Manukura morreu tranquilamente, dormindo, no último dia 27 de dezembro. A kiwi fêmea nasceu em 2011, em cativeiro, com uma condição única, uma peculiaridade genética, chamada de leucismo, devido a um gene recessivo, por isso ela era branca.
Nativos da Nova Zelândia, os kiwis (Apteryx mantelli) são aves peludas, marrons, com bicos longos e não possuem asas e por essa razão, não voam. Eles têm os sensos do tato, audição e olfato extremamente apurados.
Ao nascer branquinha, Manukura se tornou mais um símbolo da luta da preservação dos kiwis na Nova Zelândia, já que a espécie está ameaçada de extinção. A fêmea se tornou modelo para bichos de pelúcia e personagem de livros de história. Além disso, para algumas etnias Maöris, a kiwi branca era considerada um animal sagrado por causa de sua cor e tida como um sinal de esperança para o futuro.
Manukura era uma das principais atrações do centro de vida selvagem
No começo de dezembro, seus cuidadores no Pūkaha National Wildlife Centre notaram que Manukura tinha perdido peso. Ela foi levada então a um hospital veterinário.
“Ela precisou ser operada para remover um ovo não fecundado que ficou preso e não expelido naturalmente. Depois foi necessária outra cirurgia para retirar seu oviduto e a maior parte de seu ovário esquerdo. Os procedimentos correram bem, mas não foram suficientes para salvá-la e sua saúde continuou a piorar nas semanas seguintes… Sentiremos imensas saudades dela”, escreveu a equipe do Pūkaha National Wildlife Centre, em suas redes sociais.
Entre 2011 e 2012, além de Manukura, outros dois kiwis também brancos nasceram. Ela era a mais velha de todos. Viveu pouco mais de nove anos.
Ave símbolo da Nova Zelândia
No final do ano passado, escrevi aqui quando a Nova Zelândia celebrou o nascimento de seu 2000o kiwi. A expectativa era tanta para a chegada do novo filhotinho, que a eclosão do ovo foi transmitida ao vivo, pela internet.
Antes dos exploradores aportarem na Nova Zelândia, estima-se que milhões de kiwis habitavam o país. Mas em 1998, a população já tinha caído para menos de 100 mil, e em 2008, esse número diminuiu ainda mais, cerca de 70 mil. Hoje acredita-se que restem 68 mil kiwis e há um perda, anual, de 3% de indivíduos.
Um dos principais problemas enfrentados pela espécie é que, de cada 100 ovos de kiwi depositados em tocas na floresta, apenas cinco filhotes chegarão à idade adulta. Seu principal predador é o furão, mas nos dias atuais, cães e gatos domésticos também se tornaram ameaças. Em média, 27 kiwis são mortos por predadores toda semana, com essa taxa, especialistas temem que a ave pode ser extinta ainda em nossa geração.
Quem é o kiwi?
Existem cinco espécies de kiwi: Great Spotted, Okarito Brown (Rowi), Tokoeka, Little Spotted e North Island Brown. Todas elas estão em risco de extinção – uma mais do que outra. A mais rara é a Rowi, encontrada apenas em uma pequena área da Ilha Sul, que conta com menos de 400 indivíduos.
Kiwis são aves muito especiais. Os biólogos explicam que elas têm hábitos tão diferentes porque, durante milhões de anos, viveram em um ambiente sem mamíferos, como em nenhum outro lugar da Terra.
Talvez por não ter disputado espaço com eles, puderam se adaptar livremente no chão e desenvolver características inusitadas para outras aves, como por exemplo, ter pernas pesadas e musculosas, que compõem quase um terço do seu peso: perfeito para uma vida passada no solo.
Um filhote de kiwi
Os kiwis cavam tocas para seus ninhos, algo que associamos mais a ratos e outros mamíferos terrestres do que a aves. E os ovos que eles depositam são enormes, quase 20% do seu peso corporal, proporcionalmente um dos maiores de todos os pássaros.
Confira abaixo outras curiosidades sobre a ave símbolo da Nova Zelândia:
- Os kiwis já nascem com todas as penas e se alimentando sozinhos, incomum para aves;
- Dormem em pé;
- Correm tão rápido quanto um humano se são ameaçados;
- Possuem quatro dedos em um pé grande e acolchoado parecido com dinossauro, perfeito para andar sem fazer muito barulho;
- As penas são bagunçadas, parecem com um fio de cabelo grosso, e possuem bigode como os gatos;
- A temperatura corporal é maior que da maioria das aves, se aproximando mais dos mamíferos;
- As mães trabalham muito, colocando mais de 100 ovos ao longo da vida – cada um equivalendo a 20% do peso corporal dela (comparando aos humanos, o bebê nasce com apenas 5% do peso da mãe);
*Com informações do WWF New Zealand e do Turismo da Nova Zelândia
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Fotos: reprodução Facebook Pūkaha National Wildlife Centre
São lindas, qualquer que seja a cor e se Manukura não voava, por conta dessa característica de sua espécie, sem asas, quem sabe as tenha recebido agora que está mais leve, a fim de voar como anjos brancos ou negros voam, vencendo distâncias pela ação da vontade e sendo ainda mais feliz e livre do que foi, quando entre nós recebeu atenção e cuidados. Pelo menos Manukura morreu dormindo, não foi morta. Deixando saudades nos corações que a conheceram, morreu dormindo, sem que ninguém a isso a obrigasse, quem sabe sonhando ser novamente feliz quando voltar, se Deus quiser, para viver de novo.