
Pesquisadores, cientistas e estudantes de seis departamentos de pós-graduação da Universidade Federal do Paraná divulgaram uma carta pública de apoio ao movimento SOS Arthur Bernardes, uma mobilização popular contra uma grande obra que está sendo realizada pela prefeitura de Curitiba, que prevê a derrubada de mais de 600 árvores em apenas um trecho do projeto, o lote que envolve o Parque Linear da Avenida Presidente Arthur Bernardes.
Graças aos protestos e manifestações dos moradores da região, que criaram o SOS Arthur Bernardes, o possível impacto ambiental da obra, que traria melhorias para o transporte público da capital, ganhou a atenção da mídia e da sociedade. A prefeitura nega que tantas árvores serão cortadas, mas um dos documentos de licenciamento sobre Projeto Novo Inter 2, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), menciona a extração de 642 árvores adultas, entre elas, algumas araucárias (Araucaria angustifolia), espécie símbolo do Paraná e à beira da extinção.
Na carta divulgada na sexta-feira (22/11), os departamentos dos Programas de Pós-Graduação de Ciência Biológicas, Ecologia e Conservação, Botânica, Zoologia, Sistemas Costeiros e Oceânicos e Genética da UFPR, enumeram uma série de razões pelas quais eles apoiam a luta do SOS Arthur Bernardes.
Segundo o texto, a prefeitura de Curitiba teria desenvolvido o projeto sem efetivamente ouvir os diversos setores atingidos pelas obras e os especialistas da universidade, que possuem enorme conhecimento sobre a questão. Além disso, os acadêmicos afirmam que o Novo Inter 2 não apresentou estudos mostrando que foram consideradas diferentes propostas para evitar os impactos ambientais e sociais da obra, tanto a curto como a longo prazo.
“O projeto não leva em consideração que o corte de mais de 600 árvores adultas, apenas no Parque Linear da Arthur Bernardes, reduz os serviços ambientais e ecossistêmicos prestados de graça por esta área verde. Quem pagará o serviço de redução da temperatura e aumento da umidade relativa do ar? O serviço de redução das emissões do gás carbônico que agravam as mudanças climáticas? O serviço de rápida absorção de água das chuvas para evitar enchentes? O serviço de redução dos níveis de ruído do trânsito e poluição sonora urbana? O trabalho das aves de reduzir as populações de insetos vetores de doenças e pragas? O trabalho dos insetos, aves e morcegos de polinizar os nossos jardins e hortas?”, questiona a carta.
Ao final, os pesquisadores solicitam a interrupção imediata das obras e uma ampla discussão com a população, “mediante os necessários estudos de risco e de custo-benefício que aparentemente não foram realizados.”

Foto: @by.doug/@cicloativismo
Recentemente, após a polêmica ganhar maior repercussão, membros do SOS Arthur Bernardes foram chamados para uma reunião no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), mas nada foi realmente acordado. Representantes do governo afirmaram que nenhuma derrubada de árvores será realizada até o começo do ano e um novo encontro seria agendado.
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Foto de abertura: Gustavo Jordaky