Desmatamento, fogo, seca… Os biomas brasileiros estão em perigo devido à ação humana, que destrói a natureza e intensifica as mudanças do clima, desenhando cenários inóspitos para os animais silvestres, vítimas invisíveis dessa tragédia.
Cada habitat devastado reúne histórias de centenas de espécies – a exemplo da onça-pintada, da anta, do tamanduá-bandeira, do lobo-guará, queixada, tatu-bola, jacaré, tuiuiú, arara, macaco, zogue-zogue, entre outros – que perdem o lar ou a vida.
Os que se aventuram em busca de um novo território com oferta de água, comida e abrigoainda correm o risco de serem atropelados e mortos. A cada segundo, estima-se que 17 animais silvestres são dizimados nas estradas brasileiras. Um total de quase meio bilhão ao ano!
Para dar maior visibilidade aos animais e sensibilizar o público por meio da arte, hoje – Dia Mundial de Proteção às Florestas, também conhecido no Brasil como Dia do Curupira (conhecido também como Dia do Curupira, personagem do folclore que defende as matas das agressões dos humanos), está sendo lançada a música Defaunação, acompanhada do manifesto Em defesa da Vida Silvestre! Defaunação, não! Refaunação, já!, que você pode assinar aqui.
Idealizada pela organização Proteção Animal Mundial (World Animal Protection, WAP), a canção tem letra de Carlos Rennó (autor de Demarcação Já) e música de Péricles Cavalcanti, e produção musical do maestro Xuxa Levy.
Assista ao clipe, produzido pelo Coletivo Bijari, no site e nas redes sociais da organização (Instagram, Facebook, X (antigo Twitter), TikTok e Linkedin), como também nas redes de Rennó (Instagram e Facebook), responsável por reunir as vozes que fazem parte deste projeto. E ouça nas plataformas de streaming Spotify, Deezer, Apple Music, Amazon Music e Tidal.
Defaunação e refaunação
O título da música alerta para a ação humana de forma intensa e constante nos biomas e que impacta diretamente a vida silvestre.
Os cinco versos que compõem a canção são interpretados por Ney Matogrosso, Zahy Tenthar, Frejat, Letrux e Mahmundi, ativistas da causa animal, e nos lembram que os animais são sencientes, capazes de sentir emoções complexas como medo, dor ou alegria, como nós.
Também fala dos riscos provocados pela agropecuária industrial, “que causa imenso sofrimento em animais de fazenda, como bovinos, aves e porcos – criados como meras mercadorias, e não como seres vivos”, destaca a WAP.
Para Júlia Trevisan, coordenadora de Vida Silvestre da organizacao no Brasil, a música é muito especial por apresentar os conceitos de defaunação e refaunação ao público.
“São termos diferentes e distantes do dia a dia, mas extremamente relevantes quando se fala de conservação e restauração ambiental”, explica.
“É importante falar sobre a defaunação que estamos vivenciando e que silenciosamente está matando quem habita a floresta. Da mesma forma que é importante promover a refaunação, que significa a reintrodução ou a volta de espécies da fauna para seus habitats naturais” [como sempre contamos aqui, no site].
“[Todos] precisamos conhecer esses termos para entender a importância da fauna silvestre e como nossas florestas dependem dos animais para se manter saudáveis e prosperar. E, nada melhor do que artistas com grande alcance para levar essa mensagem para o público”, destaca.
Os animais na visão dos artistas
Durante as filmagens, a Proteção Animal Mundial conversou com cada artista para compreender melhor sua proximidade e seu entendimento sobre esses temas. Reproduzimos aqui alguns trechos dessas rápidas conversas.
O que motivou o cantor Ney Matogrosso a se tornar ativista em defesa dos animais foi a percepção do sofrimento dos animais silvestres, que ele ganhou numa temporada na fazenda de seu avô.
“Eu era adolescente e estava na fazenda do meu avô. Fui acompanhar um grupo que saiu para caçar porque era algo considerado normal, caçar para comer. Mas os homens atiraram num bando de macacos e eu vi as mães tentando proteger os filhotes. Balearam também um gavião e eu fui acudir o animal, que estava com tanta dor que cravou a garra na minha mão e eu não tive coragem de tirar. Naquele momento eu entendi tudo”.
Ney é um dos padrinhos – o primeiro! – do Instituto Vida Livre, que fica no Rio de Janeiro e atende diariamente animais feridos de diferentes formas e gravidades. Parte deles volta à natureza, mas alguns não têm mais essa chance e são encaminhados para santuários ou mantenedouros de fauna para que tenham vida digna, apesar das consequências (lembram dos macacos-prego Marcelinho e Marcelinha, vítimas dos fios de alta tensão da Light, no Rio de Janeiro, que hoje vivem num recinto criado por Glória Pires?).
Para o músico Frejat, o ser humano é um dos animais mais nocivos dentro do planeta. “A visão do homem é egoísta e destrutiva. É importante lembrar que vivemos com milhares de outras espécies e que é necessário respeitar. Não estamos aqui sozinhos!”.
Esta é a primeira vez que a cantora Mahmundi participa de um projeto em prol da vida silvestre: “Tem muita gente envolvida nessa música linda, animais participam com seus sons. Eu sou suspeita porque amo música e amo bicho, então quando recebi esse convite foi uma benção”.
Na avaliação da cantora Letrux, despertar a curiosidade do público é mais um dos atrativos de Defaunação. “Minha sugestão é curtir a música, prestar atenção no nome dos animais e pesquisar sobre eles para aprender sobre a importância da preservação das espécies. Não é porque saímos da escola que precisamos deixar de querer aprender. O melhor agora é que não existe a pressão para uma nota alta no boletim”.
Para a atriz e cantora indígena Zahy Tentehar a canção também desperta o lado lúdico no público, por isso, ela quis contar qual animal silvestre ela gostaria de ser. “Uma ave, para voar longe, pousar numa árvore, ficar cantando. Voar é um negócio bonito, poder olhar do alto, ter uma visão ampla de tudo”.
No ano passado, Zahy Tentehar atuou na ópera O Guarani, adaptada pelo líder indígena, autor e membro da Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak. Este ano recebeu o Prêmio Shell de Melhor Atriz por sua interpretação no monólogo Azira’I. E, recentemente, Zahy foi escalada para a nova novela das 18h da Globo (No Rancho Fundo) e para filme (Sisters of Lucia) do diretor alemão Akiz Ikon, ambientado na Rocinha.
“Defaunação é uma música em defesa dos animais e da vida. E diz respeito ao sentimento do amor, que está no cerne e no coração da música ‘Escrito nas Estrelas’” [um de seus maiores sucessos], diz Carlos Rennó. Ele ainda revela se identificar naturalmente com os pássaros. “Porque eu sou poeta, e um poeta da música: sou letrista. Então eu me identifico com eles porque têm a ver com o canto e com o voo”.
O autor da letra de Defaunação celebra a quinta vez em que Ney Matogrosso grava uma música de sua autoria. A primeira foi em 1985, ‘Na Chapada’, em dueto com Tetê Espíndola. E esta é a primeira vez em que faz uma parceira com o amigo de quatro décadas, Péricles Cavalcanti.
A seguir, assista ao clipe da música Defaunação com Ney, Zahy, Frejat, Letrux e Mahmundi, produzido lindamente pelo Coletivo Bijari:
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Foto (destaque): Proteção Animal Mundial/divulgação