Já falamos do antílope saiga (Saiga tatarica), que vive no Cazaquistão, na Ásia Central, duas vezes. A primeira foi em fevereiro de 2018; a segunda, em julho de 2021.
Há cinco anos, a notícia era triste: mais de 200 mil indivíduos haviam morrido por causa do aumento da temperatura no planeta, ou seja, dos efeitos das mudanças climáticas.
Há dois anos, a história foi boa de contar: dados de censo que acabara de ser divulgado apontava que a população “de um dos mais raros e ameaçados antílopes do mundo” tinha dobrado, graças a uma série de estratégias de conservação.
Em 2005, o total de indivíduos era de 48 mil; em 2019, 334 mil; e, em 2021, 842 mil.
Agora, a notícia é ainda mais animadora. O antílope (cujo nariz me lembra o da anta brasileira) não está mais criticamente ameaçado de extinção, em especial em seu reduto no Cazaquistão, onde agora vivem mais de 1,9 milhão de indivíduos!
Por isso, seu status na Lista Vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature), passou de criticamente ameaçado (nível 7) para quase ameaçado (nível 4), o que significa que ele ainda não está totalmente livre de ameaças, mas já dá pra celebrar.
Essa lista foi estabelecida em 1964 e é uma ferramenta de referência ao estado de conservação de plantas e animais do mundo, utilizada para apoiar esforços globais de conservação. A classificação tem nove níveis: 1. não avaliada; 2. dados insuficientes; 3. pouco preocupante; 4. quase ameaçada; 5. vulnerável; 6. em perigo; 7. perigo crítico/criticamente ameaçada; 8. extinta na natureza; e 9. extinta.
Múltiplos parceiros e medidas
O aumento da população do saiga – espécie que vaga pelos territórios das estepes da Eurásia (Europa/Ásia) há milhares de anos – é resultado de décadas de trabalho árduo dos integrantes Altyn Dala Conservation Initiative, que reúne parceiros de conservação nacionais e internacionais, como a Association for the Conservation of Biodiversity of Kazakhstan (ACBK), o Governo do Cazaquistão, e as organizações Fauna & Flora International (FFI), Frankfurt Zoological Society (FZS) e British Royal Society for the Protection of Birds (RSPB).
A Convenção sobre Conservação de Espécies Migratórias Pertencentes à Fauna Selvagem, da ONU, também teve papel fundamental devido a reuniões de governos e organizações da sociedade civil em toda a área de distribuição do saiga e na garantia de um acordo e na implementação de um programa de trabalho internacional.
A parceria com a CITES – Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, da ONU, também contribuiu com esses esforços.
De acordo com os pesquisadores, “a jornada do saiga, desde a beira da extinção até à sua atual posição – de relativa segurança – tem sido uma viagem de montanha-russa caracterizada por uma série de reveses repentinos, recuperações rápidas e recaídas regulares”.
Agora, o registro mais recente foi considerado suficientemente robusto para justificar uma mudança no estado de conservação na IUCN.
David Gill, diretor de operações da Fauna & Flora para a Eurásia, conta:
“Nos últimos 15 anos, passamos por muitos altos e baixos, mas as últimas notícias são realmente um momento monumental. Sabendo o quão vulnerável a espécie pode ser às ameaças, é importante agora mantermos esta dinâmica e garantir que ele continue a ser uma grande história de sucessode conservação nas próximas décadas”.
Entre as medidas que ajudaram na recuperação do antílope estão um programa anti-caça furtiva e de aplicação da lei para quem comete tal crime, a proteção do principal habitat da espécie, com monitoramento constante da população, além do envolvimento da comunidade local (ciência-cidadã) e da formação de equipes de guardas florestais bem treinados.
“Este é um marco significativo para a comunidade de conservação do saiga e ilustra como a conservação pode ser eficaz se todas as partes colaborarem com dedicação e recursos apropriados”, destaca Vera Veronova, diretora Executiva da ACBK, parceira de longa data da Fauna & Flora no Cazaquistão.
“Precisamos garantir que as ações de conservação continuem no Cazaquistão e nos países vizinhos de forma mais ampla, para garantir a recuperação do antílope a longo prazo, em todos os estados onde ele é encontrado”.
Foto (destaque): Andrey Giljov/Wikimedia Commons
É uma felicidade imensa saber que uma espécie está se recuperando da total extinção! Fico emocionada. O importante agora é garantir que outras espécies também não entrem para a lista dos níveis 4 em diante!!! A espécie humana precisa aprender que não sobreviverá sozinha na Terra. Também entrará para a lista em nível 8!