Eis mais um caso polêmico envolvendo animais silvestres! Esta semana, o influenciador digital Agenor Tupinambá foi denunciado ao Ibama pela morte de um bicho-preguiça, que criava na fazenda da família, em Autazes, região metropolitana de Manaus, no Amazonas, onde convive com búfalos – a família produz queijo – e outros animais.
Na propriedade, os agentes ambientais encontraram uma capivara e um papagaio e autuaram o rapaz com base no Decreto nº 6.514/2008, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) “por práticas relacionadas à exploração indevida de animais silvestres para a geração de conteúdo em redes sociais”, com multas de mais de R$ 17 mil.
Ele também recebeu duas notificações: uma para “a retirada do conteúdo audiovisual à criação de animais silvestres em ambiente doméstico” (o que já fez), e outra, referente à entrega da capivara ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, em Manaus.
“A legislação brasileira não admite a hipótese de regularizar, junto aos órgãos ambientais, um animal adquirido ou mantido sem autorização. Quem possui animal silvestre em situação irregular, pode realizar sua entrega voluntária ao órgão ambiental competente para evitar penalidades previstas na legislação”.
Agenor ainda não entregou o animal e declarou que vai recorrer da punição. Para tanto, se escora no apoio do público que o segue no Instagram (são 544 mil seguidores!), mas principalmente no de parlamentares como a deputada estadual Joana D’Arc, do Amazonas, e da Câmara de Deputados, em Brasília, como Felipe Beccari e Fred Costa, respectivamente membro e presidente da recém-criada Frente Parlamentar em Defesa dos Animais. O primeiro falou do caso no plenário da Câmara, atacando o Ibama, claro!
Sobre o bicho-preguiça, o influenciador declarou que “todos são testemunhas que só dediquei amor e fiz tudo que podia para preservar sua vida”, mas ela não resistiu.
‘Inquisição virtual’
A punição do Ibama – multas e ‘confisco’ dos animais – foi o que bastou para que o órgão fosse jogado na ‘fogueira da inquisição virtual’. Afinal, Agenor e Filó são amados na rede e fazem a alegria diária de seus fãs desde que a filhote lhe foi entregue, recém-nascida.
Segundo ele, a mãe de Filó foi morta por indígenas, mas eles só se deram conta de que ela estava grávida quando abriram sua barriga. Tiraram a filhote com vida e um primo de Agenor, que acompanhou a caçada e sabia de seu amor pelos animais, a levou para o rapaz cuidar… e adotar.
Por viver numa fazenda, à beira de um rio e com mata à volta, o estudante de agronomia, entende que vive no ambiente ideal para manter e conviver com animais silvestres como Filó.
Mas, como explica o Ibama, na nota de esclarecimento que divulgou à imprensa, “por mais que algumas pessoas queiram cuidar de animais silvestres (…), é necessário entender que eles não são animais domésticos, como cães e gatos. Capivara e bicho-preguiça são animais silvestres. Criar ou manter esses animais em casa é proibido pela legislação brasileira”.
Ou seja, é crime! E o Ibama acrescenta: “É importante salientar que, além de ser crime manter animais silvestres irregularmente, a exposição de espécimes silvestre como pets, em redes sociais, estimula a procura por esses animais, aquecendo o tráfico de espécies da fauna brasileira”.
O perfil colaborativo O Fiscal do Ibama (criado durante o governo Bolsonaro para fiscalizar gestores do meio ambiente, que não representa o Ibama) deixou isso bem claro, hoje, nas redes sociais:
“Não o é porque o animal é bonitinho, os vídeos são fofos e o “tutor” é bonito que vamos aliviar um crime ambiental que estimula o cometimento de outros crimes ambientais. A lei é pra TODOS, do garimpeiro ao tik toker. ANIMAL SILVESTRE tem que ficar LIVRE. E lembrem disto”, se referindo a um meme feito pela Sociedade Brasileira de Primatologia, mas que é valido para qualquer espécie, veja:
Prioridade e posse
Agenor tem mais de 500 mil seguidores e seus posts alcançam milhões de visualizações e compartilhamentos. Ele influencia pessoas de todas as idades, credos, ideologias, que amam os animais, entre os quais muita gente que, como ele, tem o sonho de ser famoso, ganhar visibilidade e também se tornar um influenciador digital.
