Hoje, 2 de fevereiro, é Dia Mundial das Zonas e Áreas Úmidas, uma data instituída há 24 anos pelo Comitê Permanente da Convenção das Zonas Úmidas de Importância Internacional. Diante da data, algumas reflexões se fazem necessárias, a começar pelo advento dos eventos climáticos extremos, uma realidade que já apresenta tendência de assimilação mais consistente da sociedade em praticamente todas as partes do mundo.
Aqui no Brasil, uma sucessão de eventos de secas prolongadas que geram severa escassez de água e, de outro lado, cheias e inundações catastróficas, deixa de representar eventos pontuais, de ocorrência eventual, para se transformar num cenário praticamente constante. No entanto, os prejuízos sociais e econômicos advindos dessa nova realidade ainda parecem não serem considerados de forma adequada pelos gestores públicos e corporativos.
Contabilizar os gastos diretos e indiretos que vêm sendo despendidos para enfrentar as consequências de situações ambientais extremas é fundamental para a geração de investimentos que possam ajudar a reverter ou mitigar os danos causados por essas ocorrências.
Evidentemente, não existem soluções simples para uma crise ambiental global que hoje está em curso. A sinergia entre o fenômeno das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade, onde o incremento de um alimenta e potencializa o outro, é uma evidência de que já estamos bastante atrasados para a tomada de medidas para o real enfrentamento das causas dos eventos extremos. O cenário é de uma situação, simplesmente, fora de controle.
Como sociedade, devemos pressionar pelo apressamento de tomadas de decisão mais efetivas nas Conferências das Partes que tratam desses temas, esperando que uma agenda globalizada seja implementada para a geração de resultados em escala suficiente para reverter ou mitigar os efeitos cada vez mais agressivos que as alterações ambientais no planeta vêm causando. A diminuição drástica de emissões é questão fundamental, assim como medidas para impedir a contínua destruição de ambientes naturais que seguem ocorrendo.
Mas não basta esperar que acordos no âmbito global resolvam esses problemas, que já podem ser considerados os maiores desafios da humanidade contemporânea. A atuação local é fundamental para gerar condições de mudanças concretas, uma vez que são de extrema importância os exemplos de sucesso, aplicados na prática, e que servem de referência para a implantação de políticas públicas abrangentes e que, possam resultar em mudanças de cenários em grande escala.
Em ambientes urbanos e rurais há uma necessidade urgente de mudanças de práticas que hoje ainda são consideradas usuais e aceitáveis. Devemos nos atentar de forma determinada a diminuir o consumo de bens que gerem impactos ambientais negativos, estimulando a geração de novas tecnologias que proporcionem condições melhores para evitar a emissão de gases de efeito estufa ou que garantam a promoção da proteção de nosso patrimônio natural.
Os investimentos necessários para gerar essas mudanças dependem de uma percepção de urgência e, ao mesmo tempo, de oportunidade. A criação de novos padrões de consumo, em busca de prosperidade e do bem estar, podem gerar novos negócios e colocar num rumo mais responsável nossas expectativas de desenvolvimento nas próximas décadas.
Já sabemos que precisamos limitar o avanço do fenômeno das mudanças climáticas, e uma gigantesca agenda de providências precisa ser fortemente incrementada. Também sabemos que sem áreas naturais e sem biodiversidade, nossas chances de manter as condições adequadas para garantir nossa qualidade de vida e a continuidade dos negócios serão cada vez mais comprometidas.
Portanto, não se trata mais de descobrirmos quais são as soluções para enfrentar esses desafios presentes. Elas existem e são conhecidas. O desafio está em mudar nosso comportamento irresponsável e lascivo em relação à proteção do patrimônio natural e a diminuição em escala necessária dos impactos ambientais causados por nossas atividades, que ainda seguem crescendo. A monetização dos serviços ecossistêmicos é, certamente, uma das respostas para a geração de mudanças em curto prazo.
Dependemos de mananciais de água para abastecer as cidades e atender demandas das atividades agrícolas, mas a proteção adequada destes remanescentes, em geral, é deixada em segundo plano. A criação de cinturões verdes protegidos no entorno das cidades e de uma proporção suficiente de remanescentes naturais em cada propriedade rural são demandas óbvias e que precisam ser implementadas a partir da geração de investimentos que considerem estas áreas espaços criticamente estratégicos para mitigar os efeitos das alterações ambientais em curso.
Essas áreas naturais consideradas até hoje como “improdutivas” são, na realidade, produtoras de natureza, gerando uma infinidade de serviços ecossistêmicos, incluindo a fixação de carbono e a produção de água, por exemplo. Sabemos que, sem esses insumos, não conseguiremos manter condições fundamentais de desenvolvimento e qualidade de vida.
Ainda falta assimilarmos essas questões de forma suficientemente séria para que as mudanças de rumo tão prementes, passem realmente a acontecer. Pessoas, empresas e entidades conscientes já trabalham em parceria com organizações como a SPVS [Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental], por exemplo, que oferece diferentes propostas e soluções para a conservação da biodiversidade e a produção de natureza. As oportunidades estão diante de nós. Basta consciência e, acima de tudo, ação para aproveitá-las da maneira correta.
Foto de abertura: Reginaldo Ferreira