Contamos aqui, em 2018, a história de Valente, Flora e Júpiter, três antas que viajaram mais de 1 mil quilômetros para chegar a seu novo lar: a Reserva Ecológica de Guapiaçu, no município de Cachoeiras de Macacu, no estado do Rio de Janeiro.
Os três animais se juntavam ao casal Eva e Floquinho, que foi levado para a reserva um ano antes. As cinco antas eram as primeiras a habitar a região depois de pelo menos um século de extinção da espécie no local. A iniciativa para o reintrodução dos animais faz parte do Projeto Refauna.
Agora, dois anos depois, chega uma excelente notícia: imagens de uma armadilha fotográfica flagraram o primeiro filhote do grupo, conforme informou a equipe do Refauna em sua página no Facebook.
“Depois de muito trabalho, empenho e torcida, tivemos finalmente a confirmação do primeiro nascimento em vida livre de anta que se tem notícia no estado do Rio de Janeiro, desde sua extinção há mais de 100 anos…
A reprodução das antas é lenta, são 13 meses de gestação para o nascimento de um único filhote, que demora cerca de dois anos para se tornar totalmente independente.
Estimamos que o filhote nasceu em janeiro, mas só foi detectado essa semana após a revisão das armadilhas fotográficas. Antes, ele vinha sendo mantido protegido por sua mãe, a anta Eva”.
O vídeo, que você assiste logo abaixo, mostra mãe e filhote em área de vegetação fechada, a caminho de um banho de rio. Ainda não se sabe o sexo do novo membro do grupo. O corpo, com listras brancas, é típico dos “bebês antas”.
“O nascimento é um marco no retorno das antas às florestas fluminenses. Estamos trabalhando para que o filhote cresça saudável e em segurança. E para que em breve venham mais filhotes para pintar as nossas matas”, afirmaram os biólogos do Refauna.
O filhote será monitorado pelas armadilhas fotográficas até completar seis meses. Depois disso, ele será capturado, brevemente, para a realização de exames.
Anta: a gigante das matas
A anta (Tapirus terrestris) é o maior mamífero terrestre da América do Sul. Pode pesar entre 200 e 300 kg. “Ela é herbívora e conhecida como jardineira da natureza pois, ao se alimentar dos frutos das árvores e arbustos, espalha as sementes pelo caminho, contribuindo essencialmente para a biodiversidade”, explica Pedro Chaves Camargo, veterinário do Projeto Refauna.
No mundo todo, existem quatro espécies de antas conhecidas pela ciência: a anta-da-montanha (Andes), a anta-centro-americana (América Central), a anta-malaia (Indonésia), além da observada na América do Sul – todas ameaçadas de extinção, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, (IUCN na sigla em inglês).
Entre as principais ameaças à sobrevivência das antas estão a perda de habitat (desmatamento) e a caça ilegal.
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Fotos: reprodução vídeo/ Maron Galliez