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Onça-pintada que matou homem em Aquidauana, MS, pode ser capturada e levada para cativeiro 

Onça-pintada que matou homem em Aquidauana, MS, pode ser capturada e levada para cativeiro 

Onça – tanto pintada como parda – normalmente tem medo do ser humano e evita sua presença. Por isso, o que aconteceu com Jorge Avalo, de 60 anos, em Aquidauana, a aproximadamente 150 km de Miranda, no Mato Grosso do Sul – região do Pantanal Sul -, ainda é inexplicável. 

Ele foi atacado por uma onça-pintada nas proximidades do pesqueiro – na região de mata conhecida como Barra do Touro Morto – no qual era caseiro há 20 anos, enquanto tentava colher mel. Jorge foi morto pelo animal, que arrastou seu corpo para longe e se alimentou dele.

Seu sumiço foi sentido na segunda-feira (21), quando um guia de pesca local foi até o pesqueiro, não encontrou “Jorginho”, como era conhecido, mas muito sangue, pedaços de carne no deck do pesqueiro, além de pegadas de onça

Ontem (22), de madrugada, o cunhado da vítimaValmir de Araújo, seu amigo há 30 anos, foi quem encontrou os restos mortais do caseiro, no meio da mata fechada, há uns 300 metros do local do ataque. 

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Ironia do destino, dias antes os dois haviam gravado vídeo, publicado em rede social, alertando moradores da região sobre a presença de onças. Jorge mostrou pegadas de duas onças nas proximidades da casa em que morava e comentou sobre suposta briga entre os dois animais. 

Na gravação, Araújo e Jorge se revelaram surpresos com o tamanho e a profundidade das marcas na terra. Mas, em seguida, Araújo brincou com o caseiro, dizendo que a onça iria comê-lo. “Come, não!”, respondeu ele.

O irmão da vítima, Reginaldo, contou ao site Campo Grande News que o caseiro costumava mandar fotos e vídeos mostrando onças-pintadas na área, que começaram a circular pela região em março.

Restos mortais são encontrados

Polícia Militar Ambiental do Mato Grosso do Sul (equipes de Corumbá, Miranda e Aquidauana) foi acionada – acompanhada por Gediendson Ribeiro de Araújo, pesquisador da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e especialista em manejo de onças-pintadas (Instituto Reprocon), e por dois guias locais – se dirigiu até o local, ontem (22), para averiguar o que relatou Araújo. Agentes confirmaram que os restos mortais de Jorge foram encontrados. 

Quando a equipe de buscas voltou para recolher o que sobrou do corpo (a parte inferior), encontrou a onça-pintada em cima dele. Nesse momento, um dos socorristas foi ferido na mão pelo animal (“disputa pela caça”), que ficou muito agressivo quando viu o grupo e só fugiu com o disparo de arma de fogo acionada por um dos agentes da PMA.

Segundo eles e conservacionistas que conhecem bem a região e sua fauna, a agressividade e a persistência da onça chama a atenção. Por isso, o CENAP (Centro Nacional de Pesquisa e Manejo de Mamíferos Carnívoros) do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade e Conservação) estuda capturar e levar a onça para cativeiro. 

Animal pode ser removido para cativeiro

Rogério Cunha de Paula, coordenador do CENAP/ICMBio, está em Aquidauana para conversar com os peritos que resgataram o corpo de Jorge e decidir sobre a captura e remoção do animal, que, devido a seu comportamento altamente agressivo, representa risco para moradores, pescadores e turistas da região. Esta parece ser a única alternativa para evitar outros incidentes trágicos na região.

“A justificativa da remoção é porque é um animal que está apresentando indícios de alta habituação ao ser humano, então, isso traria grandes riscos aos pescadores, aos turistas e aos moradores”, explicou Rogério ao site Campo Grande News. 

Ele enfatizou que o animal capturado seria o que visita com alta frequência o local, não outro. Mas também não descarta a possibilidade de que mais de uma onça-pintada circule pelas proximidades do pesqueiro.

“As onças não são vilãs!”

biólogo Gustavo Figueirôa, diretor de comunicação do Instituto SOS Pantanal, organização que desde 2019 atua no bioma, relata, em seu Instagram, que a onça-pintada “não é, por natureza, um animal perigoso para o ser humano. É um felino reservado que evita o contato com as pessoas e não representa ameaça direta quando não há uma provocação ou interferência humana. Casos de ataque não provocados por ações humanas são extremamente raros”. 

Com mais um detalhe: o ser humano não faz parte do cardápio favorito dessa espécie. Mas, então, por que a onça-pintada teria atacado Jorge e se alimentado dele? Por que esse comportamento tão agressivo? 

