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Na cerimônia do Oscar, celebridades pedem paz na Ucrânia e em Gaza

De uns anos pra cá, cerimônias para a entrega de prêmios relacionados ao cinema (como Oscar, Bafta, Globo de Ouro…) costumam ser ambientes perfeitos para manifestações políticas e sociais. E isso se intensificou em 2022, com a guerra na Ucrânia: nesse ano, celebridades compareceram à cerimônia usando as cores da bandeira da Ucrânia, atacada pela Rússia desde então.

Este ano, era de se esperar que celebridades indicadas e vencedoras do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, de Hollywood, se manifestassem contra as guerras, em especial o genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza como resposta (desproporcional) ao ataque do grupo terrorista Hamas, em 7 de outubro de 2023.

Levando em conta a gravidade dos ataques na Palestina (veja os dados no final deste post), os protestos ficaram aquém do que poderiam ter sido, mas, mesmo assim, foram muito importantes para dar maior visibilidade à causa, ainda que sem apoio da cobertura da grande mídia. 

Da rua para o tapete vermelho

As manifestações pró-Palestina começaram na rua, reunindo cerca de mil pessoas que gritavam “Libertem a Palestina!” e portavam bandeiras da Palestina e cartazes que diziam “Enquanto você assiste [o Oscar], bombas são lançadas [em Gaza]”.

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O protesto atrasou o início da festa por conta do bloqueio de diversas vias nas proximidades do Dolby Theater, em Los Angeles, e à segurança reforçada: os convidados precisaram passar por três postos de controle até chegarem ao tapete vermelho.

Organizada pelo movimento Artists For Ceasefire (Artistas pelo Cessar-Fogo, contamos aqui)  que reúne 58 atores, músicos e cineastas como Mark Ruffalo, Cate Blanchet, Joaquin Phoenix, Riz Ahmed, Anoushka ShankarKristen Stewart, Susan Sarandon, Jon Stewart, John Cusak, Mahershala Ali, Ramy Youssef e Quinta Brunson  –, a manifestação reivindicou cessar-fogo imediato e definitivo em Gaza, libertação dos reféns desbloqueio de ajuda humanitária aos civis em Gaza: os caminhões têm sido impedidos de entrar no território por soldados e colonos israelenses.

O movimento foi lançado em outubro, quando enviou carta para o presidente Joe Biden e o Congresso norte-americano – assinada por mais de 400 pessoas da indústria do entretenimento, entre eles America Ferrera, que concorreram ao Oscar (melhor atriz coadjuvante por Barbie) Bradley Cooper (melhor filme, ator e roteiro original por Maestro).

O protesto popular era uma preparação para o que aconteceria no tapete vermelho, em seguida, no qual algumas celebridades passaram exibindo um bottom vermelho na lapela, com o símbolo do movimento: uma mão com um coração no centro. 

Entre estes estavam os atores Mark Ruffalo, Ramy Youssef (ambos do filme Pobres Criaturas), o ator e rapper Mahershala Ali, a diretora e roteirista Ava DuVernay, os diretores Misan Harriman e Kaouther Ben Hania (também roteirista) além da cantora Billie Eilish (vencedora da categoria Melhor Canção com ‘What I Was Made For?’, do filme Barbie) e seu irmão, Finneas O’Connell, produtor.

Misan Harriman, diretor do curta-metragem ‘The After’, que concorreu ao Oscar, e seu bottom
Foto: Nick Agro/©A.M.P.A.S
Na cerimônia do Oscar, celebridades pedem paz na Ucrânia e em Gaza
O bottom do movimento Artists4Ceasefire se destacou no vestido da roteirista Ava DuVernay
Foto: Nick Agro/©A.M.P.A.S.
Na cerimônia do Oscar, celebridades pedem paz na Ucrânia e em Gaza
Mahershala Ali, ator e rapper, aderiu à manifestação pelos palestinos
Foto: Trae Patton/©A.M.P.A.S.
Na cerimônia do Oscar, celebridades pedem paz na Ucrânia e em Gaza
Billie Eilish e seu irmão, o produtor Finneas O’Connell, agradecem Oscar de Melhor Canção,
exibindo seu apoio aos palestinos
Foto: Trae Patton/©A.M.P.A.S.

Quando chegou à cerimônia, Ruffalo acenou para a imprensa e, mesmo dizendo-se atrasado, parou para falar com eles sobre o bottom e Gaza (veja aqui). 

