Orquídeas terrestres: dos sopés das florestas para a sua casa

orquídeas terrestres

Ao longo das últimas semanas, escrevi sobre uma das flores mais presentes e queridas nas casas brasileiras: as orquídeas. Em posts anteriores, expliquei sobre algumas espécies, como epífitas e rupícolas, e a melhor maneira de como cuidá-las. Neste texto de hoje, falarei sobre os cuidados de cultivo com as orquídeas terrestres e com isto, encerrar este tema.

orquídea terrestre é aquela que vive no solo ou pode ser cultivada em vasos profundos, com maior teor de terra vegetal. Suas raízes são mais tolerantes à umidade, mas ainda assim, precisam de solos bem drenados e leves.

No Brasil, existem  poucas variedades, a maioria delas trazida de outros países. Podem variar bastante em formas e modos de cultivo. Originárias dos sopés das florestas, possuem raízes que toleram um pouco mais de umidade, se comparadas com as orquídeas epífitas, porém ainda sim, gostam de solo leve, com muita matéria orgânica. O ideal é que sejam cultivadas em substrato rico e bem dosado, composto idealmente de duas partes de fibras vegetais (coco moído), duas partes de sfagno (musgo seco), duas partes de terra vegetal pura e uma parte de areia lavada de rio.

Esta espécie de orquídea precisa de luz indireta e proteção contra ventos frios e mudanças abruptas de temperatura, entretanto, pode suportar invernos mais frios como os da região Sul e Sudeste do Brasil.

Paphiopedium, phajus, arundina (orquídea bambu) e cymbidium são exemplos de orquídeas terrestres. Abaixo, vou comentar mais sobre elas.

O paphiopedium, conhecido como sapatinho de judia, ou simplesmente sapatinho (veja na foto), é uma orquídea pouco comum de se encontrar à venda nos supermercados e lojas, no entanto, faz parte do grupo de plantas colecionadas por aficcionados, que muitas vezes compartilham mudas, passando de um para outro exemplares de coleção. Mais fácil de encontrar nas casas de interior, onde os jardins são criados aos caprichos e desejos de seus donos no intuito de resgatar as memórias da família. Quase uma planta fora de moda, não por lhe faltar charme e beleza, mas sim, por se tratar de uma planta delicada, com exigências específicas.

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Paphiopedium, conhecido como sapatinho de judia é uma orquídea delicada, com exigências específicas

Por ser uma variedade  de orquídea terrestre, que em geral tolera clima ameno e solos bem drenados e ricos em matéria orgânica, o paphiopedium necessita de de luz indireta e proteção contra ventos frios, mudanças abruptas de temperatura, porém suporta invernos entre 10oC e 25oC, desde que esteja debaixo de uma árvore ou num canteiro protegido da geada no jardim.

Talvez a radicalização do clima, pelo aquecimento global, com mudanças cada vez mais abruptas nas temperaturas e no regime de chuvas  seja um dos motivos de encontrá-las cada vez menos, porque quando submetidas à condições inadequadas, estas orquídeas perdem as folhas e permanecem dormentes, no solo, quase invisíveis à olhos desatentos, esperando condições ideais de crescimento, o que as deixa muito vulneráveis a reformas de jardins e longos períodos de estiagem.

O cymbidium, outra orquídea terrestre (na foto abaixo), é originário de lugares frios, como os Himalaias, mas já está aclimatado com o Sul e o Sudeste brasileiros. Não tolera altas temperaturas o ano todo e floresce abundantemente uma vez ao ano, produzindo uma haste longa e arqueada, com mais de vinte flores carnudas e resistentes. Em geral, é comercializado em longos vasos cônicos, que favorecem a drenagem das raízes e o armazenamento da umidade.

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Cymbidium é uma espécie nativa de lugares frios

A variedade  de orquídea terrestre conhecida como phajus é mais difícil de encontrar. Produz uma bela touceira, com folhas finas  drapeadas e lanceoladas (em forma de lanças), com nervuras paralelas, de cor parecida com as folhas do bambu. Floresce abundantemente com flores grandes, púrpura e rosa, em hastes individuais. Quando plantada em vaso, necessita pelo menos meio metro cúbico de terra, preferindo vasos amplos e bem drenados, com a mesma mistura para o cultivo dado acima.

Já a orquídea bambu produz hastes de até um metro e meio, com flores cor de rosa e lilás durante todo o ano. Esta espécie tolera bem exposição direta ao sol e pode ser usada junto à entradas sociais, corredores e jardins internos. Cria uma touceira leve e ordenada e produz  mudas novas no decorrer de seu ciclo de floração: são pequenos brotos que aparecem na extremidade das hastes florais, sendo muito fáceis de plantar. Basta destacá-los com uma pequena torção para romper sua conexão com a haste original e colocá-los na terra. Em menos de uma semana, novas raízes surgirão.

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A orquídea bambu deve ser regada semanalmente, tomando cuidado de voltar a molhá-lha
somente quando o vaso estiver com a terra seca

Uma vez ao ano, depois da florada, estas orquídeas precisam de cuidados contra os insetos e moluscos do jardim. É a hora da limpeza das folhas velhas e murchas, bem como das hastes ressecadas, que devem ser cortadas na base, depois de secas, com o uso de uma tesoura de poda. A adubação deve ser feita com substrato especial para orquídeas.

E agora que você já pode diferenciar entre os tipos e formas das orquídeas, procure saber um pouco mais sobre as raridades destas plantas tão especiais na próxima feira de orquídeas perto da sua casa. Perguntas aos cultivadores podem trazer uma nova dimensão ao tema. Existem plantas com mais de cinco anos, cultivadas somente para obtenção da primeira florada e outras, que foram hibridadas ano a ano, até atingir a perfeição entre floração, cuidados e resistência, um exemplo de dedicação e amor às plantas.

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Fotos: domínio público/pixabay

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Liliana Allodi

Geógrafa, paisagista, educadora ambiental e ilustradora científica. Começou a carreira em São Paulo como consultora paisagística. Durante 10 anos viveu no exterior (Austrália, Israel e USA) e neste último país, firmou suas habilidades para trabalhar com crianças. Atualmente dá aulas de horticultura para alunos do Ensino Fundamental, em Brasília. Também desenvolve projetos junto à Cia da Horta para centros de ensino, clubes e empresas.