Após analisarem dados genéticos, plumagem, formas corporais e canto de um grupo de aves da Caatinga – a choca-do-nordeste – pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV), em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi e as universidades federais do Pará (UFPA) e do Rio Grande do Norte (UFRN), descobriram que a espécie se dividiu em duas, surgindo uma nova choca.
O motivo? Alterações no curso do rio São Francisco, além de oscilações climáticas ocorridas ao longo de milhões de anos.
Assim, antes classificada como Sakesphoroides cristatus, a nova espécie recebeu nova classificação – Sakesphoroides niedeguidonae – e, ontem (17/6), foi descrita na revista científica Zoologica Scripta.
No artigo A new antshrike (Aves: Thamnophilidae) endemic to the Caatinga and the role of climate oscillations and drainage shift in shaping cryptic diversity of Neotropical seasonal dry forests (Uma nova choca – Aves: Thamnophilidae – endêmica da Caatinga e o papel das oscilações climáticas e da mudança de drenagem na formação da diversidade críptica das florestas secas sazonais neotropicais), os cientistas analisam as características (plumagem, formas e medidas do corpo…) de 1079 aves, entre elas 92 exemplares preservados em museus e 987 fotografias digitais.
Também dissertam sobre 115 gravações sonoras atribuídas às chocas-do-nordeste, além de 58 amostras de material genético e 568 registros de ocorrência, que indicam sua distribuição geográfica.
Com esses dados, ainda foi possível estimar a história genética do grupo e relações de parentesco entre as linhagens, ao longo do tempo. Também foi possível inferir a quantidade de indivíduos existentes e nichos climáticos (sua distribuição de acordo com o clima).
E, dessa forma, identificaram que havia dois padrões distintos no canto das aves estudadas, que também apresentavam diferenças na plumagem das fêmeas (a foto é de uma fêmea).
Nas amostras, a diferença dos dados genéticos – 1,8% – também revelaram a existência de dois grupos. “Comparamos as informações com outras espécies da mesma família e vimos que esse valor é até maior do que o encontrado entre outras espécies já reconhecidamente há séculos como diferentes”, explica Pablo Cerqueira, pesquisador-bolsista do ITV e primeiro autor do artigo.
Diversidade da Caatinga
“Estamos vendo que a Caatinga tem espécies ainda não descritas de todos os grupos e, quanto mais frequente for a incorporação de dados moleculares nos estudos, maior é a chance de encontrar novas espécies”, comenta Alexandre Aleixo, pesquisador do ITV e, também, autor do artigo.
E Cerqueira destaca que este foi o primeiro estudo a revelar um novo padrão evolutivo para as aves da região, sinalizando que ainda há muito a ser descoberto. Por isso, a partir da hipótese da diversificação da Caatinga, o grupo de cientistas quer continuar testando esses padrões em outras espécies com distribuição similar no bioma.
“Queremos também trabalhar com genomas completos em torno dessa nova espécie e entender melhor como é a relação com a espécie irmã quando elas se encontram”, conta Aleixo.
Os pesquisadores acreditam que o novo estudo pode contribuir, ainda, para a criação de estratégias de conservação, não só para essas espécies como para o ecossistema como um todo, abrindo espaço para outras pesquisas.
Cerqueira explica: “Os futuros estudos ecológicos e populacionais podem ser mais focados em cada uma das espécies, avaliando se os tamanhos populacionais estão sofrendo influência do desmatamento e se variam com o aumento da temperatura”.
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Com informações da Agência Bori
Foto: Pablo Cerqueira/acervo dos pesquisadores