O leite materno é a primeira e mais importante vacina da criança, e além disso, possui todos os nutrientes necessários para o crescimento saudável do nenê. Ele possui anticorpos que protegem a criança contra doenças como diarreia e pneumonia, que são justamente uma das principais causas de mortalidade infantil.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), se todo bebê recebesse exclusivamente o leite da mãe e continuasse a ser amamentado até os dois anos de vida, como complemento de outros alimentos sólidos, aproximadamente 800 mil crianças deixariam de morrer anualmente.
Infelizmente, menos de 40% dos bebês com menos de seis meses são amamentados somente com o leite materno. Os motivos são os mais variados, desde falta de informação até mães que enfrentam problemas e não conseguem produzir leite suficiente. E as fórmulas infantis industrializadas, além de serem caras, não são iguais ao leite da mãe.
Cientes desse problema, dois pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná, desenvolveram um processo para transformar o leite materno em pó, como alternativa de armazenamento e transporte para os Bancos de Leite Humano (um dos principais desafios enfrentados pelos bancos é lidar com a vida útil do leite líquido ou congelado).
Para conseguir obter o pó, o professor Jesuí Vergílio Visentainer, mestre em Ciência Química de Alimentos, com pós-doutorado pela Laval University, no Canadá, e a nutricionista Vanessa Javera, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos da UEM, utilizaram as técnicas de liofilização (a água que está congelada/sólida nas amostras é transformada em fase gasosa) e a técnica “spray drying” (secagem por pulverização).
Por causa de seu trabalho, Vanessa e Visentainer foram os grandes vencedores do Prêmio Péter Murányi 2020, que é concedido anualmente para projetos nacionais e internacionais, que promovam descobertas ou progresso científicos inovadores nas áreas de saúde, alimentação, educação ou tecnologia para populações de países em desenvolvimento.
O estudo foi realizado com amostras de leite humano cru:
colostro, transição e maduro
Para os pesquisadores da UEM, outro benefício do leite materno em pó é que ele pode possibilitar o aumento da distribuição, “uma vez que, em razão de sua maior durabilidade, o leite humano em pó pode ser distribuído para unidades bem distantes dos setores de coletas. Ou seja, permitira maior acesso ao material disponível”, acreditam.
A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH) da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) é considerada uma referência internacional, tida como a maior e mais complexa do mundo. O programa, que disponibiliza leite materno a recém-nascidos de baixo peso (menos de 2,5 kg), alia baixo custo e alta tecnologia. Atualmente são mais de 20 países que replicam o modelo brasileiro – entre eles, Rússia, Índia, China, África do Sul, Argentina, Paraguai e Uruguai.
*Com informações da Assessoria de Comunicação Social da Universidade de Maringá
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Fotos: Nerissa Ring/Creative Commons/Flickr (abertura) e divulgação