Como relatamos aqui no final de janeiro, nesta outra reportagem, as lavouras da Etiópia, Quênia e Somália estavam sendo destruídas por uma das maiores infestações de gafanhotos do deserto (Schistocerca gregaria) dos últimos 25 anos. A espécie é tida como a praga migratória mais antiga da humanidade.
Pois há poucos dias, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) fez mais um alerta, que uma nova onda de proliferação dos insetos pode tornar a situação ainda mais fora de controle, colocando em risco a segurança alimentar de 20 milhões de africanos, que já estão sendo afetadas. De acordo com a entidade, a ameaça atinge ainda Tanzânia, Uganda e Sudão do Sul e também, Irã e Yemen.
Houve um longo período de chuvas em março e mais é esperado para os próximos meses. Com isso, especialistas acreditam que a propagação dos gafanhotos possa se tornar ainda maior – mais especificamente, fazer como o número de gafanhotos aumente em 20 vezes.
Cada enxame contem milhões de insetos, que podem percorrer uma distância de até 150 km por dia e comer o equivalente ao seu próprio peso em 24 horas, aproximadamente duas gramas. Um único enxame, cobrindo uma área de 1 km2 , pode conter até 80 milhões de gafanhotos.
Para piorar ainda mais o cenário já preocupante, as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus dificultaram a circulação das equipes locais que estão combatendo a infestação dos insetos.
“Não há desaceleração significativa porque todos os países afetados que trabalham com a FAO consideram os gafanhotos do deserto uma prioridade nacional”, afirmou Cyril Ferrand, líder do time de resiliência da organização para a África Oriental.
Até agora, mais de 240 mil hectares foram tratados com pesticidas ou biopesticidas químicos em toda a região. Todavia, o COVID-19 teve um impacto no fornecimento de pulverizadores motorizados e herbicidas.
“O maior desafio que enfrentamos no momento é o atraso no fornecimento desses pesticidas porque o frete aéreo global foi reduzido significativamente”, revela Ferrand. “Nossa prioridade absoluta é impedir a quebra dos estoques desses produtos em cada país. Isso seria dramático para as populações rurais cujos meios de subsistência e segurança alimentar dependem do sucesso de nossa campanha de controle”.
Além disso, o trabalho de combate conta com a importante ajuda da tecnologia através da coleta de dados remotos realizada por uma rede de parceiros e organizações de base, fundamental para fornecer informações sobre locais remotos, especialmente na Etiópia, Quênia, Somália e Sudão do Sul.
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Foto: divulgação/Organização Mundial de Saúde