Na cerimônia do Oscar, celebridades pedem paz na Ucrânia e em Gaza
Mark Ruffalo e o bottom pró-Palestina, com sua esposa, a atriz Sunrise Coigney
Foto: Blaine Ohigashi/©A.M.P.A.S.

Em entrevista à revista Variety, Youssef explicou o movimento: “”Queremos o cessar-fogo imediato e permanente em Gaza. Queremos paz e justiça pelas pessoas na Palestina! Esta é uma mensagem universal para que parem de matar crianças. Ninguém alguma vez olhou para trás, para a guerra, e pensou que uma campanha de bombardeamento fosse uma boa ideia”. 

Na cerimônia do Oscar, celebridades pedem paz na Ucrânia e em Gaza
Ramy Youssef (Pobres Criaturas) apresenta um dos vencedores do Oscar
com a atriz, escritora e cineasta Issa Rae
Foto: Phil McCarten/©A.M.P.A.S.

E finalizou: “Por estar rodeado de tantos artistas dispostos a emprestar sua voz, a lista [de adesões do movimento] não para de crescer. Muitas pessoas usarão este bottom esta noite. Este é um espaço de corações falantes”. 

Esta não foi a primeira vez que os bottoms vermelhos foram usados em prol da Palestina: nos prêmios Grammy e na premiação do Sindicato dos Atores (SAG) também estiveram presentes.

Sem vínculo com o movimento Artists For Ceasefire, os atores Milo Machado-Graner (15 anos) e Swann Ariaud (do filme ‘Anatomia de Uma Queda’) também ostentaram o bottom na lapela, só que um pouco diferente: exibia a bandeira da Palestina (veja aqui).

Já no palco do Oscar 2024, poucas foram as celebridades (que anunciaram vencedores ou ganharam o Oscar) que dissertaram sobre as guerras e a urgência de paz. Apenas dois cineastas chamaram a atenção do público para o tema – na plateia e ao redor do mundo – com seus trabalhos e discursos emocionantes.

desumanização leva ao pior cenário

O inglês Jonathan Glazer levou o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro com Zona de Interesse, baseado em livro de ficção (do britânico Martin Amis) que retrata a vida cotidiana da família do militar nazista Rudolf Höss, que comandou Auschwitz e vivia muito próximo de um de seus campos de concentração usados para exterminar judeus,durante a 2ª Guerra Mundial.

Jonathan Glazer lê discurso comovente ao lado de seus colegas James Wilson e Leonard Blavatnik
Foto: Phil McCarten/©A.M.P.A.S.

Muito pertinente neste momento da humanidade em que os horrores do Holocausto foram lembrados por diversas vezes devido à semelhança com a ‘limpeza étnica’ em curso em Gaza.

Depois dos agradecimentos, Glazer fez discurso emocionante que arrancou aplausos da plateia em diversos momentos: “Todas as nossas escolhas foram feitas para refletir e nos confrontar no presente, não para dizer ‘olha o que eles fizeram’, mas ‘o que fazemos agora'”. E acrescentou: 

“Nosso filme mostra como a desumanização leva ao pior cenário. Moldou todo nosso passado e nosso presente. Neste momento, estamos aqui como homens que refutam o seu judaísmo e seu Holocausto sendo sequestrados por uma ocupação que levou tantas pessoas inocentes ao conflito”, se referindo aos territórios da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental (fora de Gaza), também ocupados e destruídos por Israel.

“Sejam as vítimas do 7 de outubro em Israel ou as do ataque em andamento em Gaza, todas vítimas desta desumanização, como vamos resistir?”, questionou sob aplausos.

“Eu queria nunca ter feito este filme”

O prêmio de Melhor Documentário ficou para 20 Dias em Mariupol, dirigido por Mstyslav Chernov, que retrata os primeiros dias da invasão da Rússia na cidade portuária da Ucrânia, que tinha 450 mil habitantes antes da guerra e ficou reduzida a escombros após os bombardeios incessantes comandados por Putin. 

Vencedor do Bafta deste ano na mesma categoria, o filme era favorito ao Oscar. 

O jornalista Mstyslav Chernov era favorito no Oscar, mas disse que preferia não ter feito o filme
Foto: Trae Patton ©A.M.P.A.S

Chernov é jornalista da Associated Press e viveu dias de assombro ao lado do colega fotojornalista Evgeniy Maloletka, logo após a invasão russa, em fevereiro/março de 2022. 

