No começo de 2024, escrevi aqui no Conexão Planeta sobre uma impressionante aranha-teia-de-funil capturada na Austrália, até então, a maior já encontrada dessa que é considerada a espécie mais venenosa do mundo. Hércules, como acabou sendo batizado o macho, tinha 7,9 centímetros. Mas na semana passada, um espécime, ainda maior, de 9,2 cm, foi entregue no Australian Reptile Park, em Sidney.
Já há algum tempo essas medidas pra lá de exageradas chamavam a atenção de Kane Christensen. Ele trabalhava no parque, coletando o veneno das aranhas para a produção de antídoto. Todavia, em geral, os machos da espécie tinham, em média, 5 centímetros. Intrigado com o tamanho maior dos espécimes, ele entrou em contato com pesquisadores do Australian Museum, que se uniram a cientistas do Instituto Leibniz, na Alemanha, e da Universidade de Flinders, em Adelaide.
Graças à iniciativa de Christensen, o grupo de pesquisadores chegou à conclusão de que, na verdade, existem três espécies distintas de aranha-teia-de-funil de Sidney, e não somente uma, como se acreditava até agora. Em homenagem a ele, a maior delas, observada na região de Newcastle, foi batizada de Atrax christenseni.
“Nossa pesquisa revelou diversidades ocultas entre aranhas-de teia-de funil”, afirma Stephanie Loria, pesquisadora do Instituto Leibniz e principal autora do estudo. “A teia-de funil-de Newcastle, Atrax christenseni é uma espécie totalmente nova. A ‘verdadeira’ teia-de-funil de Sydney, Atrax robustus, é registrada na costa norte e central, e a teia-de-funil de Sydney do sul, Atrax montanus é um nome de espécie ressuscitado de 1914.”
Os pesquisadores utilizaram uma combinação de exames anatômicos e moleculares (DNA), além de comparação com espécimes de coleções de museus, para poder confirmar que realmente a temida aranha-teia-de-funil de Sidney era dividida em três espécies.
Segundo o Australian Museum, existem 38 espécies descritas de aranhas-de-funil australianas e elas atualmente são classificadas em três gêneros: Hadronyche, Atrax e Illawarra. Os machos são menores do que as fêmeas e a cor do corpo pode variar do preto ao marrom, mas a carapaça dura que cobre a parte frontal do corpo é sempre pouco peluda e brilhante.
Ainda de acordo com o museu australiano, “nem todas as espécies são conhecidas por serem perigosas, mas várias são famosas por seu veneno altamente tóxico e de ação rápida. O macho de Atrax robustus é provavelmente responsável pela maioria das treze mortes registradas e muitas picadas clinicamente sérias.”
A suspeita com a nova espécie é que, por apresentar glândulas maiores, a Atrax christenseni pode ter mais veneno. Estudos futuros devem ou não confirmar essa hipótese.
“As aranhas são mais velhas que os dinossauros. Em mais de 300 milhões de anos de existência, elas dominaram quase todos os ambientes da Terra e desempenham um papel vital nos ecossistemas globais. E elas são surpreendentemente diversas — há cerca de 52.500 espécies de aranhas vivas conhecidas, e potencialmente muitas mais para descobrir”, diz Kris Helgen, cientista chefe e diretor do Australian Museum Research Institute.
*Com informações e entrevistas contidas no texto de divulgação do Instituto Leibniz
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Foto de abertura: Kane Christensen