Atualizado em 24/7/2024, com a petição
A Sea Shepherd Brasil lançou petição online para pedir a libertação de Paul Watson. Se o ativista for extraditado para o Japão (como este país reivindica), poderá ficar preso por 15 anos. “Levaremos as assinaturas da petição juntamente com uma carta assinada por mais de 40 organizações para o Governo Brasileiro se posicionar contra a prisão do Paul Watson”, diz a ONG.
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Em 11 de julho, o navio M/Y John Paul DeJoria, pertencente à Fundação Capitão Paul Watson (CPWF, na sigla em inglês) – lançada em 2022 pelo famoso e icônico ativista ambiental que também fundou o Greenpeace e a Sea Shepherd -, saiu de Dublin, na Irlanda, com uma missão: ir atrás do maior e mais perigoso navio baleeiro, o Kangei Maru, construído pelo Japão ao custo de US$ 48 milhões e lançado ao mar em junho. O objetivo era interceptá-lo ao norte do Oceano Pacífico, e “encerrar suas operações”, contou Watson na capital irlandesa, antes de partir.
Seguindo os planos, no último fim de semana, o navio da CPWF parou em Nuuk, capital da Groenlândia, para reabastecer. O que a ONG e Watson não sabiam é que ele era procurado pela justiça japonesa e corria sério risco de ser preso ao fazer essa parada.
Em 2012, o Japão expediu um mandado de prisão internacional contra o ativista, com direito a alerta vermelho no sistema da Interpol. No entanto, há alguns meses, o mandado foi cancelado e, por isso a CPWF e Watson seguiam com suas ações tranquilamente. Ao que parece, o cancelamento foi uma emboscada: o Japão tornou o mandado confidencial – invisível para a CPWF – ele ainda continuava valendo.
Assim que o navio aportou em Nuuk, foi invadido por policiais federais da Dinamarca (que tem soberania sobre a ilha), além de agentes especiais da SWAT, sob a alegação de cumprimento do tal mandado. Algemado, Paul Watson foi levado para a delegacia de polícia da cidade.
Ameaça de extradição
Ontem, juiz local decidiu que Watson vai ficar preso até 15 de agosto para que o Ministério da Justiça da Dinamarca tenha tempo para definir seu destino. O juiz afirmou que não há chance de fiança. Uma das opções é extraditá-lo para o Japão, a pedido desse país, por crime internacional, o que certamente seria uma tragédia porque o condenaria à pena máxima, que é de até 15 anos de detenção. Paul Watson está com 73 anos!
Segundo a Sea Sheprerd Brasil (parceira da CPWF), foi dado a Paul Watson escolher entre a decisão do juiz ou interpor recurso. Ele escolheu interpor recurso, o que garante que o caso seja levado a julgadores em instância superior a fim de nova análise da decisão.
Sua extradição significaria o fim do ativismo do maior protetor dos oceanos de todos os tempos. E caminho livre para a barbárie contra as baleias se espalhar pelo mundo.
No encalço do navio-fábrica
De acordo com a CPWF, a prisão pode estar relacionada a uma antiga notificação emitida devido a operações da Sea Shepherd contra as “pesquisas baleeiras japonesas” na Antártica. A caça de baleias nessa região foi declarada ilegal pela Corte Internacional de Justiça em 2014, mas o Japão só interrompeu a prática em 2016, alegando que, a partir daquele momento, só voltaria à atividade em suas águas territoriais.
“A CPWF acredita que o Japão planeja retomar a caça a baleias em alto-mar no Oceano Antártico e no Pacífico Norte já em 2025, e a reativação do alerta vermelho contra o capitão Watson é politicamente motivada e coincide com o lançamento do recém-construído navio-fábrica processador de baleias”, destacou a ONG, em nota.
Em comunicado publicado no site da ONG, Locky MacLean, diretor de Operações de Navios da CPWF declarou: “Estamos completamente chocados, pois o ‘aviso vermelho’ desapareceu há alguns meses. Entendemos agora que o Japão o tornou confidencial para atrair Paul a uma falsa sensação de segurança. Imploramos ao governo dinamarquês que liberte o Capitão Watson e não considere esse pedido politicamente motivado”.
