Atualmente o Pantanal é um dos melhores lugares do mundo, se não, o melhor, para se avistar onças-pintadas de perto em vida livre. Graças ao trabalho comprometido com a conservação de operadoras de ecoturismo, turistas conseguem realizar o sonho de ver, ao vivo, o maior felino das Américas. A bordo de pequenos barcos ou veículos de safari, é possível fotografá-los e apreciar seu comportamento à distância. E para alguns mais afortunados, presenciar algumas cenas raríssimas, como a que aconteceu em dezembro, considerado um “avistamento mágico, raro e inesquecível”.
O biólogo e guia Murilo Frasão estava no Refúgio Ecológico Caiman, no Mato Grosso do Sul, acompanhado do colega e também guia de campo Samuel Nunes e três turistas. Rumavam para uma área em que se costuma observar com facilidade onças-pintadas. Mas mesmo antes de chegar ao local, eles já tinham certeza de que elas estavam ali.
“Conseguíamos de longe já ouvir os sons delas brigando”, contou Murilo ao Conexão Planeta. “Daí fomos só acompanhando, seguindo nossos protocolos de aproximação, e pudemos ver quatro indivíduos e muitos comportamentos específicos. Passamos cerca de duas horas vendo esses animais e pudemos informar outros veículos em passeio que também foram conferir”.
O embate entre as onças foi gravado por Erika Baracchini Flores e viralizou nas redes sociais (assista ao vídeo no final desta reportagem).
Os dois machos que aparecem brigando são Suki e Mango. Há mais de uma década os profissionais do Onçafari identificam, através das rosetas (pintas) em sua pele, as onças que vivem na região desse refúgio ecológico e por isso conhecem praticamente todas.
Mango, à esquerda, e Suki, na direita
(Foto: Murilo Frasão)
Segundo Frasão, Suki apareceu no território da Caiman já adulto, em 2020, mas nunca foi capturado para serem feitas medições e coleta de amostras. A estimativa é que tenha mais de cinco anos. Já Mango é filho de uma onça chamada Leen. Nasceu em 2020, e tem, portanto, três anos de vida.
O registro da interação agressiva entre os dois machos foi raro também por causa do horário em que ocorreu.
“Em geral, esses felinos descansam durante o dia e no início da noite ficam mais ativos, quando passam a investigar a paisagem atrás de suas presas. Mas são animais oportunistas, havendo uma boa possibilidade de predação durante o dia e as onças podem investir sua energia nisso também. Todavia, tipicamente são animais de atividade noturna”, explica o biólogo.
Mango, com o colar GPS, encarando o outro macho
E além de Suki e Mango, estavam ainda na cena Acerola e Surya.
Acerola estava apenas observando a disputa. Pra quem não se lembra, esse macho foi adotado simbolicamente pelo jogador de futebol Richarlison, após sua viagem ao Pantanal, no ano passado, para conhecer mais sobre o trabalho de conservação realizado pelo Onçafari.
Filho da onça Pandhora e neto da Esperança, Acerola nasceu na Caiman e foi registrado pela primeira vez por uma armadilha fotográfica em outubro de 2020.
Acerola, só na espreita, esperava uma chance para poder chegar perto da fêmea
(Foto: Murilo Frasão)
E Surya, provavelmente, era o principal motivo pela briga espetacular entre os dois machos.
“Mango estava acasalando com ela e sendo protetivo frente aos outros machos”, diz Murilo.
Para guias e turistas, foram duas horas inesquecíveis. “Pudemos observar comportamentos distintos: interação agressiva, cópula, demarcação de território e vocalizações. Absolutamente fantástico”, relembra.
O motivo da briga: Mango sobre Surya
(Foto: Murilo Frasão)
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Fotos: cedidas gentilmente por Murilo Frasão