Com base no estado do corpo e nas evidências, a perícia criminal confirmou que o ataque foi provocado por onça-pintada. O caso está sob investigação e as autoridades trabalham com algumas hipóteses como o período reprodutivo do animal (machos se tornam mais agressivos), que a onça pode ter reagido a um encontro inesperado com o caseiro e se defendido ou a uma atitude involuntária da vítima que a assustou e possa ter desencadeado o ataque.

Mas qualquer uma dessas possibilidades justifica apenas o ataque. Por isso, a principal hipótese é o alimento escasso, situação causada pela destruição de seu habitat, o que leva onças a procurarem presas – como vacas, bezerros, galinhas, porcos, carneiros e cavalos – em lugares habitados. Isto explicaria os avistamentos e encontros cada vez mais frequentes com esse animal e, também, o fato de a onça ter se alimentado do corpo de Jorge, o que não é comum.

Segundo o zootecnista Luiz Pires, especialista em manejo da fauna selvagem e educação ambiental, relatou em entrevista à Folha de SP, ainda há uma outra possibilidade para a proximidade da onça de um lugar habitado por humanos (desde março uma onça é vista nas proximidades de onde morava Jorge): a prática ilegal conhecida como ceva em que se dispõe alimentos – geralmente, carcaças de animais – para atrair onças com o intuito de observá-las em ação e fotografá-las, em geral para mostrar para turistas e para publicação nas redes sociais.

E o especialista ainda acrescenta: “Infelizmente, muitos empreendimentos são erroneamente construídos nas áreas de preservação ambiental, locais de passagem constante desses animais em busca de suas presas. Assim, acidentes que antes eram raríssimos só aumentam, uma vez que o homem antes era temido e agora passa a fazer parte da paisagem natural desses animais”.

Seja qual for o resultado das investigações, importante destacar que a interferência humana no Pantanal é causa irrefutável desse tipo de ataque e de tragédia. “O caso não é motivo para demonizar as onçasnem para os turistas desistirem de visitar lugares selvagens como o Pantanal!”, salienta Gustavo Figueirôa, do SOS Pantanal. 

“A presença da onça-pintada no Pantanal não é apenas um símbolo da biodiversidade brasileira. Mas é também uma fonte vital de renda para milhares de famílias que vivem do turismo de observação de fauna. Esse tipo de atividade fomenta a conservação da espécie e do seu habitat, além de contribuir para o desenvolvimento sustentável da região”, acrescenta o biólogo, que finaliza:

O que fazer ao encontrar uma onça

Para prevenir ataques de animais selvagens de grande porte, o Programa Felinos Pantaneiros – mantido pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP) – indica evitar o contato a qualquer custo. “Essa preocupação existe principalmente para garantir a segurança das pessoas, em especial de trabalhadores que acabam ficando mais expostos em áreas de campo”.

Estudos comportamentais desses animais e o conhecimento de campo de pantaneiros e pantaneiras são a base das regras estabelecidas pelo instituto para o IHP, que devem ser seguidas à risca no caso de um encontro inesperado com esse felino:

– Procure saber se há avistamentos recentes de onça-pintada ou onça parda na região;
– Não caminhe pela região sozinho;
– Caso suspeite de rastros que indiquem pegada de onça, faça barulho pelo caminho ou evite o trajeto;
– Evite chegar perto da carcaça de animais mortos, principalmente se não houver urubus presentes no local;
– Evite locais onde ocorre a “ceva”, devido ao grande risco de conflito com as onças, e denuncie à Polícia Militar Ambiental;
– Verifique possíveis rastros como pegadas, ou até fezes, e se essas pistas são frescas ou antigas;
– Evite a aproximação ao topar com o animal e tente manter a maior distância possível até que saia do contato visual;
– Se estiver frente a frente com uma onça, não se vire e não corra – esse comportamento remete ao de uma presa;
– Estando frente a frente com o animal, mantenha contato visual e procure distanciar-se andando para trás sem movimentos bruscos;
– Onças com filhotes tendem a ser mais defensivas, o mesmo ocorre quando estão em período de acasalamento; e
– Depois que a onça sair do contato visual espere um tempo para continuar o trajeto.

Por fim, é importante que, depois de encontrar uma onça (isso é válido para qualquer animal selvagem que represente perigo), você procure o Corpo de Bombeiros ou a Polícia Militar Ambiental, para que possam dar-lhe suporte e atuar na região para evitar incidentes.

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Com informações do Campo Grande News, Folha de SP, CNN, G1

Foto (destaque): reprodução de redes sociais

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