Em sua passagem pelo Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), a atriz britânica de 62 anos fez discurso contundente e inspirador ao falar da cena de nudez protagonizada por ela em seu novo filme e da opressão vivida pelas mulheres, que as deixa desconfortáveis quando estão nuas.
“Nós, mulheres, sofremos lavagem cerebral para odiar nossos corpos. Isso é fato! E tudo que nos rodeia nos lembra o quanto somos imperfeitas e que tudo está errado com a gente! E você tem que se mostrar de uma certa forma…”.
Esse é um dos trechos da resposta de Emma Thompson a uma pergunta feita durante coletiva de imprensa sobre o filme Good Luck to You, Leo Grande, dirigido pela australiana Sophie Hyde, a respeito da cena em que sua personagem Nancy aparece nua em frente a um espelho.
Nancy é uma professora de 55 anos, viúva, “que busca estabelecer conexões pessoais, mas também físicas e sexuais”, explica o jornal El País.
“Se estou na frente de um espelho, me movo, coloco algo, fico de lado, faço alguma coisa. Eu não posso estar assim” (Emma fica imóvel) “porque é horrível”. Em seguida, levantou-se e provocou:
“Tente ficar em frente ao espelho. Tire suas roupas e não se mexa. Só aceite isso e não se julgue!”, destacou a atriz de 62 anos sobre mostrar seu corpo “não tratado” por tratamentos estéticos e cirurgias plásticas num filme.
“Foi a coisa mais difícil que tive que fazer! Eu fiz algo que nunca tinha feito como atriz”. E finalizou: “Isso é dever de casa para todos vocês. Só estamos acostumados a ver corpos que foram, sabe, ‘treinados’”.
Emma foi aplaudida pelos presentes e, algumas horas depois, também nas redes sociais: sua fala viralizou rapidamente.
Mas esta não foi a primeira vez que a a atriz vencedora do Oscar de melhor atriz por Retorno a Howards End (1992) e de melhor roteiro adaptado por seu trabalho como roteirista em Razão e Sensibilidade (1995) se pronunciou de forma tão contundente sobre essa experiência.
Em janeiro último, ela já havia comentado a cena que protagonizou como Nancy e declarado sua indignação a respeito da pressão que a sociedade exerce (e cobra) da estética feminina:
“Eu não acho que teria conseguido fazer essa cena antes de ter a idade que tenho hoje. E mesmo assim, é claro, a minha idade torna a cena ainda mais desafiadora, porque não estamos acostumados a ver corpos não representados nas telas”.
E completou: “Sempre fui uma espécie de militante feminista quando se trata dos corpos das mulheres, o que nos foi feito e o que nos dizem que devemos esperar de nós”.
Assista ao trecho mais contundente da fala de Emma Thompson na Berlinale:
Foto: Diivulgacao/Elena Ternovaja/Creative Commons