Portanto, por mais fofos que sejam Agenor e Filó aos olhos dos internautas e que o fazendeiro ame os animais, como diz e demonstra, a lei vale para todos. Não há o que refutar, nem por que criticar a atitude do Ibama.
Nas redes, li comentários nos quais os internautas perguntavam se o órgão ambiental não tinha “coisas mais importantes a fazer” e debochando do fato de tratar o caso de Agenor como prioridade. Oras, incentivo ao tráfico de animais silvestres é uma prioridade, sim!
Em nota pública, divulgada nas redes sociais, a organização Renctas – uma das mais aguerridas na luta contra o tráfico de animais silvestres – declarou seu apoio ao Ibama, dizendo que o órgão “agiu corretamente ao aplicar a legislação ambiental (…) uma vez que se trata da posse de animal silvestre sem a devida autorização legal, não cabendo qualquer tipo de tergiversação sobre essa questão”.
E completou: “O órgão ambiental pode (e deve) sofrer críticas quando deixa de aplicar a Lei e não quando a aplica”. É isso!
Vale tudo… até explorar animais?
Acredito que Angenor não seja mal-intencionado, mas, sim, mal-informado sobre as leis. Também acredito no que diz sobre sempre ter vivido no meio do mato e convivido com animais: “Se tem alguém que mora no habitat natural de alguém sou eu, não os animais. Eu abro a janela e lá estão o rio, a floresta e os animais. Eu que estou de passagem nesse lugar. E escolhi ser um guardião e não um criminoso”.
Mas nada disso o protege da lei e, por consequência, das multas e de perder Filó. E, como salientou o Ibama, sua influência pode levar outras pessoas a comprarem animais silvestres – para também fazerem sucesso nas redes -, incentivando o tráfico. Que bom, portanto, que o assunto está ganhando bastante espaço na imprensa para que, quem desconhece as leis ambientais, tenha oportunidade de ampliar seus conhecimentos e não disseminar inverdades.
Na semana passada, a funkeira Mc Mirella contou, nas redes sociais, que foi mordida e arranhada por Gucci, “seu macaco de estimação”. A preocupação dela era mostrar o ferimento na testa e dizer que o disfarçou superem com maquiagem, mas parte de seus fãs a questionou sobre ter um animal silvestre como se fosse pet. Alô, Ibama!
Destaco aqui, também, o caso da modelo Nicole Bahls (sobre o qual contamos aqui) que todos os dias apresentava, em seu perfil no Instagram – onde tem quase 23 milhões de seguidores! -, o presente que ganhou do namorado: dois macacos-prego em situações variadas como dentro de um berço, usando fraldas e com brinquedos humanos.
Ela foi autuada e os animais apreendidos pelo Ibama e pela Polícia Federal: a documentação apresentada por Nicole era falsificada. Bastante abalada, a apresentadora e influencer gravou vídeo admitindo que errou e alertando que ninguém deve comprar animais silvestres. Bom uso de sua influência.
“Por mais que se acredite estar ajudando um animal silvestre, dando comida e abrigo, é importante entender que essa atitude pode prejudicá-lo, pois reduz sua capacidade de sobrevivência na natureza”, destaca o Ibama. “Animais silvestres também podem transmitir doenças graves para os humanos”. Por isso, “ao encontrar um animal silvestre ferido, deve-se acionar o órgão público competente”.
O destino de Filó
Acostumada ao contato com Agenor e outros humanos, o que vai ser dela em um centro de triagem? Qual seria seu destino? O cativeiro? Ser solta na natureza?
