
Há anos, Paris tem chamado a atenção do mundo devido a medidas adotadas para reduzir emissões de carbono, em especial desde que Anne Hidalgo se tornou prefeita da cidade, em 2014 (primeira mulher a ocupar o cargo, ela foi reeleita em 2020).
Seu Plano Climático – lançado no ano passado e aprovado pelo Conselho de Paris (o equivalente à Câmara Municipal) com foco no tríptico “mais rápido, mais local e mais justo” – revela que o governo e os parlamentares estão empenhadíssimos em fazer a transição ecológica da cidade para combater a crise climática, propondo-se a reduzir 80% da pegada de carbono em comparação a 2004 (os 20% restantes serão resolvidos com medidas de compensação).
O plano consiste em 400 medidas – principalmente locais e que também visam reduzir desigualdades sociais – a serem executadas em curto, médio e longo prazos, em escala global, mas também em cada distrito. Para tanto, o governo definiu metas concretas que priorizam a vegetação e tornarão a cidade mais verde, mais amigável aos pedestres, mais livre de carros e mais resiliente contra extremos climáticos.
Entre as medidas está a redução da circulação de carros individuais, apoiando a mobilidade de baixo carbono. Para isso, está prevista a transformação de 60 mil vagas de estacionamento com a criação de 300 hectares de espaços verdes de modo a atingir 10m² de vegetação por habitante (a ONU indica 12m2) – sendo que 10% do projeto será realizado até 2026.

As vagas atualmente ocupadas por carros, nas ruas, podem ganhar canteiros arborizados, o que também promoverá a absorção de águas pluviais, como acontece com os jardins de chuva (veja como funciona).
Outra medida incluída no plano é o aumento das tarifas de estacionamentos não-residenciais para veículos como SUV (sigla em inglês para Sport Utility Vehicle) e 4×4 – em geral, maiores do que as demais categorias -, que foi votada e aprovada pelos parisienses no início do ano passado (contamos aqui).
Na ocasião, a prefeitura de Paris destacou, em nota, “o aumento exponencial dos SUVs que, representam agora 40% das vendas de veículos” e os “numerosos problemas que eles criam para o ambiente, a segurança e a partilha equitativa do espaço público”.
O plano também contempla a criação de 120 novas fontes de nebulização e de ‘praças oásis’ em cada um dos 20 distritos de Paris, com mais áreas verdes nas quais árvores e estruturas de sombra (como gazebos) servirão como refúgio do sol para moradores e animais e ajudarão a reduzir a temperatura local e ao redor.
E ainda está prevista a instalação de mais 30 km de ciclovias. Sob a gestão de Anne Hidalgo, que tem priorizado pedestres e ciclistas em Paris, foram construídos 84 km de ciclovias desde 2020, e dados divulgados pela prefeitura indicam aumento de 71% no uso de bicicletas entre o final da pandemia e 2023.
As medidas propostas no Plano Climático, que focam na redução das emissões e da circulação de carros, resultarão, certamente, em um reequilíbrio do espaço público, favorecendo, também, a descarbonização dos transportes, que ainda conta com a redução dos limites de velocidade e o redirecionamento do tráfego na Cidade Luz.
Rio Sena limpo, telhados ‘frios’ e energia renovável
Para garantir mais qualidade de vida na cidade, o plano climático de Paris ainda propõe ajustes na jornada de quem trabalha ao ar livre, o resfriamento dos telhados dos prédios públicos (são cerca de mil imóveis que poderão receber revestimentos refletivos, como pintura branca, ou arborização) e a limpeza do rio Sena, para que todos possam tomar banho em suas águas ainda este ano.
Vale lembrar que, em julho de 2024, Anne Hidalgo mergulhou no Sena a nove dias das Olimpíadas, para provar a pureza da água (contamos aqui). Mas, infelizmente, alguns atletas tiveram que interromper sua participação nas competições aquáticas: dois deles tiveram infecções gastrointestinais
“Construir menos, regenerar mais e reduzir a pegada de carbono das novas construções” é o lema do Plano Local de Urbanismo Bioclimático. Para tanto, uma das medidas é a retirada progressiva do concreto, que será substituído por materiais ecológicos.
Para vencer a meta de 100% de energia renovável estão previstos a redução de 30% do consumo da iluminação pública (até 2026) e o desenvolvimento de 6 mil micro instalações de produção de energia limpa em edifícios. Este será o grande desafio da cidade visto que há muitos prédios antigos em Paris, alguns construídos entre os séculos V e XV.
Enquanto prefeitos brasileiros como Ricardo Nunes, de São Paulo, e Eduardo Pimentel, de Curitiba, anunciam a derrubada de árvores para a realização de obras questionáveis, Anne Hidalgo avança para transformar Paris numa cidade cada vez mais saudável para moradores e turistas. Um exemplo para todas as cidades do mundo.
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Foto (destaque): Alexandra Koch / Pixabay
Com informações do Plano Climático de Paris, Bloomberg