Anta, a jardineira das florestas, ameaçada de extinção

Hoje (27) é o Dia Mundial da Anta. Apesar de dar margem para inúmeros trocadilhos, a criação da data tem um propósito sério: a conservação de todas as espécies de antas encontradas no planeta.

Existem 4 espécies de antas conhecidas pela ciência: a anta-da-montanha (Andes), a anta-centro-americana (América Central) e a anta-malaia (Indonésia) – que estão ameaçadas de extinção segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês). Em território brasileiro encontramos a anta-sul-americana (foto de abertura), que é considera vulnerável (segundo a assessoria do Instituto de Pesquisas Ecológicas, a anta-pretinha, que foi descrita em 2013, ainda não foi reconhecida como nova espécie).

“A anta [Tapirus terrestris] é o maior mamífero terrestre da América do Sul. Além disso, é a jardineira de nossas florestas por ser uma excelente dispersora de sementes, contribuindo desta forma para a formação e manutenção da biodiversidade dos biomas brasileiros onde vive (Amazônia, Pantanal , Cerrado e Mata Atlântica). E tem mais: estudos recentes mostraram que a espécie tem uma quantidade imensa de neurônios, confirmando que ela é um animal extremamente inteligente.

Portanto, a cultura brasileira de usar anta como xingamento, com conotação pejorativa, é completamente injusta e absolutamente infundada. Ser chamado de anta é um elogio!”. As palavras são de Patrícia Médici, Ph.D. em manejo de biodiversidade e coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira. O objetivo do projeto é estabelecer um programa de pesquisa e conservação da anta-sul-americana na região do Pantanal e depois expandir as ações para a Amazônia e o Cerrado.

Anta-centro-americana (Tapirus bairdii) – Foto:  Sasha Kopf/ Creative Commons

Em agosto de 2013, a pesquisadora, em parceria com a jornalista ambiental Liana John, lançou a campanha Minha Amiga é uma Anta, desenvolvida para o público infanto-juvenil (veja o vídeo da campanha no final do post). A intenção era chamar a atenção sobre a importância da conservação da anta brasileira, despertar o orgulho pela ocorrência da espécie no Brasil e desmistificar o conceito de que “anta” é um ser desprovido de inteligência .

É possível baixar a cartilha educativa da anta brasileira, escrita por Liana John e a pesquisadora Patrícia Médici e ilustrada pelo cartunista Luccas Longo, com informações sobre a espécie, materiais para estudo e trabalhos de escola, fotografias e ilustrações.O trabalho de Patrícia é reconhecido internacionalmente. Recentemente, ganhou o prêmio Commitent to Conservation Award (Compromisso com a Conservação) oferecido pelo Zoológico e Aquário de Columbus.

Ela também foi escolhida em 2014 para o TED Fellows Program, que seleciona jovens inovadores, engajados e inspiradores e os treina para que façam palestras no TED Talks. O programa é uma iniciativa do movimento global TED (Technology, Entertainment and Design) – organização sem fins lucrativos dedicada ao conceito baseado em Ideas Worth Spreading (ideias que merecem ser espalhadas, na tradução literal do inglês). Patrícia participou do TED Global, realizado no Rio de Janeiro em 2014 (assista ao vídeo no final deste post).

Anta-da-montanha (Tapirus pinchaque) – Foto: Diego Lizcano/Creative Commons

O desmatamento, a fragmentação do habitat, a competição com animais domésticos, a caça ilegal e os atropelamentos em rodovias fazem com que a população das antas continue diminuindo. Nada mais justo do que um dia para lembrar a importância desses simpáticos animais.

Anta-malaia (Tapirus indicus) – Foto: Xavier Malleret/ Creative Commons

Veja abaixo o vídeo da campanha Minha Amiga é uma Anta e, em seguida, a palestra de Patrícia Médici no TEDxGlobal, realizado no Rio de Janeiro, em 2014.

Leia também:
No Cerrado, antas e outros animais tentam sobreviver em fragmentos de habitat e oceanos de soja e cana
(artigo de Patrícia Médici)
Antas ganham coleiras luminosas para evitar atropelamentos no Cerrado 

Foto de abertura: Fábio Paschoal (Anta-sul-americana ou Tapirus terrestris) 

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Fábio Paschoal

Apaixonado por animais desde criança, logo decidiu estudar Biologia, formando-se pela USP em 2005. É técnico em turismo e trabalhou como guia a partir de 2008, tendo conduzido, por três anos, passeios de ecoturismo no Pantanal e na Amazônia. De 2011 até 2016, foi repórter e editor do site da revista National Geographic Brasil, onde nasceu o blog Curiosidade Animal (desde dezembro de 2016, aqui, no Conexão Planeta).