discurso forte e comovente. Falou da luta de seu povo contra a mineração de seu território pela britânica Anglo American, que levou a empresa a desistir de explorar a região.
Esta foi uma vitória importante não apenas para os Munduruku (que autodemarcaram suas terras em 2019 e expulsaram invasores, queimando seus maquinários), mas para todos os povos indígenas do país.
Declarou que os indígenas não vão desistir de lutar e conclamou todos os presentes e ouvintes da transmissão ao vivo para lutarem também:
“Cada um de nós tem a responsabilidade de fiscalizar o seu país e suas empresas. Mineradora traz violência e destruição para a floresta, para os rios e para o nosso povo”.
E finalizou sua fala cobrando o presidente Lula: “Cumpra sua promessa! Demarque nosso território! Demarcação, já! Mineração, não! Sawé!”.
E, aqui, abro um parênteses para contar que, ontem à noite, antes da cerimônia em São Francisco, Alessandra celebrou – ao lado do cacique Juarez Saw Munduruku, no Instagram, uma notícia maravilhosa: Joenia Wapichana, presidente da Funai, acabara de assinar a homologação do território Sawé Muybu (assista no final deste post).
Se assim é, agora, só faltam as assinaturas da ministra Sonia Guajajara e de Lula. Desde a semana passada, “corre” a informação de que o presidente assinará a homologação de, ao menos, dez terras indígenas durante o Acampamento Terra Livre. Vamos aguardar!
Voltando à cerimônia, sob aplausos calorosos, antes de voltar a seu lugar na cerimônia, em São Francisco, Alessandra ergueu o prêmio para a plateia (foto abaixo).
O troféu de metal dourado, em formato de círculo, estiliza a Oroborus, conhecida representação gráfica de uma serpente que engole a própria cauda, simbolizando o eterno retorno, a espiral da evolução, a dança sagrada de morte e a reconstrução. Muito apropriado para este momento do Brasil, com o governo Lula, cujo slogan destaca, além da união (a luta coletiva citada por Alessandra…), a reconstrução do país depois de quatro anos de obscuridade e destruição.
Agora, vamos ao belo e contundente discurso de Alessandra Korap, que você pode assistir, no YouTube (veja no final deste post).
A voz da Amazônia
“Trago aqui, comigo, a voz da Amazônia, do território Sawé Muybu, do povo Munduruku, que significa ‘formiga vermelha’. Estou diante de vocês, esta noite, pra lembrar ao mundo quem somos nós, povos indígenas que vivem por toda a Terra, que protegem florestas, vida para vocês, seus filhos e seu futuro.
Nos sentimos honrados pelo reconhecimento da nossa luta coletiva, pela proteção do nosso território ancestral frente à mineradora Anglo American.
São muitos projetos de morte que vão afetar nossas vidas. Quero dizer, aqui, que não vamos parar de lutar, de defender a nossa casa!
Como porta-voz dos povos indígenas do Brasil, aqui, hoje, sou uma de muitas mulheres, crianças, parteiras, jovens, pajés e caciques que dedicam suas vidas à proteção do meio ambiente, que faz parte de nós, que vive em nós.
Para o povo Munduruku, a floresta, os rios, animais, nossos locais sagrados também são vida!
No Brasil, resistimos há 523 anos pelo nosso direito de viver. Somos mais de 300 povos indígenas no Brasil, sem contar nossos parentes que vivem isolados. Falamos mais de 277 línguas diferentes, somos muitos, somos diversos. Mas não apenas nós merecermos ter direitos respeitados, mas todos os povos tradicionais do Brasil merecem.
Resistimos e lutamos pelos direitos da terra e do povo indígena contra a força da ganância, pois somos conectados com a terra. Se aqueles com capital e poder tiverem sucesso, nós perderemos.
Nós mulheres Munduruku estamos perdendo nosso rio e nossa saúde. Nosso corpo e nossos filhos estão contaminados com mercúrio, mas temos que seguir lutando pela nossa existência, pela proteção do nosso território, pela Mãe Terra, que mais sofre.
Cada um de nós tem a responsabilidade de fiscalizar o seu país e suas empresas. Mineradora traz violência e destruição para a floresta, para os rios e para o nosso povo.
Apoie a nossa luta para demarcar e reconhecer as terras indígenas para que possamos protegê-las para as futuras gerações.
Presidente Lula, cumpra sua promessa: demarque nosso território! Demarcação, já! Mineração, não! Sawé!”.
A seguir, assista ao vídeo em que Alessandra Korap e o cacique Juarez Saw Munduruku anunciarem a assinatura de Joenia Wapichana no documento que reconhece o território Sawé Muybu.
Em seguida, assista à cerimônia do Goldman Environmental Prize, a seguir. Se quiser ir direto ao discurso de Alessandra, pule para o tempo de 1hora 6 minutos e 47 segundos. A partir desse momento, você pode acompanhar a líder Munduruku se dirigindo ao palco sob aplausos. Muito emocionante!
Pra finalizar, ainda indico o vídeo produzido pela organização do prêmio para apresentar sua trajetória, que também foi reproduzido na cerimônia. Sawé!