O plano de Watson era seguir a rota que passaria pela Passagem do Noroeste, que margeia a Groenlândia, o norte do Canadá e permite acesso ao Japão pelo Estreito de Bering, entre a Rússia e o Alasca.
“Nós precisamos ir até o Pacífico, e a rota mais curta é através da Passagem do Noroeste”, disse o ativista por meio de material divulgado por sua organização. “O novo navio-fábrica do Japão, o Kangei Maru, não pode ser autorizado a retornar à caça baleeira em alto-mar”, reforçou MacLean.
A denominação de “navio-fábrica” para o Kangei Maru deve-se ao fato de a embarcação ter uma unidade própria de processamento da carne de baleia, informação divulgada no lançamento do navio.
Apesar de proibida na maior parte do mundo, a caça à baleias ainda é permitida no Japão, na Noruega e na Islândia. No ano passado, o governo islandês suspendeu a prática por dois meses no ano passado, mas ao final do prazo, voltou a autorizá-la.
Taxa de turismo ambiental e educação baleeira
No início deste mês, as Ilhas Faroé – território autônomo da Dinamarca, localizado no Atlântico Norte entre a Escócia e a Islândia – foram destaque no noticiário mundial ao divulgarem a nova cobrança de taxa de turismo, a partir de outubro de 2025, para “proteger o meio ambiente e a natureza” (como contamos aqui).
Uma grande ironia já que, mesmo sob duras críticas internacionais, as ilhas continuam permitindo a matança de centenas de baleias, todos os anos. Chamado de grindadráp, ou simplesmente grind, o abate legal e incentivado pelo governo local, que alega ser essa uma tradição milenar iniciada pelos povos Vikings. E que, além de promover a cultura e o senso de comunidade entre os moradores, a atividade fornece alimento, a carne dos animais, que fica estocada durante vários meses.
Dez dias depois do anúncio do imposto, não bastassem a crueldade e a barbárie promovidas com a matança anual de centenas baleias, a Associação de Baleeiros das Ilhas Faroé declarou que quer ensinar e estimular a caça entre crianças e jovens (como contamos aqui).
E a Sea Shepherd denunciou: “Numa tentativa de preservar uma prática controversa de matar baleias-piloto num contexto de participação cada vez menor, a associação está planejando produzir um filme destinado a ensinar as crianças sobre o grind nas escolas”.
Como ajudar?
O que fazer agora? Acompanhar a Sea Shepherd Brasil, parceira da CPWF, para saber notícias de Watson e atualizações sobre possíveis mobilizações que serão promovidas para pedir a não extradição para o Japão e sua liberdade.
No próximo dia 27, sábado, às 13h, haverá caminhada na capital paulista, em protesto pela prisão de Paul Watson, que sairá do Vão do MASP (local da concentração) e seguirá até a Embaixada da Dinamarca, que fica na Rua Oscar Freire.
A fundação de Watson tem pedido a seus apoiadores que adotem algumas ações para ajudá-lo:
– escrever para a realeza e líderes dinamarqueses: pedir ao rei, à tainha, ao primeiro-ministro e ao ministro da Justiça para que não deixem Watson ser extraditado;
– escrever para os líderes dos EUA – presidente, vice-presidente e secretário de Estado – e também para líderes da Inglaterra para pedir que pressionem a Dinamarca para proteger Paul;
– escrever para a Comissão da Unidade Europeia e o Comitê de Direitos Humanos para existir que a UE pressione a Dinamarca contra a extradição.
Para os brasileiros, o ativista da causa animal Fábio Chaves indica também indica que escrevamos para a Embaixada da Dinamarca, para a embaixatriz e a primeira-ministra, em suas redes sociais.
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Foto: Reprodução/Sea Shepherd
Com informações da Captain Paul Watson Foundation, Fábio Chaves, G1, O Eco, UOL