Pika-de-Ili chamou a atenção do cientista Weidong Li, do Instituto de Ecologia e Geografia Xinjiang, em 1983, ao sair inesperadamente da fenda de uma rocha num vale da montanha Jilimalale, na região noroeste da China.
Li estudava a relação entre doenças infecciosas e recursos naturais na província de Xinjiang, para pesquisa financiada pelo governo chinês.
Ele logo percebeu que nunca havia visto aquele animal tão pequeno (20 centímetros de comprimento!) com aparência de bichinho de pelúcia e imaginou que se tratava de uma nova espécie. Capturou o animal e o enviou para análise na Academia de Ciências: Estava certo, mas era preciso aprofundar mais as pesquisas para classificá-lo como descoberta.
Pika-de-Ili ou Ochotona iliensis, como foi batizado, é um pequeno mamífero de orelhas grandes e pelo acinzentado com manchas marrons, de hábitos solitários, muito sensível a alterações no ambiente em que vive.
Endêmico da região de Xinjiang, nas montanhas Tian Shan (ou Tien Shan), vive em geral entre 2.800 metros e 4.100 metros de altitude e se alimenta de gramíneas, ervas e outras plantas da montanha.
Devido à caça, ao avanço da agropecuária – que levou mais humanos à região, mas também cachorros que são soltos por fazendeiros para espantar lobos -, ele tem subido cada vez mais as montanhas para fugir de ‘predadores’.
Em artigo publicado na revista científica Oryx, em 2005, Weidong Li alertou sobre o possível declínio da população de Pika-de-Ili nos lugares onde havia sido avistado anteriormente, causado pela poluição e pelo aumento da temperatura devido ao aquecimento global.
Na época, Li recomendava que a espécie fosse classificada como ameaçada de extinção, o que aconteceu em 2018, quando o Pika-de-Ili foi incluído na Lista Vermelha da IUCN – International Union for Conservation of Nature (União Internacional para a Conservação da Natureza): nas montanhas Jilimalale e Hutubi South, também em Xinjiang, Pika está desaparecido.
Diferentes ameaças
Depois do encontro de 1983, os pesquisadores – incluindo Weidong Li – tentaram reencontrá-lo em dezembro do mesmo ano, em vão. Em uma terceira tentativa, em 1985, foi mais bem-sucedido, e os espécimes adicionais permitiram que os pesquisadores da academia confirmassem que o Pika-de-Ili era uma nova espécie para a Ciência.
Depois disso, só avistaram a espécie novamente em 2014, ou seja, mais de 30 anos mais tarde, durante expedição à cordilheira Tian Shan. Um dia, enquanto montavam armadilhas fotográficas para registrar o aparecimento de indivíduos da espécie, um Pika “curioso” saiu de uma fenda no penhasco e Li – abençoado! – o fotografou. Alguns desses registros ilustram este texto.
“Eles o encontraram escondido atrás de uma rocha e perceberam que haviam reencontrado o Pika. Ficaram muito animados”, contou Tatsuya Shin, naturalista chinês que trabalhava com pesquisadores para revista National Geographic China (que publicou reportagem sobre o Pika e seu descobridor em março de 2015).
Na década de 1990, as estimativas indicavam que havia cerca de dois mil indivíduos da espécie em todo o planeta (há cerca de 30 espécies de Ochotona nas áreas montanhosas da Ásia, Europa e Estados Unidos). E, para a IUCN, esse número diminui ano a ano.
Em 2013, não havia grandes esforços concentrados em andamento para ajudar o Pika-de-Ili. Mas, de acordo com Li, duas áreas protegidas nas montanhas Tian Shan foram estabelecidas para proteger as pequenas criaturas.
A ‘devoção’ de pesquisadores como Weidong Li e outros conservacionistas certamente fará a diferença na sobrevivência desses seres tão pequenos e fofos: eles têm ajudando a transformar a realidade dos Pikas frente a tantas ameaças, educando habitantes locais para que respeitem e protejam seu habitat.
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Foto (destaque): Weidong Li/Wikimedia Commons
Com informações da National Geographic, BBC, Washington Post, G1