Os dois documentaram os horrores dessa guerra – e o impacto sobre civis – e foram os últimos jornalistas a serem resgatados pelas forças especiais ucranianas de Mariupol. Levaram com eles 30 horas preciosas de gravações.

Tiveram a ‘sorte’ que não brindou o colega lituano Mantas Kvedaravicius, capturado e assassinado pelos russos. 

Em seu filme, Chernov vai muito além dos noticiários diários, revelando histórias das vítimas do confronto: um pai que chora a morte lenta do filho adolescente no hospital (ele foi atingido por um míssil enquanto jogava futebol); um médico que tenta ressuscitar uma garota de 4 anos ao mesmo tempo que diz [para a câmera]: “continue filmando”; o bombardeio de uma maternidade e valas comuns preparadas para crianças, conta a Folha de SP.

Nas imagens está registrado também o trabalho de “correspondentes de guerra”. Foi graças a Chernov e Maloletka que o mundo conheceu a realidade de Mariupol estampada em diversos programas pelo mundo, o que foi imprescindível para neutralizar a campanha de desinformação empreendida pela Rússia. 

No Kremlin, eles eram acusados de “terroristas da informação”, mas, este ano, o Prêmio Pulitzer (um dos mais desejados por jornalistas internacionais) consagrou Chernov, Maloletka, Vasilisa Stepanenko e Lori Hinnant pelo serviço público oferecido com sua corajosa cobertura.

Após receber a estatueta – acompanhado de toda a equipe -, Chernov fez discurso contundente. 

“Este é o primeiro Oscar da história ucraniana. Mas, provavelmente, vou ser o primeiro diretor neste palco a dizer que eu queria nunca ter feito este filme. Queria que fosse possível trocar [o prêmio] pela Rússia nunca ter atacado a Ucrânia, nunca ter ocupado nossas cidades”.

Pediu a libertação de reféns, soldados e civis e ainda fez um apelo à comunidade de Hollywood presente à cerimônia: 

“Eu não posso mudar o passado. Mas, juntas, todas as pessoas talentosas do mundo podem garantir que a história seja registrada e que a verdade prevaleça e que as pessoas de Mariupol não sejam esquecidas! O cinema cria memórias e memórias criam a história”.

Solidariedade aos reféns

Por outro lado, sem qualquer menção aos palestinos, Avi Arad, fundador israelense-americano da Marvel Entertainment, usou uma fita amarela na lapela – distribuída pela ONG Bring Them Home -, para demonstrar solidariedade aos reféns mantidos em cativeiro pelo Hamas desde 7 de outubro.

Avi Arad ostenta fita amarela em solidariedade aos reféns mantidos em cativeiro pelo Hamas
Foto: Nick Agro/©A.M.P.A.S

No Globo de Ouro, no início deste ano, a atriz J Smith-Cameron e o ator John Ortiz também ostentaram essas fitas.

Ramadã começa sob grande violência

Ontem, 10/3, 156º dia dos ataques violentos de Israel – por terra e ar – contra os palestinos em Gaza, foi o primeiro dia do Ramadã (vai até 9 de abril), nono mês do calendário islâmico, no qual a maioria dos muçulmanos pratica o seu jejum ritual, o quarto dos cinco pilares do Islã.

Este ano, a celebração chega num momento em que 1/3 da população passa fome: já são mais de 20 as vítimas fatais de desnutrição. E os soldados israelenses não deram trégua aos palestinos, atacando-os com grande violência durante suas orações, como aconteceu na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém.

Em Rafah, fiéis oraram nos escombros de uma das mais importantes mesquitas da Faixa de Gaza, bombardeada na véspera pelas forças de ocupação, ou de outros edifícios destruídos como hospitais.

No final do dia, Palestinian Health Ministry, Palestine Red Crescent Society e Israeli Medical Services atualizaram os números de mortos e feridos desde o início dos ataques de Israel, em outubro: 31.045 mortos, entre eles, mais de 13 mil crianças (há mais de 8 mil corpos sob escombros); e mais de 72 mil feridos!
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Fotos (destaque/montagem): Mike Baker (Mark Ruffalo), Kyusung Gong (Billie Eilish), Nick Agro (Ava DuVernay) e Phil McCarten (Ramy Youssef), todas da ©A.M.P.A.S.

Fontes: Oscar 2024, Folha de SP, Instagram

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