Atualizado em 17/8/2020
Esta campanha foi criada pelo ilustrador e ativista Gladson Targa e “abraçada” pelo movimento Slow Food Brasil para “cutucar” os fabricantes de café que compram grãos do maior produtor brasileiro, João Faria da Silva. Motivo: ele moveu ação de despejo contra o assentamento Quilombo Campo Grande, localizado no município de Campo do Meio, que foi surpreendido por uma ação policial truculenta depois que o juiz Walter Esbaille Júnior, da Vara Agrária de Minas Gerais, assinou a liminar de despejo, há duas semanas.
Para os organizadores da campanha, se as empresas fabricantes continuam comprando desse produtor, é porque o apoiam nessa ação. E empresas que primam pela sustentabilidade em seus processos, precisam escolher fornecedores que respeitem os direitos humanos.
Desde 1988, a área é disputada judicialmente pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) – que defende que, ali, seja feita reforma agrária – e os proprietários da falida fazenda e usina Ariadnópolis, em parceria com a Jodil Agropecuária, de João, que quer arrendar as terras para produzir mais café.
Os quilombolas ocupam as terras há mais de 20 anos e investiram cerca de R$ 20 milhões em estrutura e plantações. Hoje, produzem cerca de 510 toneladas de café (marca GUAIí) por ano.
Pela ordem judicial, teriam até dia 14 para abandonar essas terras, mas o processo ainda está sendo questionado pela comissão de direitos humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, junto ao Ministério Público, ao Tribunal de Justiça, à Mesa de Diálogo de Conflitos no Estado e da Procuradoria de Justiça.
Depois de parado por cinco anos, o processo ganhou novos contornos quando, em 2016, foi homologado o plano de recuperação judicial da empresa que gerenciava a fazenda, 16 anos após decretada sua falência. E as declarações de Jair Bolsonaro, antes e depois de ser eleito, podem ter inspirado essa ação arbitrária para um caso que precisa ser julgado pela Justiça, com direito a defesa.
Para ir mais fundo no assunto, leia as reportagens do site De Olho Nos Ruralistas e do MST (sem preconceito, por favor).
Assim, mas a campanha No Meu Bule Não foi criada com o intuito de conscientizar os brasileiros sobre a situação das 450 famílias que compõem esse quilombo, além de sua força como consumidores. Como? Por meio do boicote aos produtos produzidos pelas empresas clientes de João, que, de forma indireta, apoiam a ação.
Nas poucas entrevistas concedidas à imprensa, o “barão do café” – como também é conhecido um dos maiores (se não o maior) exportadores do Brasil -, revelou que seus principais compradores são a Nestlé e a Jacob’s Douwe Egberts (dona das empresas Douwe Egberts e da Mondeléz), que comercializam as marcas Nespresso, Nescafé, Caboclo, Pilão, Café Pelé, Café do Ponto, L’OR, Damasco e Senseo, entre outras.
Não significa que esta ação vai alterar o destino dos moradores do Quilombo Campo Grande, mas, sim, que pode ajudar a criar consciência sobre a situação das terras improdutivas no país e o desrespeito aos direitos de pessoas que não têm onde morar, nem terras suas para plantar, mas produzem alimentos saudáveis, para que se defenda os direitos dos pequenos produtores rurais.
Como funciona a campanha
Ela é inspirada em dois movimentos: o Boycott, Divestment and Sanctions (BDS Movement), lançado como forma de pressionar artistas para que não toquem, exponham ou exibam seus trabalhos em Israel e o Friends of Al Aqsa (FOA), que promove a campanha chamada #NotInMyFridge, que visa boicotar empresas como a Coca-Cola, que produz em território ocupado por Israel na Palestina.
A ideia é que as pessoas fotografem ou façam vídeos e publiquem em suas redes sociais, com a hashtag #NoMeuBuleNão, para mostrar que, em suas casas, os cafés produzidos por empresas que compram da Terra Forte (empresa de João) não têm espaço em suas prateleiras e mesas.
Como identificar as marcas de café
Em caso de duvida sobre a procedência do café, o Slow Food sugere que o consumidor entre em contato com o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) de cada empresa para confirmar. E, caso a procedência do grão – que a empresa é cliente de João -, o consumidor revele sua indignação e informe que está boicotando os produtos da empresa ou marca.
Sim, este é um trabalho de formiguinha, que exige paciência e muita convicção, e que pode ajudar a espalhar a verdade, combater a injustiça, fortalecer a prática da cidadania e do consumo consciente.
Imagem: Divulgação
Seria bom ter uma lista de marcas que não são “do mal”
Só buscar nas redes sociais @nomeubulenao
Também eu penso…facilitaria bastante…