A lei é clara e o correto é que ela seja encaminhada ao Cetas, para ser examinada e posteriormente integrada a uma comunidade de capivaras e outros bichos. Resta saber se a humanização a que foi submetida alterou sua essência de forma a colocá-la em alto risco diante de possíveis predadores na natureza ou a condená-la a viver num recinto controlado.
Neste caso, melhor seria ficar com Agenor, mas abrir essa exceção poderia trazer precedentes incontornáveis, ainda mais com tanta gente querendo ser famoso no mundo virtual, a qualquer custo.
Campanha e comunicação
Imagino que tenha sido tentador demais ficar com Filó, mas o certo seria Agenor tê-la levado a um órgão ambiental assim que a recebeu do primo, antes de se afeiçoar a ela. Sua ignorância a respeito do assunto pode ser um bom álibi, mas agora ele conhece a lei e, daqui pra frente, sua responsabilidade é maior. Não deve ser leviano, nem egoísta.
Em relação ao Ibama, para evitar o ‘massacre virtual’ de que tem sido alvo ou, ao menos, amenizá-lo, poderia fazer campanhas de esclarecimento – na TV, no rádio, em seu site e nas redes sociais – a respeito da proteção dos animais silvestres e do tráfico, que só cresce.
Está mais do que na hora de falar abertamente sobre esse assunto, expandindo os debates para além do Congresso Nacional. E quem sabe seria uma boa ideia convidar Agenor para ser porta-voz dessa campanha, já que ele e Filó estão nas manchetes.
E você? O que pensa sobre a história de Agenor? Que final gostaria que ela tivesse? Conte pra gente, mas sem se deixar levar pelo coração.
Animal silvestre não é pet!
A seguir, leia a nota de esclarecimento do Ibama, na íntegra:
“Por mais que algumas pessoas queiram cuidar de animais silvestres, quando os encontram na natureza, é necessário entender que eles não são animais domésticos, como cães e gatos.
Capivara e bicho-preguiça são animais silvestres. Criar ou manter esses animais em casa é proibido pela legislação brasileira.
Com base no Decreto nº 6.514/2008, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), o Ibama autuou nesta terça-feira (18/04) o influenciador digital Agenor Tupinambá por práticas relacionadas à exploração indevida de animais silvestres para a geração de conteúdo em redes sociais. As multas aplicadas totalizam R$ 17.030,00.
O caso chegou ao conhecimento do Ibama, após a morte de um bicho-preguiça que o rapaz, morador da cidade de Autazes (Amazonas), criava em sua propriedade. No local os agentes encontraram um papagaio e uma capivara. Agenor não tinha autorização legal para manter os animais em sua posse.
Agenor também recebeu duas notificações que determinam a retirada de conteúdo audiovisual alusivo à criação de animais silvestres em ambiente doméstico e a entrega do papagaio e da capivara ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama em Manaus.
É importante salientar que além de ser crime manter animais silvestres irregularmente, a exposição de espécimes silvestres como pets em redes sociais, estimula a procura por esses animais, aquecendo o tráfico de espécies da fauna brasileira.
Por mais que se acredite estar ajudando um animal silvestre, dando comida e abrigo, é importante entender que essa atitude pode prejudicá-lo, pois reduz sua capacidade de sobrevivência na natureza. Animais silvestres também podem transmitir doenças graves para os humanos.
Ao encontrar algum animal silvestre ferido, deve-se acionar o órgão público competente. A legislação brasileira não admite a hipótese de regularizar junto aos órgãos ambientais um animal adquirido ou mantido sem autorização. Quem possui animal silvestre em situação irregular pode realizar entrega voluntária ao órgão ambiental competente para evitar penalidades previstas na legislação”.
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Fotos: reproduções do Instagram
Fontes: Ibama, Renctas, G1, Correio Brasiliense
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